Quem se deixar levar pelos primeiros impulsos, pelas primeiras impressões, quaisquer que sejam as circunstâncias em que se encontrar, está sujeito a cometer erros irreparáveis.

Por isso é que quando nos acontece algo de desagradável e ofensivo, ainda que apenas subjectivamente, a nossa primeira reacção, muitas vezes, é irracional, levando-nos, por isso mesmo, a cometer graves injustiças e a praticar terríveis vinganças.

Se, porém, nos contivermos, verificaremos que o tempo é um dos bons conselheiros que nos levará a dar às coisas a sua verdadeira dimensão, a sua autêntica importância.

Quando agimos em cima dos acontecimentos, sem reflectirmos maduramente sobre a realidade dos factos, somos impelidos a exagerar e consequentemente a cometer todos os excessos.

Realmente, quantos actos de vingança, quantas mesquinhezas podíamos evitar se fôssemos homens de reflexão ou, como diz o povo, soubéssemos consultar o travesseiro.

E o pior de tudo ainda é quando se intrometem os amigos a espicaçar os ânimos, a deitar mais lenha no lume e a dar mais gás à fervura!…

Nestes casos, aumenta a tensão e originam-se situações de tal modo graves que provocam ódios de morte.

E tudo poderia ter sido resolvido com uma conversa serena, na qual cada um falaria da sua justiça, apresentaria as suas razões ou, se fosse caso disso, assumiria corajosamente a responsabilidade pessoal pelos danos que porventura causara ao outro, repondo, deste modo, as coisas nos seus devidos lugares e tudo ficaria encerrado com dignidade e justiça.

Pena é que a obstinação nos conduza, tantas vezes, a atitudes irredutíveis, com graves prejuízos de toda a ordem!…

Nestas circunstâncias, confundimos a razão com a teimosia esquecidos que o importante não é vencer nem convencer o outro, mas reconhecer a realidade dos factos, assumindo a única atitude digna de um Homem que consiste, precisamente, em colocar a Verdade acima de todas as conveniências pessoais e ser capaz de dar o braço a torcer como diz e bem o nosso povo e, deste modo, se dignifica mais do que persiste em teimosias que não levam a parte nenhuma, antes pelo contrário, o desprestigiam sob todos os pontos de vista.

Ao mesmo tempo, um procedimento deste jeito é sinal de um auto-domínio que traduz e significa, igualmente, um estado de alma a viver a praticar a mais sólida virtude da serenidade.

Quer isto dizer que a serenidade segue na linha daquela célebre bem-aventurança que se chama mansidão e com a qual o homem consegue conquistar, a par dos dons deste mundo, a boa vontade e a simpatia do seu próximo.

São, pois, bem evidentes as vantagens que advêm aos que se esforçam por praticar, em todas as circunstâncias, a virtude da serenidade!…

Joaquim Mendes Marques

O autor deste artigo não o escreveu ao abrigo do novo Acordo Ortográfico