Amanhã, dia 9 de Julho de 2011, será proclamada a independência do Sudão do Sul, que assim passará a ser o mais novo país do mundo. Trata-se de um país mártir que viveu uma longa e dolorosa guerra civil, que durou mais de vinte anos e provocou mais de dois milhões de mortos e seis milhões de refugiados. Tudo isto porque o Norte do Sudão, com a capital em Cartum é constituído por uma maioria de população de origem árabe e religião islâmica e no Sul o povo é maioritariamente cristão e animista. Ao fim de mais de vinte anos de guerra civil, teve lugar no passado mês de Janeiro um referendo que se pronunciou de forma esmagadora pela divisão do País em dois Estados, passando a partir de amanhã a existir duas Repúblicas: o Sudão do Norte, árabe e islâmico e o Sudão do Sul, cristão e animista. O dia 9 de Julho de 2011 será um dia histórico para os sudaneses do Sul que verão reconhecida a sua independência.

Em boa verdade, nada disto deveria estar a acontecer. O Sudão deveria continuar a ser um só Estado, tal como hoje a Alemanha é só uma e como se espera que em breve a Coreia também venha a ser uma só. Porém, tal é impossível, pois os governantes de Cartum sentem-se no direito de impor à força e com recurso à violência as suas opções religiosas às populações não islâmicas que são maioritárias a Sul, não respeitando as diferenças, nem tolerando outras crenças que não sejam as suas.

Apesar de a guerra civil ter terminado em 2005 e de todo o empenho da comunidade internacional, nomeadamente do ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, no Sul do Sudão continuam a existir milhares de pessoas em fuga e os combates prosseguem com grande violência, especialmente na Região de Abyei, num último esforço por parte dos árabes-islâmicos que não querem a independência e apostam em dominar e subjugar os cristãos e animistas, ou pelo menos manter Abyei sob a soberania do Norte.

Os agentes do ACNUR no Sudão informaram recentemente que Abyei foi praticamente esvaziada. Um terço das cabanas tradicionais foram queimadas. Outras foram saqueadas e destruídas, ficando sem teto, portas e janelas e alguns camiões carregados de objetos saqueados foram vistos a deixar a cidade. A Região de Abyei situa-se na zona de fronteira entre o Norte e o Sul e tornou-se numa zona disputada devido à sua capacidade de produção de petróleo, razão pela qual o regime de Cartum não quer abrir mão da cidade e tudo faz para a manter no Norte, mesmo contra os acordos internacionais que subscreveu.

Através da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, que muito tem apoiado os cristãos do Sudão, chegam-nos pedidos de oração para esta hora difícil. Vamos corresponder, rezando, especialmente nestes dias, pela paz e reconciliação no Sudão, ainda que, lamentavelmente, tal tenha de passar pela divisão em dois Estados separados.

Que São Daniel Comboni, Bispo Missionário que deu a vida pela evangelização da África e morreu no Sudão e Santa Josefina Bakhita, primeira Santa Sudanesa, natural do Darfur, juntamente com o Beato João Paulo II que foi um grande defensor da liberdade religiosa no Sudão, sejam nossos intercessores junto de Deus, pela paz e pela liberdade religiosa para o pobre e martirizado povo do Sudão.

Luís Galante