Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A jornalista Aura Miguel identifica claramente os três últimos papas com cada uma das virtudes teologais.

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“Gosto de olhar para João Paulo II como o papa da esperança, para o papa Bento como o papa da fé e para o papa Francisco como o papa da caridade”, disse a vaticanista, que trabalha desde 1985 para a Rádio Renascença.

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Aura Miguel veio no passado dia 17 deste mês ao Algarve apresentar uma palestra no Auditório Municipal de Olhão sobre os últimos três pontífices, promovida pela paróquia de Olhão.

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“O grande desafio que eu testemunhei ao longo destes três pontificados, cada um no seu contexto e cada um no seu estilo, é que eles próprios jogam-se no discernimento com base na realidade”, afirmou a oradora perante a plateia constituída por pessoas de vários pontos do Algarve.

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A vaticanista acrescentou que “o anúncio do evangelho nestes três pontificados, e nas insistências que fizeram no seu tempo, foi partindo dos acontecimentos no contexto do qual foram chamados a suceder a Pedro”. “Três homens tão diferentes que dão a vida pelo evangelho e que o anunciam desta maneira tão cativante”, acrescentou na palestra sob o tema “O anúncio do Evangelho na ótica dos últimos três Papas”.

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A jornalista considerou que São João Paulo foi então o papa promotor da esperança que, de certa maneira, foi precursor do modo do atual pontificado de Francisco. Nesse sentido, Aura Miguel disse que “quem introduziu verdadeiramente este estilo de trocar as voltas aos homens do protocolo foi o papa João Paulo II”. “Esta normalidade da maneira como se vive o evangelho e como se anuncia foi logo muito evidente para mim no estilo de João Paulo II que era portador desta esperança e deste novo vigor”, sustentou.

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A oradora contou que a faceta que mais a impressionou em João Paulo II foi a que se identifica com o seu pedido a todos para que procurem “escancarar as portas a Cristo”. “De certo modo isto serviu para definir as prioridades do seu pontificado, mas também se percebeu nele”, afirmou.

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Por outro lado, a jornalista considerou que “só uma pessoa completamente livre” é que aparece publicamente nas condições em que o papa polaco o fez nos seus últimos dias de vida.

Aura Miguel classificou Bento XVI como “lúcido, inteligente e humilde” e identificou a sua “grande advertência” que motivou a sua “grande batalha”. “Já acabou o tempo da maioria sociológica cristã de que nascemos, vivemos e morremos num contexto cristão. Já não é mais assim. Nós agora somos chamados a passar de uma situação sociologicamente maioritária para outra minoritária, mas mais esclarecida”, afirmou, explicando o aspeto pelo qual se bateu o papa alemão: “desde o Iluminismo, e sobretudo desde a Revolução Francesa, tentam convencer-nos de que a fé e a razão não se articulam. E se há papa que dedicou todos os seus talentos nestes anos de papa a tentar demonstrar o contrário, foi ele [Bento XVI]”. “E o que o papa Bento XVI pediu foi para sairmos do estado de infantilidade da fé”, observou, considerando que “a articulação entre a fé e a razão é absolutamente fundamental”. “Se eu não tiver medo de fazer perguntas, mais tarde ou mais cedo, chego à fé”, acrescentou.

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A jornalista considerou assim que “tomar a sério a razão foi sempre a grande batalha do incompreendido Bento XVI”, um pastor que disse ter sido “mártir dos media”. Neste sentido evidenciou que “muitos dos problemas que o papa Bento tinha, alguns deles ainda permanecem”.

Aura Miguel identifica no final do pontificado de Bento XVI a mesma “liberdade” que disse ser caraterística no do seu antecessor. “Ao contrário do papa João Paulo II, o papa Bento XVI resignou e também acho que foi por enorme liberdade”, considerou, realçando “o discernimento que cada um é chamado a fazer sobre as circunstâncias que lhe compete”. “É mesmo de alguém que tem o coração preso ao essencial, de tal maneira que larga tudo com esta discrição de quem é santo”, acrescentou, considerando que “a resignação do papa Bento foi um acréscimo de graça”. “Era a coisa mais urgente que era preciso para a Igreja”, sustentou. “Acho que ainda está muito por estudar a grandeza deste doutor da Igreja”, disse.

Acerca de Francisco, a vaticanista destacou que o atual papa procura mostrar como “o essencial da fé passa por esta dimensão absolutamente essencial do amor”. “É o papa dos afetos”, caraterizou, garantindo não se tratar de “uma estratégia política para conquistar” e comparando-o, em certa medida, com o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa. “Ele é assim, ele é mesmo assim”, assegurou acerca do papa argentino, explicando que “ele mostra uma grande paternidade e exerce-a assim” e que uma das suas máximas é que “a realidade é superior à ideia”. “O drama é que, muitas vezes, nós queremos submeter a realidade à ideia”, lamentou.

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Aura Miguel disse que Francisco aposta que o anúncio de Jesus só pode ser feito “com uma proximidade mesmo humana”. “Quando ele pede uma Igreja em saída, que se desinstale, é exatamente por isso. Por isso é que o papa sai tanto. Ele só se sente bem é com as pessoas. Isto mostra a tal frescura que eu consegui identificar no João Paulo II”, explicou, acrescentando ser “muito bonito esta insistência do papa Francisco em querer visitar contextos de sofrimento”. “Coloca-se diante dos que sofrem como diante de Cristo”, evidenciou.

Aura Miguel já acompanhou 95 viagens papais fora de Itália. Das 104 feitas por João Paulo II, a jornalista acompanhou 51. Acompanhou as 24 que Bento XVI realizou desde que foi eleito e as que o papa Francisco realizou até agora. Em 2002 foi escolhida por João Paulo II entre jornalistas para escrever uma das 14 estações da via sacra de Sexta-feira Santa, presidida pelo pontífice no Coliseu de Roma. É autora de dois livros sobre João Paulo II, um sobre Bento XVI e outro resultante de uma entrevista exclusiva ao papa Francisco.