Vagueia muitas vezes pelo meu pensamento. Vai passeando por aqui e sinto-a como uma presença que me leva a trocar mensagens com ela com alguma frequência. Está a passar por um problema delicado de saúde e dizia-lhe há dias que os meus problemas são uma migalha, perto dos dela. Quase que me sinto culpada de chamar às minhas coisas, “problemas”, mas depois recuo e racionalizo lucidamente. Sim, há problemas maiores que os nossos, sempre haverá, essa é uma verdade de La Palisse, mas esses outros problemas nunca serão os nossos, por mais empáticos que sejamos. Estes, os nossos, terão sempre uma enormidade diferente em nós, farão sempre cá dentro um barulho próprio, porque somos nós que os sentimos, os gerimos, os integramos na vida imperfeita e multi, multi, multi (leia-se, cheia….) que temos. Somos nós que acordamos todos os dias com eles, que temos que os fazer caber nas outras coisas que a vida tem, que temos que lhes arranjar espaço suave, ou o mais suave possível, somos nós que temos que os pôr no seu devido lugar, dando-lhes a importância que têm e fazendo jus à tal escolha, que é nossa, para a resposta, que lhes damos.

Mas aceito que os problemas dos outros, como dizia a essa amiga, nos podem ajudar a dar ao nosso problema, um peso real, depois de tirada a embalagem, o ar, o pó, como se só o peso líquido interessasse e não o peso total do pack.

Às vezes, sinto-me mesmo miserável por chamar “problema” àquelas coisas que me preocupam por estes dias, sobretudo quando posiciono essas coisas lado-a-lado com outras coisas de outros, que acompanho. Mas também não quero sentir-me culpada por ser genuína, por as sentir; não quero ficar esvaída de um sentir autêntico perante as “minhas coisas”. Não quero deixar de as chorar, de lhes bradar, de ter para com elas desabafos e reações que são só minhas. Elas, essas coisas, são o que são e sinto-as genuinamente, verdadeiramente, enfaticamente. Devo é, se calhar e logo a seguir, vê-las só com o seu peso líquido. É menor, certamente do que o invólucro todo. A carga ficará relativizada, suavizada, contextualizada. Mas fogo, é difícil, isto, muito difícil.