No Dia Mundial das Comunicações Sociais, somos chamados a refletir sobre o papel central que os meios de comunicação desempenham na construção da verdade, na promoção da justiça e na formação de comunidades. Para a Igreja Católica, esta data é, também, um convite a aprofundar a sua missão de cristianizar o ambiente digital e a contribuir para uma comunicação social que seja livre, isenta e acessível a todos.
Vivemos num tempo em que a comunicação é simultaneamente a maior aliada e o maior desafio da democracia. A manipulação, a desinformação e a sobrecarga de dados são fenómenos que corroem a confiança nas instituições e nos próprios meios de comunicação. Como Igreja, cabe-nos questionar: estamos a testemunhar a fé e a verdade de maneira coerente neste espaço digital em constante transformação? E mais: como podemos contribuir para uma comunicação mais justa, inclusiva e promotora do bem comum?
O ambiente digital não é apenas uma ferramenta – é um espaço de vida, onde milhões de pessoas buscam sentido, comunidade e respostas. A Igreja não pode permanecer ausente deste “areópago digital”. Como recorda o Papa Francisco, “as redes sociais são uma nova praça pública”, um lugar onde as pessoas se encontram, mas também onde são frequentemente expostas à polarização, ao ódio e à manipulação.
É imprescindível que os cristãos estejam presentes de forma responsável, testemunhando os valores do Evangelho. Mas esta presença exige competências concretas: uma literacia mediática que nos permita discernir a verdade, face à desinformação, criar conteúdos que promovam a dignidade humana e dialogar com respeito e empatia. Cabe à Igreja formar missionários digitais – leigos e clérigos – que sejam, não apenas consumidores, mas, também, produtores de uma comunicação ética e transformadora.
Ao mesmo tempo, não podemos ignorar a profunda crise que os meios de comunicação social enfrentam. O subfinanciamento crónico, a falta de delegações regionais e a centralização das redações nas grandes cidades criaram um fosso entre a comunicação social e a realidade do país. Quem vive fora dos grandes centros urbanos sabe o que é sentir-se invisível para os órgãos de comunicação social, a não ser como objeto de notícias pontuais e pitorescas. Os próprios órgãos de comunicação regionais nem sempre têm a capacidade e a assertividade para tomar o rumo mais certo para a sua manutenção e desenvolvimento, bem como para assumirem uma postura totalmente independente e profissional.
Esta desconexão é um perigo para a democracia. Um país mal informado é um país vulnerável à manipulação política, ao populismo e à polarização. Quando partidos políticos promovem desconfiança nos meios de comunicação e incentivam as pessoas a obterem “notícias” exclusivamente nos seus canais oficiais, estão a enfraquecer, deliberadamente, o jornalismo livre e a abrir caminho para a desinformação.
Por outro lado, o próprio jornalismo precisa de se reinventar. Há décadas que se alerta para o perigo de uma comunicação elitista, distante das tascas, dos subúrbios, das aldeias e das cidades do interior. É urgente que os jornalistas saiam da sua zona de conforto, regressem às ruas e ouçam o que o país real tem para dizer – não apenas durante as campanhas eleitorais, mas ao longo de todo o ano.
Neste contexto, a Igreja tem um papel crucial a desempenhar. Não apenas como promotora de uma presença digital autêntica, mas também como defensora de uma comunicação social verdadeiramente livre, isenta e inclusiva. A missão de “cristianizar o digital” não se limita a evangelizar através das redes. Trata-se, igualmente, de denunciar as injustiças no acesso à informação, de apoiar iniciativas que promovam o jornalismo local e de educar os fiéis para uma utilização ética e crítica dos meios de comunicação.
A Igreja, enquanto comunidade global, tem a capacidade de criar pontes entre diferentes realidades e de dar voz aos que não têm voz. Isto implica formar cristãos capazes de combater a desinformação, promover o encontro e criar espaços de diálogo inclusivo. Num mundo onde a comunicação é tantas vezes usada para dividir, a Igreja é chamada a usá-la para unir.
Sem uma comunicação social forte, não há democracia forte. A credibilidade e o financiamento adequado dos meios de comunicação devem ser prioridades políticas e sociais. Mas esta não é uma responsabilidade exclusiva dos governos ou das empresas mediáticas. É uma causa que deve mobilizar todos os cidadãos, incluindo os cristãos.
Precisamos de promover uma comunicação que valorize as pessoas, independentemente da sua localização geográfica, classe social ou crenças. Precisamos de jornalistas que não tenham medo de sair das redações e de dar rosto às histórias reais. E precisamos de uma Igreja que seja exemplo, testemunho e voz ativa na luta por uma comunicação mais justa e mais humana.
Neste Dia Mundial das Comunicações Sociais, renovemos o nosso compromisso com a verdade, a justiça e a dignidade humana. Que os cristãos sejam sal e luz, também no ambiente digital e que a Igreja continue a ser um farol de esperança num mundo que tanto precisa de diálogo, encontro e comunhão.
Sem um jornalismo forte, a democracia será sempre fraca. Sem uma presença cristã autêntica no digital, a Igreja estará a perder uma das maiores oportunidades missionárias do nosso tempo.