De há um mês a esta parte assistimos diariamente na televisão a convulsões sociais e quedas de regime no norte de África. Tudo começou na Tunísia com um episódio que inicialmente não se previa que origina-se a queda de um regime de cerca de 30 anos. O suicídio de um jovem no desemprego levou à queda do ditador que dirigia a Tunísia há 23 anos. Mohamed Bouazizi é o mártir de uma revolução inédita no Norte de África. Mohamed Bouazizi teria pouco mais de 20 anos e era um apaixonado pelas novas tecnologias. Porém estava no desemprego, já que na Tunísia, como em outros tantos países, não são as qualificações ou o mérito que determinam o sucesso. É antes o nome, o casamento ou a filiação partidária. No desemprego, Bouazizi vendia frutas e legumes nas ruas da sua cidade para alimentar a família. Mas não tinha a necessária licença de comércio, difícil de obter no labirinto da burocracia e corrupção tunisina. A 17 de dezembro de 2010, a polícia agrediu e confiscou-lhe a banca e a balança. Nesse mesmo dia tentou regularizar a situação. Não conseguiu! Com o dinheiro que restava, comprou um litro de gasolina. Despejou o combustível sobre a cabeça e imolou-se pelo fogo. Com ele, incendiou a revolta dos tunisinos. A notícia do radical protesto foi censurada pela imprensa estatal, mas a história espalhou-se pelas redes sociais da Internet, como o Facebook, o Twitter e o YouTube. Milhares de jovens desempregados começaram a sair às ruas. Alguns seguiram o exemplo de Bouazizi e cometeram suicídio pelo fogo!

Este não foi mais um ataque suicida num país árabe. Foi um rastilho de pólvora contra um regime ditatorial que existia, apesar de todas as clivagens sociais, com a anuência do Ocidente. Porém, o suicídio do anónimo Mohamed Bouazizi provocou não só a queda desse regime ditatorial tunisino, como mais revoluções sociais e quedas de regime na Jordânia, Egito, Síria, Iémen. Enfim, provocou uma autêntica convulsão social nos países do Magrebe. À primeira vista, podemos ficar contentes por estas revoluções deitarem por terra longos regimes ditatoriais, que oprimiram o povo durante décadas. Mas não podemos ficar descansados! Em todos esses países, os partidos extremistas islâmicos, para além de incentivarem os mais desfavorecidos à revolução social, aguardam ansiosamente por uma oportunidade para, através do voto legítimo do povo, chegarem ao poder. O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, já prestou declarações, onde sob uma aparência de benfeitor e defensor dos direitos dos oprimidos, veio promover isso mesmo. E no caso concreto do Egito é a Irmandade Islâmica que esta a promover a quebra do recolher obrigatório, e a incentivar à revolução do Povo, para que após a queda do governo de Hosni Mubarak os extremistas islâmicos possam chegar ao poder.

Numa Palavra, as revoluções nos países do norte de África e Magrebe, podem ser uma ótima oportunidade para a instauração de regimes democráticos naquela zona do globo. Mas também pode ser a oportunidade desejada à muito, para que o extremismo islâmico tome conta do poder, em países próximos geograficamente da Europa.

Miguel Neto