Segundo o Santuário de Fátima, a primeira peregrinação designada como diocesana ali realizada aconteceu em 1927, oriunda da Diocese de Viseu, mas sob a presidência de um sacerdote, delegado do vigário capitular, porque “a mitra viseense se encontrava vacante”

A Diocese do Algarve foi a primeira a peregrinar a Fátima sob a presidência do seu bispo.

Pese embora a diocese algarvia tenha começado a peregrinar organizadamente a Fátima em 1928 com a participação de mais de 300 peregrinos (conforme o Folha do Domingo divulgou em 2017, aquando da comemoração do centenário das Aparições), só no ano seguinte é que o bispo do Algarve da altura, D. Marcelino Franco, presidiu à iniciativa.

Pormenor da foto que registou a segunda peregrinação da Diocese do Algarve a Fátima, onde se pode ver o bispo D. Marcelino Franco

A peregrinação diocesana no dia 12 de maio de 1929, sob a presidência daquele que foi bispo do Algarve entre 1920 e 1955, constitui assim a primeira de uma diocese a Fátima sob a presidência do seu bispo.

Isso mesmo é confirmado na edição do jornal Folha do Domingo de 24 de abril de 1953, na exortação do então recém-nomeado bispo coadjutor do Algarve, D. Francisco Rendeiro, ao aceder, ainda antes de dar entrada na diocese, ao convite que lhe fora endereçado para presidir à peregrinação daquele ano. “Todos sabem que a primeira Peregrinação diocesana organizada a Fátima foi a do Algarve, presidida pelo seu Prelado, o Senhor D. Marcelino. Desde então que todos os anos lá ia o Venerando Prelado, acompanhando os seus fiéis em devota romagem ao Santuário de Nossa Senhora até que a sua avançada idade e débil saúde forçaram a interromper essas peregrinações”, escreveu, lembrando que “a Diocese do Algarve costuma marcar presença na Fátima” e que “já é tradição e deve ser uma das tradições mais queridas”.

Também o padre António Patrício o assegura na edição do jornal de 11 de maio de 1979. “Fátima é «altar do mundo». Em livro com este título, ao registar-se o movimento crescente na Cova da Iria, ficou escrito: em 13 de Maio de 1929 o Bispo do Algarve trouxe uma numerosa peregrinação da sua diocese. D. Marcelino António Maria Franco foi o primeiro bispo a levar consigo a diocese a Fátima”, escreveu.

O sacerdote falecido acrescenta que “muitas pessoas recordam essas jornadas de oração e sacrifício”. “No comboio especial ou na camioneta, na estação de Tunes ou em Chão de Maçãs, o peregrino nº 1 era o bispo. Foi assim até as forças lhe permitirem. Depois o veio o bispo, apóstolo do Rosário. Em 1951 seria a última vez que D. Marcelino foi a Fátima. Enquanto encerrava-se o ano santo com brilhante presença do legado do Papa. Com 80 anos de idade D. Marcelino não quis faltar. Ao subir, sozinho, a encosta da capela das aparições para a Cruz Alta, para a receção do Cardeal Tedeschini, assomavam-lhe ao rosto os sinais duma caminhada sem forças físicas. O amor à Igreja o alentava”, refere ainda o texto publicado.

Fonte do próprio Santuário de Fátima confirmou ao Folha do Domingo haver uma referência no seu jornal Voz da Fátima à peregrinação organizada pela Diocese do Algarve para participar na peregrinação aniversária de maio de 1929. “Entre as peregrinações organizadas que este mês foram a Fátima, merecem especial menção […] a do Algarve, sob a presidência do seu venerando Prelado, D. Marcelino Franco, grande figura de asceta e de santo”, pode ler-se naquela publicação.

D. Marcelino Franco e a imagem de Nossa Senhora de Fátima

A diretora do Gabinete de Comunicação do Santuário de Fátima acrescenta ainda que aquela só não é considerada a primeira peregrinação diocesana organizada à Cova da Iria porque se conseguiu “identificar uma peregrinação designada como diocesana, oriunda da diocese de Viseu, a participar na peregrinação aniversária de 12-13 de outubro de 1927”. É de salientar, no entanto, que embora nos periódicos consultados a peregrinação seja assumida como diocesana, a verdade é que a mitra viseense se encontrava vacante e que o presbítero Augusto José da Trindade foi nomeado delegado do Vigário Capitular na peregrinação e que o padre José Marinho foi o diretor espiritual desta peregrinação”, acrescenta Carmo Rodeia.

A peregrinação da Diocese do Algarve a Fátima continuou a realizar-se anualmente pelo menos até 1958, sendo presidida sempre pelo bispo D. Marcelino Franco até 1951, como explica o padre António Patrício. A 10 de janeiro de 1953, D. Francisco Rendeiro é nomeado bispo coadjutor do Algarve e a 3 de maio desse ano entra na diocese. D. Marcelino Franco, o bispo natural de Tavira que deu grande impulso à devoção no Algarve a Nossa Senhora de Fátima, viria a falecer a 3 de dezembro de 1955, tendo sido sucedido por D. Francisco Rendeiro.

A primeira posição oficial pública do Vaticano sobre Fátima aconteceu com o Papa Pio XII apenas a 31 de outubro de 1942.

Em 1928 já a Diocese do Algarve peregrinava ao Santuário de Fátima