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Foto © Samuel Mendonça

No Domingo de Páscoa realizou-se em Loulé a Festa Pequena em honra de Nossa Senhora da Piedade, popularmente conhecida como Mãe Soberana, e que constitui o ponto de partida daquela que é considerada a maior manifestação religiosa a sul do Tejo: a Festa Grande, que decorrerá no próximo dia 10 do próximo mês.

Acompanhados por uma multidão e pela banda da Sociedade Filarmónica Artistas de Minerva, os homens do andor subiram à colina sobranceira à cidade onde se encontra implantado o santuário mariano de maior expressão no Algarve para vir buscar o andor com a Pietá algarvia, onde a comunidade já se encontrava a fazer a recitação do rosário.

“Não sabemos viver este tempo da Páscoa do Senhor ressuscitado sem o exemplo de Maria. Queremos viver este tempo pascal com esperança, por isso precisamos de ter a Nossa Senhora perto de nós. Queremos tê-la nestas semanas mesmo junto das nossa casas, mas mais bem perto do nosso coração. Por isso, hoje é um dia extraordinário de alegria e de festa porque vamos conduzi-la da sua casa, do seu santuário, às nossas casas, à nossa cidade, para que ela olhe a todos, não sobre o monte, mas na planície”, afirmou o padre Carlos de Aquino, pároco de Loulé, no final da oração do terço.

Após a sua recitação na nova igreja do santuário, o sacerdote dirigiu-se à antiga ermida com os homens do andor que diante da imagem de Nossa Senhora com o seu filho morto nos braços se ajoelharam para a oração que o sacerdote realizou, pedindo para eles a intercessão da Virgem. Seguiu-se a prece feita por um dos homens do andor em nome de todos os outros, na qual pediu, sobretudo, a proteção maternal de Nossa Senhora e a sua intercessão por todos aqueles que vivem situações de sofrimento.

Teve início então a descida em passo acelerado com o andor até à igreja de São Francisco, no centro da cidade, participada também pelo padres António Manuel Martins e Nelson Rodrigues e pelos diáconos Albino Martins e José Chula. Ao esforço dos homens oito homens, vestidos de calças e opas brancas, que transportaram a imagem, aliou-se a força espiritual dos fiéis que, em vivas inflamadas a Nossa Senhora da Piedade e aos homens do andor, na cadência musicada dos homens da banda, «ajudaram» a trazer o pesado andor da padroeira até à igreja onde foi recebido com palmas por uma multidão que já o aguardava para a celebração da eucaristia da Ressurreição.

Ao longo destes 15 dias, a imagem permanecerá ali, estando o templo ininterruptamente aberto das 8 às 22.30h.

A novena de preparação decorrerá até ao dia 6 de abril, sendo celebrada eucaristia sempre às 9h por intenção dos falecidos e às 19.15h a recitação do rosário, seguindo-se às 21h a eucaristia e meditações sobre as obras de misericórdia, orientadas por antigos estagiários que passaram pela paróquia e também pelos padres do concelho.

Nos dias 7, 8 e 9 de abril, o tríduo de preparação para a Festa Grande, que este ano tem como pregador o padre António de Freitas, antigo pároco de Loulé e como tema “Maria, mãe da Misericórdia”, incidirá no primeiro dia sobre a temática “Deus é rico em Misericórdia”, no segundo sobre “Sede misericordiosos como Pai” e no terceiro sobre “Maria, mãe da Misericórdia”.

O momento alto de encerramento das festividades acontece então no dia 10 de abril, com a chamada Festa Grande. O padre Carlos de Aquino explica ao Folha do Domingo que este ano pretende-se “valorizar muito” os grupos de peregrinos que cheguem nessa condição ao espaço da celebração. “Vai haver alguns momentos de acolhimento e de bênção”, conta o prior.

No dia 10 de abril será celebrada então missa campal no largo de São Francisco, pelas 10h, seguindo-se a procissão para o Monumento a Duarte Pacheco. Pelas 12 horas será ali celebrada nova eucaristia e às, 16h, será então celebrada a eucaristia solene, como acontece anualmente, presidida pelas 16h pelo bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, seguindo-se a procissão de regresso ao santuário mariano.

Ainda no âmbito das festividades a Nossa Senhora da Piedade decorre no próximo sábado, dia 2 de abril, pelas 18h na igreja de São Francisco, a apresentação do processo de integração da festa da Mãe Soberana no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.

Recorde-se que a Diocese do Algarve também já solicitou à Santa Sé que Nossa Senhora da Piedade, popularmente conhecida como Mãe Soberana, seja declarada sua co-padroeira, juntamente com o diácono e mártir, São Vicente, e o processo está a seguir os trâmites normais.

No domingo, dia 3 de abril, pelas 21.30h, decorrerá na mesma igreja uma reflexão com a escritora Lídia Jorge, natural do concelho de Loulé, sobre a sua visão do culto à Mãe Soberana. “Num plano da abertura da Igreja em saída, como é apelo constante do papa Francisco, pretende-se uma reflexão a partir da sua perspetiva como mulher, escritora e louletana, sobre este culto tão expressivo e sobre esta presença da mulher, do feminino e da maternidade”, explica o padre Carlos de Aquino.

As festividades de Nossa Senhora da Piedade constituem uma tradição com provável origem em 1553, data oficial da edificação da capela que lhe é dedicada.