(a propósito daquelas pessoas quase invisíveis…)
Trabalha muitas vezes na sombra. É uma pessoa reservada e não fala muito. Tem contenção nos gestos e diz que se atrapalha quando tem de falar em público. Não gosta de tratar com papéis e estes e as palavras que os compõem, nunca conseguirão abarcar/explicar/fundamentar a generosidade que põe no trabalho que faz com os miúdos. Diz que esta dissociação que tem dos papéis e de uma parte teórica e mais formal que a nossa profissão tem é algo que já aceitou e com a qual aprendeu a lidar. Aparenta uma timidez que me parece real e é daquelas pessoas facilmente cilindradas pela loucura e exigência que se vê hoje em muitos contextos profissionais e, também no meu.
Eu, oposta em muitas áreas, de fácil trato, conversa fluida e algum (acho) à-vontade quando tenho que falar em público, certa de direitos e deveres, reivindicativa, opinativa e (tento…) assertiva, mesmo sentindo que somos diametralmente diferentes ao nível profissional e mesmo achando que tem muitas coisas que mexem com o meu ritmo apressado e rápido de fazer as coisas, fiquei há dias pequenina, perante um exemplo que me deu na resolução de uma situação. As suas quietude e calma a contrariarem uma aparente distração e alheamento e vi, naquela situação concreta, que só continuando com o foco nos miúdos, isto tudo que andamos a fazer não perderá significado.
E então pensei que, se calhar, estas pessoas por quem não damos nada à primeira vista, estas pessoas que são as tais, facilmente esmagadas por um cilindro gigante que clama pelo sucesso e pela eficácia, pelo timming rápido e pela perfeição técnica levada ao extremo, são exatamente aquelas que estão cheias, cheinhas de razão e de sinais que nos devolvem o significado.
Agradeci-lhe logo na hora e partilhei o efeito que o seu gesto teve, mas quis expandir o eco do efeito que estes sinais podem ter em nós. E por isso, escrevo sobre isto. É que a vida está cheia deles, dos sinais…. Temos é que vê-los…
Sim, é isso!