Neste tempo pascal, a nossa alegria é toldada por alguns acontecimentos que não podem deixar de nos entristecer e preocupar. Não esqueço os cristãos de Vila Chã do Marão, no concelho de Amarante, que durante a Via Sacra de Sexta-feira Santa, viram as suas vidas ceifadas por um automóvel que em excesso de velocidade matou três pessoas, deixou várias feridas, algumas em estado grave e acabou com a festa da Páscoa daquela boa gente da serra do Marão. Penso no sofrimento dos familiares e amigos, que assim abruptamente ficaram privados do convívio daqueles que partiram; penso no jovem que conduzia aquela viatura e que agora vai carregar para sempre com o peso de uma responsabilidade enorme, e que no pequeno ambiente de uma aldeia vai ficar marcado com a culpa daquela tragédia; penso no Pároco que no seu dinamismo pastoral tomou a iniciativa de pela primeira vez realizar aquela Via Sacra nocturna e foi surpreendido pelo infortúnio e pela morte…

Penso também no nosso País e na vergonha porque está a passar, mais uma vez, por ter de estender a mão ao apoio financeiro internacional, porque irresponsavelmente viveu durante muitos anos acima das suas posses e se endividou até ao limite de o Estado já só ter dinheiro para dois meses…; penso na vergonha que é o País estar de mão estendida perante os seus credores, sujeito à chacota de outros Países que até querem bloquear o empréstimo, de termos os olhos de toda a gente postos em nós e de apesar disso o Governo ter dado tolerância de ponto na Quinta-feira Santa da parte da tarde aos funcionários públicos. Para um País que está na banca rota, um fim de semana tão prolongado, sem trabalhar de 21 a 25 de Abril inclusive, não deixa de ser um mau sinal e uma má imagem que se dá ao estrangeiro… O País chegou onde chegou, por causa de decisões deste tipo, que durante décadas foram sendo tomadas por sucessivos governos apenas para agradar aos grupos de pressão, às corporações, aos interesses instalados…

Mas, por falar em 25 de Abril, devo dizer que gostei do figurino que o Presidente da República concebeu para a celebração deste ano. Não podendo as celebrações terem lugar na Assembleia da República como habitualmente, por o Parlamento estar dissolvido, não podia haver melhor sede para as comemorações da Revolução do que a Presidência da República e foi muito feliz a ideia, de num contexto de crise tão profunda, convidar todos os antigos Presidentes da República para usarem da palavra em momento de tanta solenidade. Cada um no seu estilo próprio, que até foi agradável recordar, disseram de sua justiça e apelaram ao bom senso dos actuais protagonistas políticos. Só podem falar assim, homens que já estão por cima das pugnas eleitorais, que não dependem dos votos e que não têm que agradar aos grupos, às facções e aos interesses. Portugal vive uma hora muito grave e difícil e certos dirigentes partidários parece que não têm consciência disso ou fazem de conta…

Mas no meio de todas estas tristezas morais, com consequências materiais na vida de muitos portugueses que vivem dias difíceis e apertados, a Páscoa deste ano traz-nos uma alegria renovada, que vai ter uma razão acrescida de festa e de júbilo na Beatificação do Papa João Paulo II, que ocorrerá no próximo Domingo em Roma. No II Domingo da Páscoa, no culminar da oitava da Páscoa, no Domingo da Divina Misericórdia por ele assim instituído, João Paulo II vai ser beatificado, e a Igreja, apenas seis anos após a sua morte, vai corresponder ao pedido dos fiéis durante o seu funeral: "Santo Subito", Santo já!". Corações ao alto! Dêmos graças ao Senhor nosso Deus!

Luís Galante

O autor deste artigo não o escreveu ao abrigo do novo Acordo Ortográfico