A Junta de Freguesia da Baixa da Banheira realizou um concurso entre as crianças do ensino básico para selecionar uma frase para os postais de Natal e a frase escolhida foi “comida para todos em 2012”. Eis um desejo muito justo que muitas crianças expressaram, certamente porque já sentem fome em casa.

Infelizmente esta é uma situação que não está circunscrita apenas a uma Região, como por exemplo o Distrito de Setúbal ou o Vale do Ave, o que já de si seria grave e preocupante, mas é uma infeliz e triste realidade um pouco por todo o País. Os casos que no Algarve têm chegado à análise do Fundo Social Diocesano não deixam dúvidas de que na nossa Região existe fome e graves carências básicas. Isto mostra bem o quanto é importante a ação do Banco Alimentar contra a fome, que reúne alimentos e os distribuiu por toda a população carenciada, esteja ele onde estiver, seja ela quem for.

Que os alunos do ensino básico da Baixa da Banheira manifestem preocupações alimentares ao ponto de desejarem “comida para todos em 2012” não nos admira nem surpreende quando sabemos que também aqui no Algarve existe fome entre os estudantes, inclusivamente entre os universitários. Na semana passada o presidente da Associação Académica da Universidade do Algarve denunciou que há estudantes com fome na nossa Universidade e que já começaram a ser distribuídos cabazes com alimentos e roupas. Há estudantes que correm o risco de não conseguir acabar o curso porque perderam o direito à bolsa de estudos e por isso passam fome, não podem comprar livros nem fazer fotocópias. Confrontada com esta lamentável realidade a Associação Académica promoveu a distribuição de cem cabazes de alimentos roupas e vales de fotocópias, cabazes que foram constituídos a partir de donativos de outros estudantes. Curiosamente tais cabazes podem ser levantados fora da Universidade, no Centro de Apoio aos Sem Abrigo de Faro, porque a pobreza envergonhada a isso obriga. Em declarações à Agencia Lusa o Administrador dos Serviços de Ação Social da Universidade reconheceu que os atuais limites orçamentais “não permitem uma efetiva ajuda aos estudantes”.

É curiosa esta constatação dos “limites orçamentais” quando o Estado andou durante anos num despesismo desenfreado, gastando onde não devia e quando não podia. Só para dar um exemplo e para não sair do setor da educação, recordo que o Estado gastou milhões de euros a distribuir computadores “Magalhães” às criancinhas do ensino básico e agora alega “limites orçamentais” para assegurar o normal funcionamento da ação social escolar. O Estado andou a promover luxos quando não tem para assegurar o essencial. Já sei que aqueles que promoveram a distribuição dos computadores “Magalhães” dirão que os computadores são importantes para desenvolver as capacidades inteletivas dos estudantes. Admito que sim, mas quem não tem pão para dar aos filhos não lhes pode dar computadores… e aqueles que vão para o Governo devem governar o País como um “bom pai família” e nenhum pai se põe a comprar computadores ou outros bens não essenciais quando a carteira é curta para comprar pão.

O Estado tem limites orçamentais, sabem-no os atuais governantes, mas é bom que não o esqueçam nem os atuais nem os futuros governantes, pois não podemos andar sempre, ciclicamente, a cortar nos salários e a aumentar impostos e taxas para reequilibrar as contas públicas. O Estado tem que ser governado, agora e sempre, com parcimónia, frugalidade, poupança e racionalidade, com seleção das prioridades sociais e quando não há dinheiro para a ação social educativa não se podem dar computadores, quando não há dinheiro para os medicamentos e a saúde, não se podem construir novos aeroportos e TGV’s. Os governantes devem ter critérios e prioridades verdadeiramente sociais para que a crise social que estamos a viver não volte a repetir-se com esta dimensão extrema e haja sempre comida para todos.

Luís Galante