LAGOS volta sempre aos descobrimentos, porque esta antiga vila, que o rei D. João III, bem achou, em documento datado de Évora, no dia 25 de Agosto de 1535, conceder à terra de Gil Eanes e ao pioneiro da nossa NASA, o Infante D. Henrique, o título de Vila Notável.
Lagos só chegou à categoria de cidade, quando D. Sebastião, em visita pelo reino do Algarve, visita a vila de Lagos, a 19 de Janeiro de 1573. Mas foi na cidade de Silves, no seguimento da viagem, pelas terras do Algarve, onde chegou a 27, sendo na, ainda cidade, capital da diocese do reino do Algarve, que o jovem rei D. Sebastião assina a elevação de Lagos à categoria de cidade, a 4.ª cidade do Algarve. Será oportuno traçar o relato da chegada de D. Sebastião, em vésperas de a elevar a cidade.
Conta o cronista que acompanhou a real visita, João Cascão, que na Segunda-feira, 21 de Janeiro 1573, chegou el-rei a Lagos, pela chamada Porta de Portugal, aonde lhe tinham um pálio de veludo carmezim, havendo que por vila notável, podia seguir a ordem das cidades. El-Rei entrou pela rua Nova, que é larga e bem assombrada e estava bem cheia de móvel; havia por ela infinidade de gente, tanta que não havia porta, nem parede, nem barco no rio que não estivesse cheio e dizem que de todo Algarve acudiu aqui gente.
Esta terra de Lagos foi a de mais demora que Sebastião fez, tanto pelo peso da sua história, como primeiro sítio do início das descobertas, visitando todo o poiso que o Infante D. Henrique fez pela Notável vila reconhecida pelo seu avô.
Decorridos 476 anos, pouco se tem referenciado à distinção que o rei Piedoso fez à terra, donde à sua bela baía fundeou, no verão de 1415, a esquadra de D. João I e dos seus filhos, nesse sonho que fez a diferença europeia à sua modernidade.
D. João III reconheceu-lhe essa notabilidade em homens notáveis que se distinguiram pela África, Ásia, Américas. E… também, internamente.
Sérgio Rodriguez Lourenzo, professor de história da América, na Universidade de Sevilha, em 2003, confirmava a importância de todo o Algarve, onde Lagos seria o maior estaleiro do mundo, no comércio internacional das caravelas: A partir de la segunda mitad del siglo XVI, la Carrera de Índias precisó buques de mayor tonelaje (…) la Casa de la Constratación y el Consulado de Sevilla , pues era opinión común considerar al Algarve como Lagos el centro del mayor vivero mundial de carabelas (1).
Reparamos que Lagos (como todo o Algarve) fornecia, em mão de obra especializada, a ciência náutica para as grandes rotas das Américas, Ásia e, sobretudo, Índia.
FOI TODO UM CONJUNTO DE OBREIROS QUE CRIOU UMA AUTOESTIMA NACIONAL QUE, NOS TEMPOS CORRENTES, TRAZEM À MEMÓRIA ESSES RECONHECIMENTOS PERDIDOS, MAS INDISPENSÁVEIS.
Por isso, nestes tempos de recuperação áurea, da nossa história regional, que fez o orgulho nacional e a admiração do mundo, lembrar a distinção régia de Vila Notável de Lagos, não é mais que recuperar o que a cidade do Porto não esquece, e que, sem ser considerado abusivamente a Invicta está sempre actual. Eis a diferença!
1) El Algarve y la Carrera de Índias – 2003
Sérgio Rodriguez Lourenzo