
O Presidente da República visitou esta tarde a comunidade cigana do Cerro do Bruxo de mais de cem pessoas que está temporariamente alojada desde domingo no pavilhão municipal da Penha, em Faro.
Na visita à infraestrutura, o Presidente da República cumprimentou quase todos os membros da comunidade e esteve à conversa com alguns dos seus principais membros, que lhe contaram como vivem e o que aconteceu no dia do tornado, em 04 de março.
O chefe de Estado destacou o “acompanhamento permanente” que as entidades locais têm feito, nesta “situação de emergência”, e sublinhou estar a ser garantida a ida das crianças à escola.
“É muito importante não haver interrupção [da situação escolar]. É tão importante, por um lado, de valorização pessoal e social e de integração comunitária, a ida à escola é uma prioridade”, frisou Marcelo Rebelo de Sousa sobre os jovens, que disse constituírem cerca de metade dos membros desta comunidade cigana.
Consciente das dificuldades da Câmara Municipal de Faro para arranjar realojamento para esta comunidade específica, e para outras também à espera de habitação, o Presidente da República disse esperar ver soluções globais para um problema com mais de duas décadas. “Foi dito que esta situação dura há 20 anos. [Tem de ser encontrada uma fórmula] que permita realmente aquilo que hoje se entende que deve acontecer, que é não haver segregações, nem separações, nem distanciamentos. Tem de haver uma integração comunitária e isso começa desde logo no alojamento, na habitação”, salientou Marcelo Rebelo de Sousa.
O presidente da Câmara Municipal de Faro, Rogério Bacalhau, reafirmou que a comunidade terá de voltar ao acampamento do Cerro do Bruxo, assim que as condições climatéricas o permitam. “A perspetiva é que, logo que as condições climatéricas o permitam, possam voltar. Vamos ajudar a que as condições que tenham sejam melhores”, referiu o autarca, informando que a secretária de Estado da Habitação, Ana Pinho, visitará o local na segunda-feira.
O Presidente da República pediu ainda um “esforço de mentalidade” coletivo para integrar as pessoas dessa etnia na sociedade. “Este esforço recíproco é um esforço de mentalidade, que temos de todos os dias fazer. É uma luta de todos os dias”, salientou Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações à comunicação social.
O chefe de Estado considerou que se trata um processo longo, mas importante, e que merece um esforço coletivo para aceitar a integração de todos e “não marginalizar ninguém”. “A coisa mais difícil de mudar é a mentalidade das sociedades. É mais fácil mudar as leis, é mais fácil mudar a economia, é mais fácil mudar outra coisa, a cabeça das pessoas demora mais tempo. Demora mais tempo e é um processo mais importante”, garantiu.
Marcelo Rebelo de Sousa disse também que “é do interesse de todos que ninguém se marginalize a si próprio” e que “todas as comunidades queiram integrar-se, queiram que os seus filhos e netos se integrem, que tenham uma profissão e exerçam essa profissão sem discriminações”.

O Presidente da República visitou ainda a Praia de Faro que nas últimas semanas foi afetada pelo mau tempo, com ondulação forte e galgamentos do mar que causaram, entre outros estragos, a destruição de um caminho de passagem para o areal, na zona central da ilha.
Marcelo Rebelo de Sousa considerou que a comunidade está a descobrir “uma realidade nova” causada pelas alterações climáticas, que provocam situações de emergência cada vez com maior frequência. “Todos nós, em geral, como comunidade – e não somos os únicos, isto passa-se em outras sociedades –, estamos a descobrir que há alterações climáticas. E apesar de haver um ou outro que continua a dizer que não há, há. E essa é uma realidade nova”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.
“Estas alterações climáticas”, acrescentou o chefe de Estado, “provocam calamidades ou provocam situações de emergência que antigamente eram de emergência ocasional e agora passam a ser mais ou menos frequentes.”
Acompanhados pelos autarcas locais, Marcelo calcorreou a Praia de Faro, para observar de perto o rasto de estragos que o mar deixou, abordando comerciantes e falando com moradores sobre a situação.
O Presidente da República disse ter ficado “impressionado” com a repetição de um fenómeno “em prazos cada vez mais curtos, ciclos mais curtos, no mesmo sítio” e com consequências “repetidas do ponto de vista negativo”.
Marcelo avançou que a situação obrigará a intervenções, algumas já para o verão e outras “estruturais”, sublinhando que os governantes responsáveis “certamente saberão distinguir aquilo que é urgente daquilo que tem de se preparar para o futuro”.
O Presidente da República disse ainda que prevenir este tipo de fenómenos “é uma responsabilidade dos poderes públicos”, mas carece do apoio da população. “As pessoas não podem estar à margem, porque isto diz respeito a toda a comunidade”, sustentou, pedindo a quem more ao pé da costa que respeite as medidas preventivas que serão definidas.
Segundo o presidente da Câmara Municipal de Faro, o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, também visita o local na segunda-feira.
O Presidente da República visitou ainda uma das explorações agrícolas afetadas, na zona da Galvana, no concelho de Faro, comentando o compromisso assumido pelo governo. “A portaria está pronta e vai avançar. Foi um compromisso assumido pelo governo, que, aliás, logo se colocou no terreno”, disse o chefe de Estado, que pediu “ânimo” aos agricultores afetados.
com Lusa