O ex-secretário do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica (Santa Sé) pediu esta segunda-feira ao clero das dioceses do sul para que assuma as “atitudes, sentimentos e ações” de Cristo.

“Se não amamos, não somos misericordiosos, compassivos e não temos a ternura do coração de Cristo seremos tudo menos sacerdotes à imagem de Cristo bom pastor”, advertiu D. José Rodríguez Carballo que refletiu sobre o tema “O panorama das Vocações Sacerdotais na Igreja Católica. Mudanças e Desafios” na atualização do clero das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal que teve início em Albufeira, com a participação de 77 elementos e que contará com nove conferencistas, tendo como pano de fundo a temática “Presbíteros, «à imagem e semelhança» do Bom Pastor”.

Aquele formador começou por explicar que os pastores devem ser “servos” porque “a dimensão do servir é o que deve caraterizar a vida do sacerdote”. “Não é um aspeto entre outros, mas o conteúdo fundamental do que a Ratio fundamentalis [decreto orientador para a formação de futuros padres católicos] define como a união com Cristo, bom pastor”, sustentou, lembrando que “a ordenação presbiteral exige de quem a recebe uma entrega total para servir o povo de Deus à imagem de Cristo esposo”.
“Unindo-se com Cristo e com os seus sentimentos de misericórdia, amor e compaixão, o sacerdote pode ser verdadeiramente um servo que colabora na alegria das pessoas que lhe foram confiadas, partilha a sua história”, prosseguiu.

O arcebispo da Ordem dos Frades Menores (franciscanos), que é também coadjutor da Arquidiocese de Mérida-Badajoz (Espanha), pediu aos pastores para sejam “servos e não senhores”. “Ser servos e não senhores trata-se da nossa identidade porque é a identidade de Jesus”, afirmou, acrescentando: “Não nos fizemos sacerdotes para nós. Fizemo-nos sacerdotes para os outros”. “Aqueles que têm a missão de dirigir na Igreja — papas, bispos, sacerdotes — são chamados a assumir não a mentalidade de líder, mas a de servo à imitação de Jesus”.
D. José Rodríguez Carballo lembrou que aliadas à característica de servo estão a de discípulo e a de pastor. “O itinerário discipular, que fundamenta a vida sacerdotal no estar com o Senhor para aprender dele, é o que permite unir o coração a ele e converter-se assim em pastores do povo de Deus”, afirmou.

Neste sentido, lembrou que o “discipulado aplica-se tanto à etapa inicial da formação sacerdotal, no Seminário menor e maior, como durante toda a vida”, lembrando que “o discipulado não termina com a imposição das mãos” no momento da ordenação. “É precisamente nesse momento que começa o verdadeiro discipulado”, ressalvou, acrescentando que “ser discípulo deve converter-se numa dimensão fundamental da identidade sacerdotal”. “O sacerdote é uma pessoa que foi chamada para seguir o Mestre. Não é dono nem da fé, nem da vocação, nem do ministério que exerce. Foi convidado a entrar na dinâmica de um caminho feito da escuta da palavra do Senhor, de amizade pessoal com Ele”, sustentou.

O arcebispo espanhol desafiou o clero a “conhecer as ovelhas” porque “caminhar com elas é fundamental no sacerdote”. “Senão seremos funcionários”, alertou, acrescentando que a “proximidade entre o pastor e as ovelhas é o que se exige também ao sacerdote”.
O palestrante disse que os sacerdotes têm de “ser homens que escutam”. “Não é suficiente ouvir, é preciso escutar, deixar-se interrogar pelo que ouvimos para entrar na vida dos outros”, distinguiu, desafiando-os também a “não ser profetas da desgraça”, mas “da esperança”. “Um padre não pode ser padre se não for profeta da esperança”, lembrou.

Pedindo aos sacerdotes que para além de “servidores” sejam “irmãos de todos”, defendeu a necessidade de “fomentar a fraternidade sacerdotal”, que disse ser diferente da “fraternidade religiosa”. “Uma das doenças mais graves da Igreja hoje é a solidão, daí a importância da fraternidade. Os religiosos que vivam em fraternidade religiosa e vós, diocesanos, em fraternidade diocesana”, alertou, pedindo também atenção ao isolamento que disse não ser positivo e apelando a que não se convertam em “prisioneiros do lamento e da resignação, correndo o risco de apagar a paixão pelo ministério” porque “um sacerdote tem de ser apaixonado”.

Por fim, exortou a “lutar muito contra a mediocridade” “com as armas do Espírito e da oração”.
O arcebispo espanhol fará amanhã uma nova reflexão sobre o“Perfil do Presbítero para o Século XXI, que a Igreja e o Mundo esperam” na atualização do clero das dioceses do sul, promovida pelo Instituto Superior de Teologia de Évora, que está a decorrer no hotel Alísios e que se prolongará até sexta-feira, 19 de janeiro.

Na formação, para além dos bispos das quatro dioceses estão também a participar o recentemente bispo eleito de São Tomé e Príncipe, D. João de Ceita Nazaré, e o bispo emérito daquela diocese, D. Manuel António dos Santos, a colaborar nas paróquias algarvias de Tavira.