Portugal atravessa uma das maiores crises económicas da sua história. As razões, são como se sabe diversas, e os factores que a determinam se por um lado são estruturais da economia portuguesa, por outro são também influenciados pela conjuntura económica mundial.

Em época de crise, o país precisa de uma liderança forte, capaz de encontrar respostas e resolver problemas, de visionar o futuro e mobilizar a sociedade em torno de causas e objectivos comuns. Infelizmente, Portugal atravessa também, para além de uma grave crise económica, uma crise política sem precedentes.

A descrença no poder político, sentida pela maioria dos portugueses, constitui um sintoma evidente do fracasso governativo dos grandes partidos que alternam no poder, sem contudo se mostrarem capazes de corrigir as graves desigualdades sociais que persistem na nossa sociedade.

Como se não bastassem as insuficiências reveladas pela classe política portuguesa na governação do país, a estas juntam-se também um conjunto de “casos” que colocam em causa a seriedade dos agentes políticos.

A recente polémica das escutas telefónicas ao Primeiro-ministro é reveladora do nível de promiscuidade existente entre a política e os interesses económicos e volta a colocar a nu as debilidades de um sistema judicial incapaz de apurar responsabilidades e condenar os protagonistas dos muitos escândalos que enchem as páginas dos jornais.

Como se não bastasse o descrédito dos políticos e da justiça, procura-se agora controlar também a comunicação social, utilizando para isso uma rede de influências duvidosas entre o poder político e os grupos de interesses económicos, para silenciar algumas vozes incómodas que através dos jornais, da rádio e da televisão, ousam questionar a linha de actuação do governo.

As recentes tentativas de condicionamento da imprensa por parte de um poder politico que convive mal com o direito ao contraditório, constituem um sinal preocupante do menosprezo de alguns políticos pela liberdade de expressão, pilar essencial do regime democrático que dizem defender e graças ao qual foram eleitos para servir o país.

As pressões denunciadas por um conjunto de jornalistas na Assembleia da República, constituem em minha opinião um sinal preocupante da degradação que atinge o actual sistema político português, cada vez mais transformado num mero instrumento de poder para uma clientela partidária, que divide entre si os despojos de um aparelho de Estado que serve cada vez menos os portugueses e cada vez mais os interesses de alguns.