Na Audiência Geral de 20 de outubro de 2021, o Papa Francisco refletia sobre o tema Liberdade. Aliás, tem-no feito ao longo do seu pontificado, sempre dando notas muito claras do que nos pede Jesus, relativamente a esta questão.
Ser livre implica várias coisas, sendo a primeira delas a dimensão do outro. Dizia Francisco: «A liberdade egoísta de fazer o que eu quero não é liberdade, porque ela volta para si mesma. Não é fecunda». No egoísmo não há liberdade, porque perdemos essa dimensão do outro, perdemos a capacidade de olhar e ver, que, construir um projeto, nos leva sempre à partilha e a partilha nunca é egoísta, mas é dádiva, ou seja, sinal da liberdade que nos habita e que nos leva a escolher um determinado percurso de vida, por opção própria.
Por isso, a liberdade implica doação, entrega total, sem esperar retorno. Francisco fala de um paradoxo: «Somos livres para servir; e não em fazer o que queremos». No fundo, estamos a falar de um conceito de liberdade que não passa pela vontade pequena e mesquinha de dar cumprimento às nossas vontades, aos nossos desejos, mas sim de uma liberdade enraizada em algo muito maior: o amor. «Encontramo-nos plenamente na medida em que nos doamos; possuímos a vida se a perdemos. (…) Não existe liberdade sem amor», diz o Santo Padre. E não sendo o amor egoísta, não sendo a liberdade um ato hedonista, estamos face a face com um retrato de Cristo, um retrato do Amor encarnado, o Amor que se doou e se fez vida para todos, ao morrer e, depois, ressuscitar. Estamos perante a necessidade de compreender que o cristão livre é aquele que se empenha na construção do bem comum, de uma sociedade mais justa, mais equilibrada, onde todos têm o seu espaço, acesso a todos os serviços, direito a uma vida digna, vivida em paz.
D. José Ornelas, Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) e Bispo de Leiria-Fátima, salientava, na Assembleia Plenária deste organismo, realizada no passado dia 24 de abril, véspera da data maior que se celebra na História de Portugal, o 25 de abril de 1974, que foram dados, ao longo destes 48 anos de democracia, passos «na construção de um país baseado nos valores da dignidade e da abertura sem preconceitos aos outros povos e culturas, como terreno sólido para colaborar na construção de um futuro de real fraternidade, solidariedade e paz para toda a humanidade».
Sem dúvida. Somos, agora, um país multicultural, progressista, que procura criar as melhores oportunidades para todos. Com falhas, é certo. Algumas resultantes, precisamente, de uma noção de Liberdade que não passa pelo entendimento do papel individual, na construção coletiva de uma nação. Outras, que assentam na deseducação; na incapacidade de compreensão dos ambientes em que vivemos (físico e digital) e uma presença positiva em ambos; no não entendimento daqueles que são os gestos reflexivos dos valores fundamentais que nos devem nortear: justiça, honestidade, respeito, humildade, ética. Ou, como com toda a clareza e singeleza mencionava o Sumo Pontífice, aquela liberdade, aquela mais importante, que «é plenamente expressa na caridade» e que «cresce no amor».
Mas espero, de coração, que todos os homens e mulheres cristãos, de boa vontade, tenham em si a força e o desejo de pôr em prática essa Boa Nova, essa determinação de criar o melhor, de se perderem, como escravos voluntários, para que o mundo, o país, a região, a terra de cada um sejam lugares melhores.
Viva a Liberdade!