O ex-secretário do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica (Santa Sé) pediu esta segunda-feira ao clero das dioceses do sul para que assuma as “atitudes, sentimentos e ações” de Cristo.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Se não amamos, não somos misericordiosos, compassivos e não temos a ternura do coração de Cristo seremos tudo menos sacerdotes à imagem de Cristo bom pastor”, advertiu D. José Rodríguez Carballo que refletiu sobre o tema “O panorama das Vocações Sacerdotais na Igreja Católica. Mudanças e Desafios” na atualização do clero das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal que teve início em Albufeira, com a participação de 77 elementos e que contará com nove conferencistas, tendo como pano de fundo a temática “Presbíteros, «à imagem e semelhança» do Bom Pastor”.

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Aquele formador começou por explicar que os pastores devem ser “servos” porque “a dimensão do servir é o que deve caraterizar a vida do sacerdote”. “Não é um aspeto entre outros, mas o conteúdo fundamental do que a Ratio fundamentalis [decreto orientador para a formação de futuros padres católicos] define como a união com Cristo, bom pastor”, sustentou, lembrando que “a ordenação presbiteral exige de quem a recebe uma entrega total para servir o povo de Deus à imagem de Cristo esposo”.

“Unindo-se com Cristo e com os seus sentimentos de misericórdia, amor e compaixão, o sacerdote pode ser verdadeiramente um servo que colabora na alegria das pessoas que lhe foram confiadas, partilha a sua história”, prosseguiu.

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O arcebispo da Ordem dos Frades Menores (franciscanos), que é também coadjutor da Arquidiocese de Mérida-Badajoz (Espanha), pediu aos pastores para sejam “servos e não senhores”. “Ser servos e não senhores trata-se da nossa identidade porque é a identidade de Jesus”, afirmou, acrescentando: “Não nos fizemos sacerdotes para nós. Fizemo-nos sacerdotes para os outros”. “Aqueles que têm a missão de dirigir na Igreja — papas, bispos, sacerdotes — são chamados a assumir não a mentalidade de líder, mas a de servo à imitação de Jesus”.

D. José Rodríguez Carballo lembrou que aliadas à característica de servo estão a de discípulo e a de pastor. “O itinerário discipular, que fundamenta a vida sacerdotal no estar com o Senhor para aprender dele, é o que permite unir o coração a ele e converter-se assim em pastores do povo de Deus”, afirmou.

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Neste sentido, lembrou que o “discipulado aplica-se tanto à etapa inicial da formação sacerdotal, no Seminário menor e maior, como durante toda a vida”, lembrando que “o discipulado não termina com a imposição das mãos” no momento da ordenação. “É precisamente nesse momento que começa o verdadeiro discipulado”, ressalvou, acrescentando que “ser discípulo deve converter-se numa dimensão fundamental da identidade sacerdotal”. “O sacerdote é uma pessoa que foi chamada para seguir o Mestre. Não é dono nem da fé, nem da vocação, nem do ministério que exerce. Foi convidado a entrar na dinâmica de um caminho feito da escuta da palavra do Senhor, de amizade pessoal com Ele”, sustentou.

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O arcebispo espanhol desafiou o clero a “conhecer as ovelhas” porque “caminhar com elas é fundamental no sacerdote”. “Senão seremos funcionários”, alertou, acrescentando que a “proximidade entre o pastor e as ovelhas é o que se exige também ao sacerdote”.

O palestrante disse que os sacerdotes têm de “ser homens que escutam”. “Não é suficiente ouvir, é preciso escutar, deixar-se interrogar pelo que ouvimos para entrar na vida dos outros”, distinguiu, desafiando-os também a “não ser profetas da desgraça”, mas “da esperança”. “Um padre não pode ser padre se não for profeta da esperança”, lembrou.

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Pedindo aos sacerdotes que para além de “servidores” sejam “irmãos de todos”, defendeu a necessidade de “fomentar a fraternidade sacerdotal”, que disse ser diferente da “fraternidade religiosa”. “Uma das doenças mais graves da Igreja hoje é a solidão, daí a importância da fraternidade. Os religiosos que vivam em fraternidade religiosa e vós, diocesanos, em fraternidade diocesana”, alertou, pedindo também atenção ao isolamento que disse não ser positivo e apelando a que não se convertam em “prisioneiros do lamento e da resignação, correndo o risco de apagar a paixão pelo ministério” porque “um sacerdote tem de ser apaixonado”.

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Por fim, exortou a “lutar muito contra a mediocridade” “com as armas do Espírito e da oração”.

O arcebispo espanhol fará amanhã uma nova reflexão sobre o“Perfil do Presbítero para o Século XXI, que a Igreja e o Mundo esperam” na atualização do clero das dioceses do sul, promovida pelo Instituto Superior de Teologia de Évora, que está a decorrer no hotel Alísios e que se prolongará até sexta-feira, 19 de janeiro.

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Na formação, para além dos bispos das quatro dioceses estão também a participar o recentemente bispo eleito de São Tomé e Príncipe, D. João de Ceita Nazaré, e o bispo emérito daquela diocese, D. Manuel António dos Santos, a colaborar nas paróquias algarvias de Tavira.