“Se Cristo não tivesse ressuscitado ninguém se lembrava dele nem da sua Mãe”, afirmou ontem em Loulé o padre António de Freitas, na Eucaristia da Festa Pequena em honra de Nossa Senhora da Piedade, popularmente evocada como «Mãe Soberana», que deu início às festividades que irão decorrer nos próximos 15 dias.
“Este é, sem dúvida, alguma o dia mais importante do ano. E disto não podemos ter qualquer dúvida ou então trocamos as peças do lugar devido. É porque Cristo morreu e ressuscitou por nós que estamos aqui. É porque Ele vive que aqui nos reunimos na fé. É porque Ele deu a vida por nós e ressuscitou que nós também celebramos a «Mãe Soberana». É por Ele ter vivido, morrido e ressuscitado que hoje o louvamos e bendizemos, que hoje vivemos a alegria própria da Páscoa e que em Loulé se celebram estes 15 dias tão festivos, como se o Domingo de Páscoa se prolongasse”, advertiu na igreja de São Francisco o sacerdote, antigo pároco das paróquias louletanas, que presidiu à Missa após a descida do santuário mariano algarvio de maior expressão, implantado sobre a colina sobranceira à cidade, com o andor da Mãe Santíssima da Piedade.
O padre António de Freitas prosseguiu desfazendo eventuais equívocos que possam existir. “Muitas vezes, diz-se por aí: «Mesmo que Deus não exista, eu acredito na ‘Mãe Soberana’». É a coisa mais contraditória que pode existir porque é Deus que nos dá esta Mãe. Porque é Deus que nos dá, em Jesus Cristo aos pés da cruz, Maria como nossa Mãe. Ela é a Mãe do redentor Jesus Cristo que está vivo, que ressuscitou, que permanece nas nossas vidas e que nos ofereceu uma Mãe para que nós, não só sintamos a sua presença, viva (a de Jesus), mas também sintamos o consolo vivo e presente da sua Mãe junto de nós”, alertou, considerando ser “importante” que os cristãos tenham isto “muito bem presente” e levem “esta alegria para o mundo”.
Por outro lado, o sacerdote advertiu que “a Festa da «Mãe Soberana» não é o cartaz cultural, nem turístico”. “É muito mais do que isso. A Festa da «Mãe Soberana» é a alma de um povo consciente de que precisa de Deus, consciente das suas fraquezas, mas de que em Deus encontra a força para as superar, para se levantar e continuar a caminhada por vezes muito dura da vida; a consciência do povo de fé que se sabe sempre necessitado do amor de Deus que nos é oferecido em Cristo e também através de Nossa Senhora”, precisou, acrescentando: “Quando vimos aqui à «Mãe Soberana» ou ao seu santuário vimos porque nos sabemos necessitados do amor de Deus que também nos é oferecido através desta Mãe, porque queremos que ela também nos diga hoje: «o meu Filho está vivo, o meu Filho ama-te, o meu Filho não te abandona, o meu Filho estará sempre contigo até ao fim dos dias»”.
O padre António de Freitas referiu que através de Maria se reaprende, “constantemente a colocar o olhar no coração do Pai, no céu, no alto e a encontrar nele a força para continuar”. “E estou certo de que quando cada um de nós vem aqui ou vai lá em cima ao santuário não regressa a casa da mesma maneira. Porque a fé e o cuidado da Mãe nos fazem mergulhar novamente no amor do Pai oferecido em Jesus Cristo que deu a vida por nós. Por isso, apreciemos muito a festa, mas nunca descuidemos a relação íntima, a amizade pessoal com Jesus e com Maria”, pediu.
Desejando que aquela alegria perdure nos corações ao longo do ano, exortou a que não sejam só 15 dias de festa. “Não queiramos só vir ao encontro da Mãe Soberana durante estes 15 dias. Procuremo-la sempre. E peçamos-lhe que nos ensine a encontrar sempre com Jesus Cristo; peçamos que nos ensine a ter fé e confiança no seu filho. Peçamos que nos ajude a confiar sempre que Ele está connosco, mesmo quando parece que Ele vai a dormir na nossa barca. Procuremo-la sempre. Não deixemos que o cartaz dos 15 dias tome conta da nossa vida, mas que a nossa vida seja um permanente cartaz que anuncia a fé cristã, o amor da Mãe e, sobretudo, que anuncia a vida do Filho que nos foi dado pelo Pai e que jamais nos abandona”, afirmou.
Nesse sentido, propôs um “grande desafio”. “Estes 15 dias são uma enorme oportunidade que Deus dá a cada um de nós para nos reencontrarmos novamente com Jesus, com a Mãe e em Jesus e com a Mãe nos reencontrarmos connosco próprios. Não deixemos que passe esta oportunidade. Que estes 15 dias sejam a oportunidade para reavivar a fé, para gritarmos ao mundo que Cristo está vivo e nos ama e que além disso nos ofereceu uma Mãe que nos ajuda sempre a regressar a ele quando por vezes andamos perdidos na vida”, pediu na Eucaristia concelebrada pelo pároco das paróquias de Loulé, o cónego Carlos de Aquino, e pelo reitor do Santuário da «Mãe Soberana», o padre Carlos de Matos.
O ponto de partida daquela que é considerada a maior manifestação religiosa a sul do Tejo – a Festa Grande – que decorrerá no dia 23 de abril, teve início antes, no santuário. Acompanhados por uma multidão e pela banda da Sociedade Filarmónica Artistas de Minerva, os homens do andor subiram até lá para ir buscar o andor com a Pietá algarvia, onde a comunidade já se encontrava a fazer a recitação do rosário.
Na secular ermida, na oração com os homens do andor ajoelhados aos pés da imagem, o cónego Carlos de Aquino dirigiu-se à Virgem, pedindo-lhe pela paz no mundo, nos corações de cada um e nas famílias. “Dá unidade à tua Igreja, Senhora. Faz que no teu regaço, acolhendo o bendito fruto do teu ventre que nos dás, o teu Filho ressuscitado, possamos ser hoje, construtores de bem neste mundo, de paz, de harmonia, de justiça, de verdade. Olha com o teu olhar materno para estes homens que em nome deste povo crente te conduzem à nossa casa de família, ao coração da nossa cidade”, pediu.
Horácio Ferreira emprestou a voz aos restantes homens do andor na prece dirigida. “Nós acreditamos que tu és Mãe e, conforme recebeste o teu Filho morto na cruz, e que hoje é um Filho vivo e ressuscitado, Mãe Santíssima da Piedade e nossa «Mãe Soberana», atende-nos; atende aquilo que vai nos nossos corações que te amam e que te louvam e bendizem por todas as bênçãos que tu e toda a intercessão junto do teu Filho tens por cada um de nós, pelas nossas famílias, por todos. Mãe Santíssima da Piedade protege-nos com o teu manto, com a tua bondade de Mãe e ensina-nos a amar-te cada vez mais e melhor”, afirmou, antes de iniciar o Pai Nosso, seguido da Avé Maria.
Após a oração, teve início então a descida em passo acelerado com o andor até à igreja de São Francisco, no centro da cidade. Ao esforço dos homens oito homens, vestidos de calças e opas brancas, que transportaram a imagem, aliou-se a força espiritual dos fiéis que, em vivas inflamadas a Nossa Senhora da Piedade e aos homens do andor, na cadência musicada dos homens da banda, «ajudaram» a trazer o pesado andor da padroeira até à igreja onde foi recebido com palmas pela multidão que, enchendo o largo, já o aguardava para a Eucaristia.
De 10 a 19 de abril, a igreja de São Francisco acolhe diversos momentos litúrgicos e estará também aberta à oração dos fiéis. No dia 19, pelas 18h30, será apresentada a palestra “Culto e espiritualidade da Senhora da Piedade”, pelo pároco de Loulé, cónego Carlos de Aquino.
Uma das novidades da edição deste ano ocorrerá no dia 21. Pelas 21h, terá início uma procissão solene, dinamizada pelas instituições religiosas, civis e sociais, que irá levar a imagem da padroeira para a igreja matriz de Loulé. Recentemente reabilitada, após profundos trabalhos de restauro, a matriz receberá a imagem de Nossa Senhora da Piedade até ao regresso à sua ermida, no dia 23 de abril. Se nos anos anteriores as festividades estavam apenas associadas à igreja de São Francisco, este ano a organização decidiu incluir também a matriz, também como forma de mostrar a recuperação deste ex-líbris do património religioso louletano.
No sábado, 22 de abril, às 21h, decorrerá ali a Eucaristia dinamizada pelos jovens, presidida já por D. José Alves que este ano preside à Festa Grande. Já às 22h30, a habitual bênção ao Clube Hípico de Loulé acontecerá este ano no Largo da Matriz, com os cavaleiros a prestarem a sua homenagem à padroeira.
O dia maior das celebrações ocorre a 23 de abril, dia da Festa Grande. Às 10h, a missa solene, este ano na igreja matriz, marca o arranque da jornada. Segue-se a procissão para o Largo do Monumento Eng. Duarte Pacheco, onde, pelas 16h, é celebrada uma missa campal com consagração a Nossa Senhora. Tem início depois a grande procissão que percorrerá as principais ruas da cidade e subida da imagem de Nossa Senhora da Piedade ao santuário. É o adeus da padroeira à sua terra e o regresso em apoteose, com a subida do andor ao íngreme cerro onde se implanta o santuário com a pequena ermida que, a poente, se ergue sobranceira a toda a cidade.
O fogo de artifício ao final da noite põe termo às celebrações da «Mãe Soberana».
Destaque ainda para o dia 12 de abril em que, pelas 21h, na igreja de São Francisco será apresentada a nova identidade gráfica da «Mãe Soberana» pela designer de comunicação Andreia Pintassilgo.
Um dos momentos culturais do programa deste ano das festividades é também o concerto final dos dias antigos do Conservatório de Música de Loulé “Professor Francisco Rosado”, a 15 de abril, pelas 18h30, na mesma igreja.
O desporto e atividade física associam-se também à programação e, mais uma vez, decorre o ‘Grande Prémio da Mãe Soberana’. Será no dia 21 de abril, a partir das 15h, com partida e chegada ao Largo de São Francisco.