“Isso não significa que haja transferência de cidadãos nacionais para o mercado de alojamento paralelo, que é muitas vezes mais caro do que as camas classificadas do mercado hoteleiro”, ressalva o presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Elidérico Viegas.

O dirigente afirma que, face à queda do poder de compra das famílias e à perda dos subsídios de férias e de Natal dos funcionários públicos, mais gente ficará em casa no verão.

Sobre a possível fuga de clientes nacionais para destinos externos, Elidérico Viegas sustenta que, “de acordo com os indicadores conhecidos, nas situações de crise as pessoas viajam menos para o estrangeiro e mais para destinos nacionais”, mas isso não chegará para suster a queda.

Por outro lado, o hoteleiro algarvio garante que os preços no Algarve são mais baixos do que nos destinos concorrentes, nomeadamente o Sul de Espanha, opinando que quem diz que a hotelaria algarvia é cara “normalmente está a comparar um hotel de três estrelas no estrangeiro com um de cinco estrelas” na região portuguesa.

A opinião é corroborada pelo presidente da Associação da Indústria Hoteleira e Similares do Algarve (AIHSA), Daniel do Adro, para quem a região “tem os preços mais baixos da Europa”, o que considera particularmente visível nos hotéis de cinco estrelas.

“É muito mais barato vir ao Algarve do que ir para Espanha, se estivermos a falar de níveis de hotelaria semelhantes, e é difícil arranjar mais barato do que no Algarve”, reforça, garantindo que “há hotéis que têm os preços tão baixos que seria preferível fecharem do que baixarem ainda mais as diárias”.

Ainda assim, Daniel do Adro prevê que, mesmo no verão, os hoteleiros serão obrigados a baixar os preços" perante a perda de poder de compra.

“Os portugueses passaram de quatro semanas de férias para duas, depois para uma, depois para quatro dias e nos últimos anos já há muita gente que tira dois dias, tendência que vai continuar”, garante o presidente da associação.

Além dos que não podem de todo ir para a região, o responsável evoca também a “situação psicológica” de uma parte das classes mais altas, que podem fazer férias mas dizem que não fazem, “porque moralmente se sentem mal, neste clima socioeconómico”.

A reforçar o quadro negativo, o presidente da AIHSA garante que, nos últimos anos, o Algarve “deixou de estar na moda”, perante a primazia de destinos concorrentes.

“Apareceram novos destinos e nós, que construímos tanto nos últimos anos à espera de que houvesse mercado, hoje em dia não temos mercado para toda essa construção”, aponta, recordando, por exemplo, que “há uns anos era impensável um português fazer férias no Brasil”.

Também para Pedro Lopes, administrador do Grupo Pestana, os portugueses “estão a ir menos e a passar menos noites" ao Algarve, mas o responsável espera que a partir de maio as taxas de ocupação venham a ser melhores do que no ano passado.

“A quebra no mercado português e no espanhol tem sido uma realidade, embora, em compensação, se esteja a assistir a uma retoma nos mercados inglês e alemão”, disse à Lusa o administrador do Grupo Pestana, que conta com nove unidades na região.

Mais otimista está Sérgio Andrade, do grupo de viagens Motivatours, que tem “boas expetativas e uma grande adesão” da parte das agências suas associadas.

“Já no ano passado assistimos a um acréscimo no volume de negócios, apesar de já se falar de crise, e estamos agora a trabalhar com mais agências do que em anos anteriores”, afirmou o operador, que trabalha sobretudo com o mercado português.

Este acréscimo é atribuído a “uma maior promoção e maior oferta enquanto operador em termos de posicionamento no mercado” e ao facto de, “na impossibilidade de viajar para fora do país, haver uma maior procura de ofertas mais baratas, sendo o Algarve uma delas”.

Folha do Domingo com Lusa