A psicóloga Carla Tomás é perentória em garantir que “as pessoas religiosas mostram uma maior capacidade para se adaptar ao processo de luto”.

“As investigações são clarinhas, clarinhas, clarinhas”, assegurou aquela investigadora na área da psicologia da religião e da espiritualidade na intervenção que teve na formação para ministros das exéquias promovida pela Diocese do Algarve, através do Secretariado Diocesano da Liturgia, Música Sacra Novas Igrejas e Espaços Pastorais.

“Os estudos que têm sido feitos demonstram que, de uma forma geral, as pessoas religiosas e espirituais são pessoas que, em termos da sua saúde física e da sua saúde psicológica, apresentam melhores valores. Isto tem a ver exatamente com este conjunto de recursos adicionais que as pessoas espirituais e religiosas têm e que quem não é religioso ou espiritual não tem”, afirmou a psicóloga em declarações ao Folha do Domingo, considerando que “quem é religioso e espiritual, para além dos recursos laicos acrescenta estes recursos espirituais” para lidar com a questão da morte.

A psicóloga Carla Tomás – Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Doutorada em psicologia com dissertação dedicada ao estudo entre a espiritualidade e a resiliência, Carla Tomás garante assim que a espiritualidade é uma mais-valia para se poder viver melhor a questão do luto. “Manter esta relação forte com Deus e forte com nossa comunidade religiosa obviamente que vai ser uma mais-valia para qualquer pessoa se adaptar neste processo”, reforçou.

“Sabemos que a vida não é imune ao stresse, às dificuldades e nestes pontos de rutura na vida das pessoas, o facto de termos esta relação estabelecida com o divino vai ser muito facilitador porque, como vimos, a pessoa vai sentir que não está só, que tem sempre o apoio de Deus e que tem alguém que a escuta, que lhe dá suporte e que também tem ao seu lado alguém que a vai ajudar”, prosseguiu, acrescentando que “isso permite que a pessoa se sinta mais no controlo da sua vida porque não está sozinha, porque tem alguém que vai ajudar”. “Quem é religioso e espiritual acredita que tem poder para resolver as suas dificuldades com a ajuda de Deus”, completa.

A especialista referiu-se ainda à importância de incluir a dimensão da psicologia naquelas formações. “É muito importante porque temos, às vezes, uma ideia de como se vive o luto baseada na nossa experiência pessoal e o facto de percebermos e termos maior conhecimento de como é que, do ponto de vista psicológico, se processa este trabalho vai facilitar uma maior compreensão de quem está à nossa frente e de como podemos atuar com a pessoa no sentido de ajudar a ultrapassar esta fase difícil. Quanto melhor eu estiver informado e perceber que algumas reações não são assim tão fora da caixa, perceber que o luto é muito individualizado e expressa-se de múltiplas formas, vai facilitar também a minha relação com as pessoas enlutadas”, sustentou.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A psicóloga na formação que decorreu no Centro Paroquial de Loulé referiu-se à “arte de escutar e sofrer juntos, acolher e acompanhar” e versou todas as dimensões humanas, antropológicas. A formadora referiu-se aos “fatores que influenciam a vivência do luto”, às suas “sensações físicas”, “cognições” e “comportamentos”. Abordou ainda o “crescimento pós-traumático” e “a importância do autocuidado para a pessoa em luto e para quem cuida dela”. Sobre a espiritualidade no luto enumerou ainda “recursos, práticas, virtudes e valores espirituais” e garantiu que, “de todos os lutos”, é “o mais difícil” é “o da perda de um filho”.

A psicóloga explicou ainda ao Folha do Domingo que o interesse pela área da espiritualidade e da religiosidade surgiu da sua experiência pessoal. “Sou uma pessoa religiosa e Deus tem um papel muito importante na minha vida. Depois também me fui apercebendo que não havia no nosso país – já fiz o doutoramento há seis anos – muitos estudos feitos nesta área. Agora já vai aparecendo alguma coisa. Então, resolvi que a minha tese de doutoramento seria nesta área, tentando perceber qual é o papel da espiritualidade na resiliência e cheguei à conclusão de que as pessoas espirituais apresentam maiores níveis de resiliência do que as pessoas não espirituais”, contou, acrescentando que a partir de então ficou o “encanto pela área” e toda a investigação que tem feito segue nesse sentido.

Diocese do Algarve formou ministros das exéquias para acompanharem as pessoas em luto