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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Saiu da Ucrânia há cerca de três meses com a família para fugir à guerra e veio para o Algarve. No último domingo foi uma das 13 crianças que fizeram a primeira comunhão na Igreja Greco-Católica Ucraniana no Algarve.

Este ano, já o grupo da catequista Inna Huyda tinha iniciado na igreja de Santo António do Alto, em Faro, a preparação para o sacramento, quando Volodymyr Li, de 9 anos, veio integrá-lo.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A família Li, para além de Volodymyr, composta ainda pelos pais Alexander e Halyna e pelas irmãs Anna, de sete anos, e Emilia, de cinco, vivia em Kiev. Alexander, nascido na Rússia, mas filho de pais coreanos, trabalhava em duas empresas, numa como engenheiro de redes de computadores e sistemas e noutra como técnico de drones na área da agrotecnologia. Halyna, natural da Ucrânia, era funcionária da Cáritas ucraniana.

Para escapar à ofensiva militar russa, a família Li veio no seu próprio carro até ao Algarve. Percorreram quase 4.500 quilómetros durante cerca de uma semana. Saíram da Ucrânia pela Eslovénia, passando pela Chéquia, Alemanha, França e Espanha até chegarem a Portugal. Passaram cinco dias na estrada, mas a viagem durou mais alguns porque tiveram de permanecer algum tempo nos diferentes países.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O pai, a mãe e o irmão de Halyna Li ficaram na Ucrânia. “O meu sogro e o meu cunhado estão no exército a combater na frente da guerra. Os últimos três meses têm sido muito duros para eles e para nós”, contou Alexander Li ao Folha do Domingo, explicando que os familiares da sua mulher também viviam na capital ucraniana, mas agora “estão em lugares diferentes”. “O nosso apartamento ainda está inteiro, mas de vez em quando caem bombas lá perto. Há cerca de duas semanas uma bomba caiu a 2 quilómetros da nossa casa, muito perto”, acrescentou.

Chegada ao Algarve, a família Li foi morar nos primeiros tempos para Almancil, mas agora reside em Salir, numa casa de dois pisos disponibilizada pela Câmara de Loulé, partilhada com mais três famílias de ucranianos que também fugiram da guerra, num total de 13 pessoas. Alexander, que desde há dois meses começou a trabalhar como eletricista, assegura que já foram mais na residência, mas “muitos já regressaram” ao país de origem.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Ao Folha do Domingo explicou que, chegada ao Algarve, a família, muito comprometida na Igreja Greco-Católica Ucraniana, procurou logo retomar a assídua prática religiosa que tinha no seu país. “Conhecemos muitos bispos e muitos padres”, garantiu Alexander, que manifestou ainda a alegria da família com a etapa da iniciação cristã de tradição bizantina agora realizada pelo filho mais velho.

O pai mostrou-se grato não só pela forma como o filho foi acolhido na catequese pela comunidade ucraniana imigrante, mas também pelo modo como Portugal recebeu a família. “Para além do Governo e da escola, muitas pessoas nos têm ajudado. Têm sido muito simpáticos. Os miúdos estão muito contentes com a escola, apesar de não saberem falar nem perceberem português”, referiu, explicando que os dois filhos em idade escolar têm aulas em Almancil.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Não obstante se sentir bem acolhida, a família Li deseja que a guerra acabe depressa para regressar à Ucrânia. “Temos lá nossa casa, a nossa vida, os nossos amigos. Os miúdos, de vez em quando, pensam na nossa casa e choram”, contou Alexandre.

Um autocarro por semana regressa à Ucrânia

Ivan Makolin, jardineiro há 19 anos em Portugal, veio da Ucrânia na vaga de imigração do início dos anos 2000. Ao Folha do Domingo assegurou que a vinda de refugiados do seu país natal “já parou”. “No início chegaram muitos porque as pessoas estavam assustadas e fugiram, mas muitos já regressaram”, garantiu, acrescentando que todos os domingos sai do Algarve um autocarro com conterrâneos seus que regressam a casa. “Hoje de manhã, mais um autocarro cheio de ucranianos voltou para a Ucrânia”, afiançou, explicando que “as pessoas, aqui no Algarve, têm muita dificuldade em encontrar casa”.

Igreja Greco-Católica Ucraniana no Algarve prepara anualmente crianças para a primeira comunhão (c/fotogaleria)