E era aqui que eu queria chegar.
O tríduo pascal, depois de ter passado pelas trevas da paixão e morte do Salvador, explode no esplendoroso aleluia da ressurreição. Três dias após ter dito "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito" (Lc. 23, 46), na madrugada do Primeiro Dia, o túmulo estava vazio – "Porque buscais entre os mortos Aquele que vive? Não está aqui, ressuscitou!" (Lc. 24, 5-6).
Ao longo das catequeses foi-nos ensinado esperar pela ressurreição do último dia. Até lá, como "salas de espera", havia vários lugares – o inferno, o purgatório, o limbo… Até o céu era lugar onde se esperava pela ressurreição final.
E hoje? Hoje há a novidade das "coisas últimas", que aprofundam e fazem resplandecer uma nova evangelização, uma outra maneira de entender e de nos deslumbrarmos com as palavras que, podendo ser as mesmas, têm um novo sentido, uma outra verdade.
Na modernidade dos nossos dias, para além do que nos ensinaram ser apenas o voltar a viver, o tornar a ter vida, o que é ressuscitar? O Pe. Vasco Pinto de Magalhães diz que "ressuscitar é a ação do amor vivo e presente em nós. O amor criador é também ressuscitador; (…) é ele que dá sabor à vida e revela a verdadeira vida escondida, desde já, na opacidade do nosso olhar e nos egoísmos mortais do nosso agir. Ressuscitar é também o exercício de ver e participar no mais fundo da vida que anda aí de braço dado connosco, invisível. (…) é ir para além das nossas mortes e encontrar o tesouro dos pequenos nadas e compreender que os vazios estão cheios de graça".
Por esta novidade ficamos a saber que ressuscitar é um exercício de vida, uma prática de amor, um rasgar do véu que não nos deixa ver os nossos egoísmos, é participar na vivência e no sentir dos outros, andar de mão dada com a vida, saltar por cima das nossas mortes (vícios, erros, faltas, doenças, tristezas e lágrimas), até por cima das nossas fomes e das nossas sedes, na certeza de serem saciadas no jorro de água viva do Ressuscitado.
Apesar de todas as aleluias deste ressuscitar, de uma vida ressuscitada, a todo o momento, em cada alegria, em cada gesto de amor, em cada respiração, apesar da ressurreição ser tudo "isso que já nos está a acontecer de estarmos continuamente a passar para Deus", e de já participarmos da vida eterna concedida pelo batismo, no qual já ressuscitámos como iniciados da salvação, é-nos lícito e lógico fazer a pergunta: mas, concretamente, dado que estamos ainda condicionados ao espaço e ao tempo, quando é que acontece a Ressurreição? Mais uma vez me sirvo da resposta do Pe. Vasco: Acontece "na hora da nossa morte, no encontro com Deus que é ressuscitante. (…) Na morte, ressuscito! É a minha ressurreição individual, a ressurreição pessoal".
É isso que lá está, na narração da Paixão, quando o bom ladrão suplica: "Jesus, lembra-te de mim quando estiveres no teu reino", e Cristo responde: "Em verdade, em verdade te digo: Hoje estarás comigo no paraíso." (Lc, 23, 42-43)
Hoje, hoje mesmo. O encontro está marcado para esse momento.