Gosto de beber um café antes de entrar na escola, de manhã. É um hábito que me ficou dos anos em que fazia muita estrada, calcorreando este Algarve em várias escolas de colocação. É um hábito que tenho ainda hoje e que vou repetindo depois, durante o dia. O sabor do café, o cheiro, o mexer da colher no líquido, mesmo sem deitar o açúcar e a pinguinha de água lá para dentro, para arrefecer. Por isso, acompanhado do café, peço sempre um copo de água. Dependente da cafeína como sou, são vários os que bebo por dia e não consigo, pois, bebê-los quentes. Tenho de lhes deitar umas gotinhas de água que me ajudam depois a bebê-los melhor. Manias, estas, como outras quaisquer.

E por esta mania, comecei a reparar nela. O café onde trabalha (ou será a dona?) é o que tem o que menos gosto. Às vezes é um café deslavado, há lá muita gente e nem sempre consigo aqueles minutos de sossego, só comigo, com as minhas coisas, com aquele-pedacinho-de-tempo-para-organizar-o-dia-antes-de-entrar-na-escola. Mas invariavelmente, é lá que vou. A sua simpatia desarma-me sempre. “É a qualidade que mais aprecio em alguém”, costumo dizer. Aproxima-me das pessoas, quebra-me o gelo, liga-me com um laço fácil, que se aperta logo. E então, o sorriso desta senhora, ao balcão daquele café, a pergunta que me faz, atenta, enquanto me serve o copo- “Gosta do copo de água, não é?” – a mim agrada-me muito, aquele mimo de não ter de pedir, de ela já saber. De já me conhecer e de ter reparado neste gostinho e de ter, depois esta atenção. “Há tanta gente que faz isso, o que tem isso de extraordinário? É sinal que tem bom olho para o negócio, sabe cativar os clientes…” Pode ser. Pode ser, calculo que sim. Reconheço que é um pormenor, isto… mas a vida é feita destes ditos, os pormenores e também sei que há muita gente que não faz isto, como se tivessem de ter, à partida, um pré requisito de antipatia para estarem a atender o público, gente que olha de soslaio, que é antipática, que grunhe, em vez de falar, que não sorri, que olha enviesado, que tem pressa e que, pela pressa, atende mal, que não sabe o que é a cortesia, que não olha ao pormenor. Pois é …. É que, por menor que seja o gesto (que ainda por cima é indolor, leve e grátis), a simpatia vai desarmar-me sempre. Não há volta a dar!