“Alianças partidas” é o título de um livro recentemente publicado pelas edições Paulinas, de autoria do Padre Manuel Joaquim Rocha, canonista, Vigário Judicial da Diocese de Aveiro e que alia à ciência matrimonial canónica aprendida na Pontifícia Universidade de Salamanca, a experiência de Prior de uma paróquia urbana da Veneza portuguesa e ainda a magistratura judicial no Tribunal Eclesiástico da sua Diocese. Trata-se de uma pequena mas interessante obra, dirigida ao público em geral, e que pode ser muito útil para ajudar os católicos que se deparam com problemas matrimoniais, mais concretamente os divorciados “recasados” civilmente, ou ainda aqueles que vivem em união de facto. Há muita gente que vive dolorosos dramas de consciência e poderá encontrar ajuda, orientação e luz nas quase 170 páginas deste “livro de bolso” mas que é uma pequena preciosidade prefaciada pelo Bispo de Aveiro D. António Francisco dos Santos.
Na introdução, o autor começa por lamentar que nem todos possam viver em plenitude a comunhão eclesial porque «não puderam suportar o calor, o peso do dia ou o ardor da carne», citação que retira de uma belíssima oração de bênção para um segundo matrimónio (não sacramental) da Igreja Ortodoxa, traduzida e divulgada no Ocidente pelo grande Teólogo Moralista, Padre Bernard Haring, um dos expoentes do II Concílio do Vaticano e que também reflectiu maduramente sobre esta pertinente questão que a tantos atormenta. Não resisto a transcreve-la, porque ela dá o tom de abertura que perpassa por toda a obra: «Senhor Jesus Cristo, Tu és o Logos de Deus e foste exaltado na cruz venerável e vivificante, que pagaste as nossas dívidas e nos resgatastes do poder do demónio, perdoa as faltas dos teus servos que, não podendo suportar o calor, o peso do dia e o ardor da carne, acedem juntos a um segundo matrimónio como Tu mesmo ordenaste, através do cálice da tua eleição ao apostolo Paulo: é melhor casar-se do que ficar abrasado. Tu, Senhor bondoso, que amas os homens, compadece-te e perdoa, limpa e afasta as nossas faltas; porque foste Tu que carregaste com os nossos crimes já que ninguém, além de ti, está sem pecado ou culpa. A ti, Deus dos penitentes, nós te damos glória e louvor».
Além da introdução, o livro desenvolve-se ao longo de seis capítulos: Um olhar pela família que temos (e que somos); Matrimónio, um caminho a dois; Uniões matrimoniais irregulares ou situações irregulares; Os divorciados recasados nos documentos da Igreja; Três testemunhas a merecerem um certo destaque, o já referido Bernard Haring, Monsenhor Le Bourgeois, Bispo de Autun, em França (por coincidência ou talvez não, a Diocese em que se situa Taizé) e Michel Legrain, Moralista e Professor no Instituto Católico de Paris, conselheiro matrimonial nos Centros de Preparação para o Matrimónio; Ofícios e ministérios (na Igreja) dos divorciados recasados; conclusões e perspectivas e ainda um apêndice onde o autor apresenta o caminho processual de uma causa de nulidade matrimonial nos Tribunais eclesiásticos e uma sentença, onde apresenta um caso prático que cobre várias das mais frequentes hipóteses que se apresentam com frequência nos nossos Tribunais, concluindo com o testemunho de um “casal numa situação irregular” envolvido na vida da Igreja. Esta é uma obra que recomendo vivamente a quem viver situações matrimoniais não reconhecidas pela Igreja, pois nela poderão encontrar, não só pistas de reflexão, mas principalmente vias de solução.
O autor deste artigo não o escreveu ao abrigo do novo Acordo Ortográfico