A Revelação pública exige a nossa fé, porque, nela, nos fala o próprio Deus, por meio de palavras humanas e pela mediação da comunidade viva da Igreja. Vale a pena deixar aqui, a propósito, esta bela síntese do Concílio Vaticano segundo: «A Deus que revela é devida a obediência da fé; pela fé, o homem entrega-se total e livremente a Deus, oferecendo a Deus Revelador o obséquio pleno da sua inteligência e da sua vontade, e prestando voluntário assentimento à sua Revelação». (DV5).
2 – Estas exigências de fé, em relação à Revelação pública, não se aplicam àquelas revelações acontecidas no decurso dos tempos a algumas pessoas particulares. Estas, como diz o próprio adjectivo qualificativo, são revelações particulares, para distinguir da única Revelação pública que parte de Deus e chega até nós pelas vias que só Deus escolhe. Por isso, não devemos dar crédito a todas as possíveis revelações particulares. O grande critério sobre a verdade destas revelações consiste na sua orientação para o próprio Cristo, plenitude da Revelação divina. Se, porventura, uma revelação particular se afastar deste critério, certamente não vem do Espírito Santo.
Mas, a referência a este critério não nos dá, automaticamente, a certeza de que determinada «revelação» venha de Deus. De facto, muitas vezes, nesta matéria, invoca-se o nome de Deus em vão, com o intuito de fazer passar, «por lebre», aquilo que não passa de «gato». Daqui, a grande prudência da Igreja, quando tem de discernir sobre a verdade de algum acontecimento particular, pretensamente, revelador das coisas de Deus.
Uma revelação particular, quando autêntica, pode ajudar a fé; e pode manifestar-se credível, enquanto orienta para a única revelação pública. Nunca poderá conter algo que contradiga a fé e os bons costumes. Mas, o juiz definitivo do assentimento a dar a tais revelações, não se pode impor por si; carece do «aval» da Hierarquia da Igreja à qual está confiada a guarda autêntica da verdade revelada e o discernimento das coisas de Deus.
*Bispo Emérito do Algarve