
Decorreu ontem, no Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, a apresentação do “Roteiro da Arquitetura Religiosa do Concelho de Loulé”, da autoria de Francisco Lameira e Marco Sousa Santos.

A publicação, que foi apresentada na igreja matriz de Loulé, refere-se a 32 edifícios religiosos do concelho de Loulé, desde o gótico ao neoclássico, do século XIII ao XIX, incluindo três antigos conventos, 18 ermidas (uma das quais desaparecida), oito igrejas matriz, duas igrejas paroquiais e a igreja da Misericórdia. No entanto, a obra aborda muito mais do que a arquitetura passando pelos retábulos, azulejaria, pintura (mural, arquitetónica e de cavalete), imaginária, até à iluminura, como fez questão de referir o diretor do Departamento de Artes e Humanidades da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve que apresentou a publicação.
Manuel Célio da Conceição destacou o facto de o livro, publicado em várias línguas com fotografias da autoria da Stills num total de 168 imagens a cores, ter um “formato de livro de arte”. “De facto é uma obra arte, pela qualidade do papel em que foi impresso, da fotografia cuidadíssima que é apresentada, do texto, da paginação”, considerou, acrescentando que a obra “é o espelho de uma colaboração muito intensa que a Universidade [do Algarve] tem com a Câmara Municipal de Loulé, em particular nesta área da manutenção do património”. “O objeto de estudo, de evolução e de continuidade da nossa existência não é apenas a investigação dita científica, laboratorial, mas é também a investigação que se faz sobre aquilo que fomos para percebermos aquilo que somos”, sustentou.

O apresentador, que considerou o novo livro de “consulta frequente”, aconselhou a autarquia a transformar aquele roteiro numa “forma de didatização” que possa chegar à comunidade “para que a população seja capaz de usufruir da riqueza arquitetónica” que ali disse estar contida.

Francisco Lameira, historiador e professor da Universidade do Algarve, agradeceu a colaboração dos técnicos da Câmara de Loulé e Marco Sousa Santos, ex-aluno da academia algarvia, considerou a publicação um “investimento na identidade e naquilo que é a memória coletiva dos louletanos”.

O pároco de Loulé, que referiu que o bispo do Algarve se congratula com a obra, considerou-a “um grande desafio à Igreja”. “As igrejas não podem estar fechadas, as obras não podem estar escondidas, têm de ser cuidadas, deve-se providenciar a sua manutenção, recuperação, mas, sobretudo, que sejam usufruídas na visão, na contemplação, que sejam espaços vivos de encontro”, afirmou, pedindo a ajuda à autarquia para essa tarefa. “Vamos tentar, neste concelho, ver como tornar possível que as igrejas possam ser espaços abertos para a visita, não apenas turística, mas também humana de todos os que aqui vivem e que têm esse direito de usufruir desta memória e desta identidade que ainda marca grande parte do povo”, referiu, dirigindo-se ao presidente da Câmara.

Vitor Aleixo explicou o que levou a Câmara de Loulé a promover a edição deste livro. “Não podíamos passar muito mais tempo sem publicar este riquíssimo património, até porque é convicção nossa que o património é um recurso que é inegável, incontornável. O património religioso que é tão representativo e está tão bem representado e tão rico no nosso concelho, seria uma lacuna não o promovermos e não o valorizarmos”, afirmou o presidente da Câmara, destacando a importância do património para o “desenvolvimento harmonioso do território”.

O autarca destacou ainda a importância do investimento no passado como forma de construir o presente e o futuro. “Entendemos que o investimento na nossa memória coletiva é absolutamente crucial para que a nossa comunidade possa valorizar o passado”, afirmou, adiantando que no próximo ano será editada uma monografia ilustrada com banda desenhada, dirigida à população escolar, que contará a história do concelho “desde as primeiras formas de vida que se manifestaram no território há 220 milhões de anos até à atualidade”.

A apresentação da publicação de 277 páginas contou ainda com a atuação de Eduardo Ramos que executou em alaúde peças musicais galaico-portuguesas da época medieval.
