
O coordenador do Centro de Escuta e Acompanhamento Espiritual da Arquidiocese de Braga veio exortar o clero do Algarve à “relação pastoral de ajuda”.
O padre Jorge Vilaça, que abordou o tema “Diabolismos em tempo de relacionamentos fragilizados – Começar pelo princípio”, apresentou “a relação pastoral de ajuda” como “uma ferramenta da Igreja” que se baseia na “relação entre duas pessoas”, “um ministério importante da comunidade crente que tem por objetivo ajudar uma pessoa a utilizar os seus recursos, tendo em vista um crescimento espiritual”.

Na jornada de formação que a Diocese do Algarve promoveu no dia 21 deste mês para o clero no Seminário de São José, em Faro, sobre o tema “Caminhos de Libertação”, o sacerdote explicou que aquela prática “passa primeiro pelo acolhimento”. “Passa pela escuta e resposta empática que é uma coisa dificílima e que nós não estamos preparados para a fazer”, acrescentou, lamentando que os membros do clero também não estejam aptos a fazer o “diagnóstico espiritual” que defendeu ser “absolutamente imprescindível”.
“Ainda não aprendemos a aproximarmo-nos das pessoas de maneira evangélica, ainda não sabemos fazer o diagnóstico. Enquanto falharmos o diagnóstico, vamos falhar a solução”, prosseguiu, admitindo que as pessoas recorram ao sacerdote, em detrimento de profissionais de saúde, por causa do seu “sigilo”. “Será que essa fonte de confiança – diria eu, essa fonte de cura – não podemos disponibilizá-la às pessoas?”, questionou.
O coordenador do Centro de Escuta e Acompanhamento Espiritual bracarense, que testemunhou haver “muita gente com necessidade de escuta”, mas também “muita gente com perturbações psíquicas sub ou super diagnosticadas”, frisou que o acompanhamento psíquico não invalida que se continue a “receber a pessoa” e que se faça com ela um “caminho de crescimento espiritual”. “Até civilmente hoje se reconhece a força poderosa da fé. Acho que temos algum complexo de inferioridade em relação a isto”, constatou, considerando a fé “um elemento preciosíssimo no enfrentar as situações”.

Aquele responsável do Centro de Escuta e Acompanhamento Espiritual, que nasceu há sete anos “como uma proposta, mas também como um pedido” do arcebispo de Braga, disse encontrar na sociedade uma “solidão relacional profunda” e, cada vez mais, “pessoas de qualquer classe social que se sentem absolutamente sós, mesmo vivendo em casa com outras pessoas”. “Situações familiares difíceis do ponto de vista económico, intergeracional e de relacionamentos”, bem como “muita incerteza em relação ao futuro”, “muitas pessoas com ausência de defesas imunitárias”, “abertas e permissivas a qualquer coisa” e “muita gente em desilusão com valores em que acreditaram”, foram outras das situações que identificou.
“Encontramos muita gente com distorções da espiritualidade, muitos «aspira-tudo» e muitos lutos não elaborados”, prosseguiu, lamentando que até o “satanismo” esteja a crescer no norte do país.
O formador, que pediu aos restantes sacerdotes, para terem atenção ao discurso sobre o perdão, considerou que a base de todo o problema nesta área tem a ver com a “crise dos sacramentos da cura”.
Lembrando que o exorcismo é um “fenómeno transversal à história da Igreja” e às “classes sociais”, explicou que o serviço que coordena é constituído por dois padres – um a tempo inteiro (ele próprio) e outro a meio tempo que neste momento está inativo –, por um psicoterapeuta e uma psiquiatra.