A Via-sacra contou com textos escritos pelo padre jesuíta Nuno Tovar de Lemos, sacerdote a trabalhar na Diocese do Algarve
Os jovens algarvios participaram esta sexta-feira na Via-sacra da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) presidida pelo Papa Francisco na Colina do Encontro (Parque Eduardo VII) com uma multidão estimada em 800 mil pessoas.

As meditações, escritas por jovens de diversas nacionalidades abordaram as tradicionais 14 estações – momentos ligados à prisão, julgamento e execução de Jesus Cristo – e foram intercaladas por três testemunhos de jovens da Espanha, Portugal e EUA.

As reflexões da Via-Sacra abordaram dramas atuais da realidade juvenil e apresentaram as preocupações das novas gerações sobre temas como a guerra, desemprego, solidão, dependência digital, perseguição religiosa e alterações climáticas e foram acompanhadas por uma cenografia especial no altar-palco onde, ao longo desta semana, passaram algumas das principais bandas e cantores de música cristã do mundo.

A reflexão sobre a condição juvenil apontou ainda ao impacto da intolerância, violência, com referência a “guerras, atentados, tiroteios em massa, mas também violência nos casamentos e nos namoros, abusos de crianças, bullying, abusos de poder”.
“Hoje, só conta quem produz. Não contam os idosos, não contam as pessoas com deficiência, não contam os desempregados, não contam os sonhadores”, assinalaram os jovens.
Questões ligadas a problemas de saúde mental e a distúrbios alimentares também surgiram nos textos, que abriram espaço para a interrogação sobre o futuro do planeta.

“Assistimos ao consumo descontrolado dos recursos da terra, à extinção de espécies, à devastação de florestas. Assistimos assustados às alterações climáticas e sentimo-nos muito inseguros em relação ao futuro. E tudo isto associado a estilos de vida desequilibrados que fazem com que alguns morram à fome enquanto outros fiquem doentes por comerem demais”, advertiram.
A primeira meditação falou num futuro “tirado” às novas gerações, dando início a uma série de alertas, que evocam, entre outros, “muitas pessoas que tentam desesperadamente fugir de situações desumanas”.

“Fogem da guerra, da fome, da falta de água, das perseguições políticas. A sua casa deixou de ser o seu abrigo e passou a ser o lugar provável da sua morte”, podia ler-se, no texto disponível na aplicação móvel oficial da JMJ Lisboa 2023.
Os temas das meditações da Via-Sacra da JMJ 2023 nasceram da auscultação aos 20 jovens dos cinco continentes que fazem parte do ‘International Youth Advisory Body’ (grupo de consultores) do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, criado após o Sínodo de 2018, cujo tema foi “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.
A Via-sacra contou ainda com textos escritos pelo padre jesuíta Nuno Tovar de Lemos, sacerdote a trabalhar na Diocese do Algarve, e com telas pintadas pelo jesuíta Nuno Branco. Segundo Ponto SJ, o portal dos jesuítas em Portugal, a Companhia de Jesus foi desafiada pela organização da JMJ para pensar esta celebração e começou há dois anos a trabalhar na conceção deste que foi um dos eventos centrais desta semana.
Os artistas em palco foram os jovens do projeto Ensemble 23, jovens católicos de vários países que estudam artes performativas.
O Papa evocou as “lágrimas” das novas gerações. “Faço-vos uma pergunta, mas cada um responde para si: choro, de vez em quando? Há coisas na vida que me fazem chorar? Todos choramos na vida, ainda choramos, e aí está Jesus, Ele chora connosco”, disse, no início da celebração.

Francisco pediu um momento de silêncio, para que cada um “diga a Jesus por que razão chora na vida”. “Jesus, com a sua ternura, enxuga as nossas lágrimas escondidas. Jesus espera colmar, com a sua proximidade, a nossa solidão. Que tristes são os momentos de solidão”, declarou.
O Papa falou de medos “obscuros” que afetam as pessoas, convidando todos a “abraçar o risco de amar”. “Há que correr o risco de amar. É um risco, mas vale a pena”, sustentou.
“Jesus caminhou, curando os doentes, dando atenção aos pobres, fazendo justiça, caminhou pregando, ensinando. Jesus caminha, mas o caminho que mais está gravado no nosso coração é o caminho do Calvário, o caminho da cruz”, referiu Francisco, que deixou de lado o discurso preparado.

O Papa falou de um Deus que “sai de si mesmo”, para caminhar no meio da humanidade e que “faz isso por amor”.
Francisco apontou à Cruz Peregrina, que acompanha cada JMJ, como sinal do “amor maior”, o de Jesus Cristo, que quer “abraçar” a vida de cada pessoa.
“Jesus caminha por mim. Temos de dizê-lo, todos, começa este caminho por mim, para dar a sua vida por mim. E ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos, pelos outros. Não se esqueçam disto”, acrescentou.
O Papa citou uma frase que o impressiona: “Senhor, pela tua inefável agonia, posso acreditar no amor”.
“Jesus caminha, mas espera algo, espera a nossa companhia, que olhemos, não sei, espera abrir janelas da alma de cada um de nós. Que feias são as almas fechadas”, declarou.
com Agência Ecclesia