O bispo do Algarve pediu ontem à multidão que compareceu em Loulé para a Festa Grande de Nossa Senhora da Piedade, popularmente evocada como Mãe Soberana, que se deixe “conduzir por Maria ao encontro de Cristo”.

“Apoiados e amparados por ela não tenhais medo de entrar pela «porta» da fé, de regressar à participação na vida eclesial das vossas comunidades, particularmente à eucaristia dominical”, pediu D. Manuel Quintas que presidiu à eucaristia que precedeu a procissão pelas ruas centrais da cidade, culminando com a habitual subida em apoteose ao íngreme cerro onde se implanta o Santuário com a pequena ermida e a nova igreja dedicadas à Mãe Soberana.

“Não tenhas medo de assumir Cristo na tua vida, não tenhas medo de fazer aquilo que Ele te diz”, pediu o prelado, lembrando que “a imagem da Mãe Soberana apresenta-nos Jesus no seu regaço, junto à cruz”. “Queremos uma prova maior do amor de Deus por nós, manifestado em Cristo? Que é que nos falta para atravessar esta «porta» da fé? Não tenhamos medo de a atravessar, sobretudo porque ela, nossa Mãe, quer conduzir-nos pela sua mão”, acrescentou o prelado na eucaristia concelebrada por D. António Carrilho, bispo do Funchal e natural de Loulé, que voltou a estar presente naquela festividade, este ano sob o tema “Com Maria vivemos da fé” inspirado no Ano da Fé, proclamado pelo Papa emérito Bento XVI para a Igreja de outubro de 2012 a novembro de 2013.

“No Ano da Fé faz-nos muito bem contemplar Maria como modelo de fé”, referiu a propósito o bispo do Algarve, lembrando que essa fé não se manifestou apenas na anunciação. “Ela foi forte, sublime e heroica, sobretudo junto à cruz. É aí que ela é provada na sua fé e que a sua fé assume a plena maturidade porque é aí que ela se entrega, se dá e participa plenamente na obra da redenção, unindo-se ao seu filho Jesus. É aí que ela assume uma nova maternidade. Nós fomos gerados junto à cruz de Jesus como filhos de Maria. É aí que ela é nossa Mãe e Mãe da Igreja”, destacou D. Manuel Quintas.

O bispo diocesano explicou que Maria é Mãe Soberana porque “participa da soberania de Cristo, sobretudo a soberania que se fundamenta no serviço, doação e entrega aos outros”. “Evoquemo-la como Nossa Senhora da Piedade mas sobretudo imitemo-la na fé”, pediu.

D. Manuel Quintas pediu ainda aos algarvios que procurem “ter gestos de fé, sobretudo em situações de dificuldade”. “Há muita gente, mesmo aqui no Algarve, que vive estas dificuldades. Sabemos como o nosso distrito é daqueles mais atingidos pelo desemprego. Procuremos abrir o nosso coração, não nos fechar em nós mesmos, estar atentos”, exortou.

O bispo do Algarve, que lembrou as crianças, famílias, idosos, doentes, pobres, migrantes e rejeitados, as escolas e o trabalho na indústria, comércio, agricultura e na pesca, os desempregados, instituições e associações, turistas, visitantes e peregrinos, consagrou Loulé e a Diocese do Algarve, com todas as suas paróquias, a Nossa Senhora.

Após a eucaristia, junto ao monumento a Duarte Pacheco, D. Manuel Quintas presidiu à procissão participada pelos muitos sacerdotes que também concelebraram momentos antes.

Impondo-se como a maior manifestação de fé a sul do Tejo, que é simultaneamente a mais significativa expressão de devoção mariana algarvia, a Festa Grande a Nossa Senhora da Piedade voltou a atrair a Loulé uma multidão imensa de pessoas que congestionou por completo a circulação na cidade, oriundas não só de todos os pontos do Algarve, como também de diversas regiões do país.

Ao esforço dos homens oito homens, vestidos de calças e opas brancas, que transportam a imagem de Virgem Maria com Jesus no braços, aliou-se a força espiritual dos muitos milhares de fiéis que, em vivas inflamadas a Nossa Senhora, acenando lenços ou em passo vivo e na cadência musicada dos homens da banda, «empurraram», calçada acima no calor da fé, o pesado andor da padroeira.

À chegada ao Santuário e junto à ermida, coube ao padre Pedro Manuel, pregador do tríduo de preparação da Festa Grande deste ano, fazer a pregação de encerramento. O sacerdote agradeceu, em nome da multidão, pelo exemplo e proteção de Nossa Senhora, pedindo-lhe sempre o seu amparo e ajuda.

Seguiu-se o regresso, em marcha, de todos com a banda até ao centro da cidade e as festividades de Nossa Senhora da Piedade, que constituem uma tradição com provável origem em 1553, data oficial da edificação da capela que lhe é dedicada, terminaram à noite com um espetáculo de fogo-de-artifício junto àquela capela.

Samuel Mendonça