Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A Diocese do Algarve, através do seu Centro de Estudos e Formação de Leigos do Algarve (CEFLA), promoveu no passado dia 25 deste mês uma jornada de formação sobre a espiritualidade cristã.

Na iniciativa, que se realizou no Centro Pastoral e Social da Diocese do Algarve, em Ferragudo, com 30 participantes, o formador destacou a espiritualidade cristã como uma iniciativa de Deus que espera do homem uma resposta em fidelidade. “Ele [Deus] dirige-se a nós, infunde em nós o seu amor e espera de nós uma resposta. O objetivo deste diálogo é, por isso, estarmos em comunhão com Ele. E isto tem tudo que ver com espiritualidade cristã. O que é ela senão a vida divina que nos é dada e cresce em nós? O que ela senão a presença do Espírito Santo que nos habita e nos transforma à imagem de Jesus Cristo? Isto é que é a espiritualidade cristã”, afirmou o padre Vasco Figueirinha.

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“Daqui podemos afirmar que a nossa vida espiritual nasce do encontro entre a comunicação que Deus faz na sua própria vida e da recepcão ativa por parte do homem”, prosseguiu o formador, que abordou três temas – “Todos chamados à santidade”, “Os meios de santificação” e “O itinerário espiritual” –, considerando que “a espiritualidade tem, por isso, tudo que ver com a santidade, com um caminho que se faz em direção a Deus” e que “Deus se revela ao homem para que este possa participar da sua santidade”. “A santidade não é algo reservado apenas a alguns poucos, mas um convite que Deus faz a todos”, complementou.

O sacerdote evidenciou o “dinamismo trinitário” da espiritualidade cristã, considerando esta como “aquilo que acontece no interior do ser humano que responde com fidelidade ao amor de Deus, manifestado em Jesus Cristo, no Espírito Santo”. “O Pai, que entra em diálogo de amor connosco através de Jesus Cristo, seu Filho, convida-nos a uma resposta e esta acontece animada pela ação do Espírito Santo”, sustentou, acrescentando que “Deus quer comunicar a sua graça ao homem, não para que este se feche em si”, mas para que “arraste outros neste movimento”.

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O padre Vasco Figueirinha prosseguiu, sublinhando que “a fonte da vida espiritual é a vida trinitária”. “Ou seja, o Pai manifesta-se como a fonte da vida e do amor, criando-nos e fazendo-nos destinatários desse mesmo amor. O Filho, amor gerado do Pai e enviado por Ele, revela-nos o rosto paterno de Deus e realiza a salvação. O Espírito Santo, o amor divino que une o Pai e o Filho que é feito pessoa, é derramado nos nossos corações para que possamos aproximar-nos de Deus e sermos elevados a Ele”, acrescentou na segunda parte da formação, na qual enumerou as “mediações cristãs como meios de santificação”.

Referindo-se concretamente aos sacramentos da reconciliação, eucaristia e crisma, à oração e à direção espiritual, o formador aludiu ao crisma como “o sacramento do crescimento da vida espiritual”. “Deus infunde em nós os dons do seu Espírito para que nos tornemos aptos para a vida espiritual pessoal”, disse, acrescentando que “o sacramento da reconciliação constitui um excelente meio de progresso da vida espiritual” e que “na vida espiritual, a oração adquire uma importância imensa”.

Relativamente às orações, destacou a liturgia das horas, também designada como oração oficial da Igreja. “Nela encontramos o tesouro para fortalecer a nossa vida espiritual, manifestando ao mesmo tempo o caráter comunitário da Igreja”, afirmou.

No âmbito do caminho “pessoal e intransmissível” que cada cristão é chamado a percorrer no seguimento de Jesus Cristo, o orador ressalvou que “o progresso espiritual é algo que depende diretamente de Deus”. “Aquilo que nos é pedido por Deus é que permaneçamos maleáveis para que Ele nos possa moldar”, complementou, acrescentando que “o crescimento até à plenitude não é necessariamente em linha reta”, mas “verifica-se que é constante especialmente nos que cultivam sinceramente a sua vida espiritual”. “A vida divina cresce em nós na medida em que crescemos nas virtudes teologia: fé, esperança e caridade”, acrescentou, lembrando ainda que “o tempo espiritual não coincide com o tempo histórico”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O sacerdote salientou ainda que nesta “caminhada até a perfeição” existem também “etapas ou estádios”. Nesse sentido disse que os “principais momentos da vida espiritual” são o “começo da vida espiritual, a conversão e o itinerário espiritual propriamente dito”. “O início da vida cristã não coincide necessariamente com o início da vida espiritual. A vida cristã começa com o batismo, ao passo que a vida espiritual é marcada por uma relação pessoal com Deus e também por uma tomada de consciência da nossa responsabilidade pessoal diante de Deus”, advertiu, acrescentando que o início da vida espiritual ocorre “a partir, mais ou menos, da adolescência”. “A conversão marca o início da vida espiritual. Esta conversão está ligada à decisão de acolher o chamamento de Cristo e começar uma vida de imitação e compromisso evangélico”, sustentou, lembrando que depois da primeira ocorre normalmente uma “segunda conversão”.

Referindo-se ao “itinerário espiritual propriamente dito”, o sacerdote explicou que “a teologia espiritual dedica uma reflexão à experiência mística”. “Essa experiência acontece apenas com alguns, uma vez que se trata de um dom de Deus que Ele concede a quem Ele quer e quando quer. Aparece ligada às fases mais elevadas da vida espiritual e carateriza-se por ser uma experiência do tipo simples, intuitiva, pessoal e incomunicável diante da linguagem corrente”, observou.

Embora prioritariamente para os alunos do Curso Básico de Teologia, a jornada destinou-se a todos os que quiserem participar.