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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O criador do projeto ‘Living Peace’ passou nos dias 16, 17 e 18 de fevereiro pelo Algarve para divulgar aquela iniciativa que está a ser implementada apenas numa escola algarvia, em Faro.

O projeto, que tem vindo a ser desenvolvido no norte de Portugal, sobretudo no norte país, desde há cinco anos em quase uma centena de escolas, 22 paróquias e muitos agrupamentos do Corpo Nacional de Escutas (CNE), teve início com 12 alunos quando Carlos Palma era professor numa escola americana muçulmana no Cairo (Egito). Hoje está presente em mais de 1000 escolas e universidades cristãs, muçulmanas, judaicas e budistas de 147 países do mundo, num total de 250 mil estudantes envolvidos, e colabora com cerca de 60 organizações internacionais.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Tudo começou quando o uruguaio Carlos Palma se disponibilizou ao Movimento dos Focolares para ir trabalhar para um qualquer “lugar difícil” do mundo. Foi então para o Médio Oriente, onde viveu 30 anos uma “aventura marcada pela guerra” em países como Israel, Palestina, Líbano, Turquia, Iraque e Egito. “A primeira coisa que me chocou muito foi os jovens me perguntarem o que era a paz”, afirmou no passado dia 17 de fevereiro num encontro com jovens e adultos, alguns dos quais professores e outros pertencentes ao movimento focolarino, que teve lugar no salão da paróquia de São Pedro de Faro.

Carlos Palma testemunhou a violência que sofreu quando descobriram que era cristão. Um dia, ao ir para a missa na igreja do Santo Sepulcro, em Israel, um grupo de palestinianos, pensando que era judeu, começou a apedrejá-lo. Ao perceber a chegada de polícias judeus para os prenderem ajudou os agressores a fugir. “Um caiu no chão, vi que tinha sangue na perna e dei-lhe o meu lenço para se limpar. Poucos dias depois foi a minha casa para me devolver o lenço e um pão grande feito pela sua mãe”, contou, lembrando que este episódio fê-lo perceber que “o caminho para conseguir a paz e uma humanidade mais fraterna passa pelo amor”. “Começou a surgir na minha cabeça uma pergunta: «que posso eu fazer para contribuir para a paz?». Não sabia como, mas sentia que tinha que fazer alguma coisa”, prosseguiu.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Alguns anos mais tarde testemunhou no Cairo a violência da chamada Primavera Árabe e isso foi o que bastou para se decidir a agir. “Pensei numa coisa muito simples. Lembrei-me que no Movimento dos Focolares havia um dado sem números – o «dado do amor» – com desafios para as crianças viverem. Pensei em adaptá-lo a «dado da paz» e alterar as frases para outras que ajudassem a viver a paz”, contou, acrescentando que todos os dias pedia a um aluno para lançar o dado e a frase que calhasse seria o desafio proposto a cada um para a construção da paz durante aquele dia. “A minha intenção era somente que, durante aquelas quatro ou cinco horas na escola, pudessem vivê-las num clima de paz”, observou, explicando que também diariamente pedia que todos cumprissem ao meio-dia o “time-out pela paz”, ou seja, um minuto de silêncio em memória das “crianças que não podiam ir à escola” e “as que estavam a morrer” ou fazendo uma oração pela paz.

“As crianças começaram a mudar, a partilhar tudo, a ajudarem-se. Os pais começaram a perceber que os filhos mudaram e uma coisa tão simples começou a mudar as famílias. A diretora perguntou-me o que é que estava a acontecer naquela turma porque estavam todos motivados e com um rendimento muito melhor e sugeriu que o projeto fosse adotado para toda a escola”, prosseguiu Carlos Palma, garantindo que a iniciativa “mudou completamente o clima da escola” e “o rendimento de todas as turmas”. “No Cairo começou a falar-se daquela escola e chamaram-me para falar do projeto”, contou, lembrando que o mesmo se alargou a outras 20 escolas, privadas e públicas.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Um dos jovens alunos teve então a ideia de escreverem uma carta a “todos os presidentes do mundo” para apresentar a iniciativa e passados alguns dias receberam respostas do casal Obama, dos reis de Espanha, do indiano Kailash Satyarthi, Prémio Nobel da Paz, para além de ministros da educação e da cultura de muitos países. “Percebi pela primeira vez que, provavelmente, havia ali o dedo de Deus. Por detrás de uma coisa tão simples, Deus queria fazer chegar uma mensagem”, afirmou o coordenador internacional do projeto, que depois foi convidado para um congresso mundial de educação em Roma com muitas escolas, sobretudo europeias. “Muitas quiseram começar o projeto que adquiriu então a designação de ‘Living Peace’”, recordou, acrescentando que em abril de 2014 foi convidado para ir ao Parlamento Europeu, onde recebeu o Prémio da Paz do Luxemburgo, e um ano depois foi convidado para ir a Hiroshima (Japão) pelo aniversário dos 50 anos do lançamento da bomba atómica, onde coordenadores de diversas instituições de trabalho pela paz se interessaram pelo projeto que conta com o apoio do programa Erasmus.

Apresentou ainda o ‘Living Peace’ na ONU, a convite da princesa Haya, e em 2016 na UNESCO, tendo sido nomeado por aquela organização como embaixador da paz junto dos jovens. Países muçulmanos como Arábia Saudita, o Afeganistão, o Irão ou o Kuwait adotaram o projeto, escrevendo no “Dado da Paz” frases do Corão sobre o tema. O mesmo aconteceu com frases bíblicas do Novo Testamento em muitas paróquias, enquanto outros aderentes ao projeto, que está também presente em estabelecimentos prisionais, preferiram escrever valores universais sem ligação a qualquer religião.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Em vários países começaram a fazer dados gigantes para colocar na rua”, contou ainda Carlos Palma, adiantando que em Matosinhos vão fazer o mesmo.

Na sua vinda ao Algarve, aquele responsável esteve presente em Faro na Escola EB 2,3 Dr. Joaquim Magalhães, onde passou uma manhã com os alunos das duas turmas envolvidas no projeto, esteve com a comunidade algarvia do Movimento dos Focolares e, para além do encontro na paróquia de São Pedro de Faro, teve mais três – um no Colégio de Nossa Senhora do Alto, outro no Centro Paroquial de Loulé e outro no Centro Paroquial de Olhão – onde se encontrou com crianças, jovens, famílias, catequistas, dirigentes do CNE e um diretor de uma escola.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

As escolas que queiram aderir ao projeto, que inclui também a elaboração de bandeiras da paz para envio para um país à escolha ou a pintura de mandalas para envio para hospitais de crianças com cancro em fase terminal, têm que se registar no sítio http://livingpeaceinternational.org. O material é enviado após receberem no e-mail uma notificação.