Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O padre Alexandre Palma, mais do que uma abordagem à história da questão antropológica ao longo dos séculos, apresentou ao clero do sul do país uma leitura de várias antropologias, a partir da simbologia de alguns órgãos do corpo humano.

O sacerdote do Patriarcado de Lisboa explicou que esta “anatomia do humano”, como lhe chamou, “é bem literal” e não apenas metafórica. “O homem é mesmo esta quantidade variada de órgãos, pelo que o homem só se deixa ler e pensar segundo um leque diversificado de antropologias que reconheçam, reflitam e dêem sentido a essa diversidade”, afirmou após se ter referido à antropologia do cérebro ligada à racionalidade, à antropologia do coração ligada à emoção, à antropologia da mão ligada à criação, à antropologia do pé ligada à peregrinação, à antropologia da língua ligada à comunicação e à antropologia do pulmão ligada à espiritualidade.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Na formação anual dos bispos, padres e diáconos das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal, que decorreu em Albufeira e que este ano teve no centro a reflexão antropológica, o teólogo deixou claro que o “desafio” nesta área “está numa grande antropologia católica”, ou seja, “uma antropologia universal que não amputa do corpo das antropologias nada do que se manifesta no homem”.

Advertindo que “não há antropologia sem um sincero amor à humanidade”, o orador, que abordou o tema “O Cristianismo e o desafio das principais Antropologias ao longo dos Séculos”, considerou a possibilidade se estar a viver “uma intensa alteração no que o ser humano é e significa, cujos efeitos positivos e nocivos” não são ainda possíveis totalmente de antecipar. “Esta mutação antropológica, a ser efetiva, traz à sociedade e à Igreja desafios do tamanho do mundo”, realçou aos cerca de 120 participantes.

Neste sentido, apontou o “maior desafio para a teologia e para a ação eclesial”: “como conservar um olhar e um agir integrador de tantas polaridades que há no homem, de tantos órgãos de que ele se completa, de tantas antropologias pelas quais ele se deixa ler?”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Uma das maiores apodias do discurso e da proposta eclesial hoje está em que ela tem que falar para vários órgãos ao mesmo tempo”, considerou, referindo-se concretamente à razão e ao coração, lembrando que o homem contemporâneo é simultaneamente filho do iluminismo e do romantismo. “Eis, talvez, o grande desafio antropológico à ação eclesial deste nosso tempo e que talvez explique muitos dos nossos fracassos. Como satisfazer, ao mesmo tempo, o cérebro e o coração quando eles tantas vezes parecem pedir coisas diversas, quando não contraditórias?”, prosseguiu.

“Grande desafio estará também em saber se somos capazes de compreender e acompanhar as mutações antropológicas que já se deram, que se estão a dar e que, seguramente, se darão em tempos próximos. Desatender a este aspeto, ou seja, desatender que a antropologia também é dinâmica, expõe-nos ao perigoso risco de falarmos para um homem que já não existe”, alertou.