ASSIS ESPERANÇA – nasceu em Faro, em 1892. Foi um dos maiores escritores da sua geração. Companheiro de Ferreira de Castro, de Aquilino Ribeiro e de Fernando Namora. Em 1947 recebeu o prémio nacional Ricardo Malheiros, com o romance “Servidão” , em que o júri justifica: “Assis Esperança traçou quadros dolorosamente reais da miséria e do trabalho servil, tanto nas aldeias, como nas grandes cidades, em que é por vezes dantesco o quadro da miséria humana, nesse inferno bem terrestre”. Assis Esperança não só encontrou um tema intenso, como soube descrevê-lo, despersonalizando-se, para que o literato, quase, anonimamente, cumprisse a suprema função do verdadeiro escritor. E nessa baliza cronológica, na linha do realismo social, o escritor publicou: O Dilúvio (1932), Gente de bem (1939), Servidão (1946), Trinta Dinheiros (1958), Pão Incerto (1964), Fronteiros (1973), dois anos antes do seu falecimento – 1975.
LEÃO PENEDO nasceu em Faro, em 1916. Jovem, segue para Lisboa, onde estuda no Instituto Industrial. A vida dos bairros lisboetas, as docas, o trabalho das classes mais desfavorecidas, levam-no a entrar na escrita neo-realista, tanto quanto vinha na linha de Manuel da Fonseca e de António Alves Redol. Nessa realidade da vida portuguesa, em que atinge uma efabulação imaginativa no contexto do realismo social.
Penedo está nessa linha dos ambientes populares da capital. O seu primeiro livro intitulou-se de Multidão (1942), seguiu-se Caminhada, publicado em 1943 e que mereceu todos os rancores da censura do estado novo. É uma narrativa pungente. A sua obra Caminhada, segue em edições sucessivas à margem da PIDE, que levou o autor a sofrer interrogatórios e prisões de cada vez que saía um novo livro, como o Circo (1945), seguindo-se Raiz e o Vento, sendo as suas obras muito traduzidas, tanto em línguas checa, alemã e finlandês. Ainda o seu livro, O Circo, foi adaptado ao cinema, em título Saltimbancos, em que a grande actriz, Maria Olguim à frente de um elenco de actores, como Helga Liné e Artur Semedo recriam as vidas trágicas dos saltimbancos portugueses… É de lembrar que a censura cortou a fita de Saltimbancos, num terço da realização de Manuel Guimarães.
MANUEL DO NASCIMENTO nasceu em Monchique no ano de 1912. Depois dos estudos em Faro, segue para o Instituto Superior Técnico de Lisboa, onde se formou em engenharia de minas. Terá uma vida curta de 54 anos. Morrerá de tuberculose em 1966. Este escritor viveu intensamente a sua vida no interior de minas para contar nos seus livros, desde o publicado em 1942, em “Eu Queria Viver”. Essa realidade foi um choque; de uma vida de jovem burguês, ao iniciar a sua profissão molda toda a sua personalidade ao contacto com as vidas e os problemas os mineiros. O contacto com essa vida, fá-lo viver em luta permanente consigo próprio, despertando no futuro escritor um anseio de justiça, que a época perturbada da juventude tinha ignorado. Doente, regressa a Monchique, onde vive num ambiente familiar conservador, que o leva a escrever mais e mais. Publica de seguida, 1944 “Mineiros”. Segue-se “O Aço Mudou de Tempera”. Volta às minas. Para “O Último Espectáculo” e “Agonia”. São obras que confere ao escritor algarvio, nessa vertente épica, em gestos de audácia e nobreza… João Gaspar Simões, um dos mais notáveis biógrafos de Fernando Pessoa, dedica ao livro de Nascimento, “Eu Queria Viver”, “Das mais humanas e originais obras que a nova geração nos tem dado”. Para Maria Alzira Seixo, o neo-realismo é a “Arte que apresenta que representa o mundo ou produz um mundo próprio?” Interroga-se. Que só cada época o diz, no seu modo de se definir… Que o neo-realismo foi uma escrita de testemunho. E os escritores algarvios, nisso, foram, nas suas escritas de chumbo, os retratistas dos seus tempos. Agora que passa o centenário do escritor de Monchique, é tempo de o lembrar como um importante interveniente do seu tempo, em imagens que vão do etnografismo à construção de uma de uma poética da narrativa do neo-realismo português. Monchique deve-lhe uma homenagem em reconhecimento.
ANTÓNIO VICENTE CAMPINAS nasce e morre na sua Vila Real de Santo António – 1910-1998. Seguramente podemos afirmar que nasceu para contar a vida dos mais desprotegidos. Senão, peguemos nos seus 30 livros publicados, entre a prosa e a poesia, e neles encontramos a força incontida em comunicar. Para o sistema político da ditadura, Vicente Campinas foi um escritor “maldito”. Pela a escrita sofreu todos os ditérios do sistema; que perpetuou em tempo de vivência das gentes ribeirinhas do Guadiana, em especial das deserdadas, as vozes proibidas, o calar obrigatório. Pela circunstância desse “proibido” realismo, tão adverso ao sistema, nessa posição de oposicionista, porque convicto e coerente, sofreu as prisões, medidas de segurança, de liberdade vigiada e residência fixa. Vis perseguições que o forçam ao exílio.
Conheci Campinas por Paris, no início dos anos sessenta. Lera alguns dos seus livros, sem conhecer o escritor. Já o homem das letras recebera prémios internacionais. Este guardião das estrelas, como, gentilmente lho consideraram, escreveu… escreveu, não em silêncios, mas em gritos, em voz alta. No exílio escrevera, nos anos sessenta, o poema “Catarina”, que José Afonso musicou e o fez conhecer pela Europa.
Em 1953, Campinas publicou “Fronteiriços”. Livro logo apreendido, que tornará a ser reeditado em 1986. Importantes nomes da crítica portuguesa, brasileira e francesa, escrevem as opiniões da maior admiração ao poeta do Guadiana, desde a brasileira Renata Pallottini, na imprensa de S. Paulo (Brasil), que considera o escritor português: “Uma narrativa de primeira qualidade”, Do Rio de Janeiro “Jornal do Comércio”, Enéas Athanázio escreveu: “Neste grande livro o seu desejo é pintar, debuxar quadros vivos, físicos e humanos, daquela paisagem do Sul de Portugal que o toca tão ao fundo. Guedes de Amorim, no “Século Ilustrado” (Portugal): Assim procede Vicente Campinas, nome de escritor feito, com o seu estilo ágil e terno, com as suas opiniões sempre em voz alta.
O autor deste artigo não o escreveu ao abrigo do novo Acordo Ortográfico