Depois de o ter feito em 2017 e 2019, a Diocese do Algarve voltou a promover na passada segunda-feira, 01 de abril, uma formação certificada para empresas que organizam casamentos (wedding planners) na sua área de jurisdição.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A iniciativa, que teve lugar em Faro, no Seminário de São José, contou com quase 30 representantes de cerca de uma dezena daquelas organizações, de uma empresa de serviços musicais para casamentos e outras cerimónias e eventos e da Associação de Turismo do Algarve. Participaram ainda no encontro três párocos, um diácono que colabora com o prior em duas paróquias e duas secretárias paroquiais. 

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No início da formação, o bispo do Algarve explicou aos participantes que aquela iniciativa procurou “dignificar mais” o seu serviço e a celebração por aqueles que procuram as igrejas do Algarve para celebrar o seu Matrimónio. “Penso que esta formação vai ajudar nesse sentido, ajudar a encontrar princípios inspiradores e norteadores que nos ajudam a conseguir essa dignificação”, sustentou D. Manuel Quintas. 

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Na introdução que fez, o diretor do Setor da Pastoral do Turismo da Diocese do Algarve, que levou a cabo a formação, lembrou que recebeu pela primeira vez uma wedding planner em 2008 e garantiu que nos últimos 16 anos “o negócio subiu imenso”. “A última formação realizada pela diocese foi em 2019 e estamos em 2024 e posso contar pelos dedos as empresas repetidas que estão aqui”, observou o padre Miguel Neto.

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Aquele responsável lamentou haver um “desconhecimento mútuo”, de “grande parte” daquelas agências “em relação ao funcionamento da Igreja e da Igreja em relação ao trabalho das wedding planners”. “As agências com que estamos habituados a lidar são as funerárias”, constatou, advertindo que “o desconhecimento gera a desconfiança e a desconfiança gera problemas”. “Há uma série de questões culturais que temos de tentar ultrapassar e compreender”, defendeu, acrescentando: “cada vez casam-se menos pessoas e devemos valorizar aquelas que casam”.

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O diretor do Setor Diocesano da Pastoral do Turismo considerou mesmo que o panorama em Portugal e na bacia do Mediterrâneo não é diferente. “Não tenho conhecimento de qualquer outra região de Portugal ou do sul de Espanha, de Itália ou Malta em que haja uma diocese que se preocupe em trabalhar e articular o funcionamento das wedding planners. Não é para elogiar o trabalho que fazemos aqui ao nível da Pastoral do Turismo. É para chamar a atenção em relação a um aspeto: estamos a trabalhar sob o vazio. Não temos termo de comparação”, afirmou. 

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O sacerdote explicou às representantes das agências que a informação que têm de apresentar aos clientes consta no sítio da Pastoral do Turismo da diocese algarvia com tradução para língua inglesa. O padre Miguel Neto disse-lhes que os passos inerentes ao processo de transferência de casamentos de outros países para Portugal e, concretamente, para o Algarve pode levar entre “seis meses a um ano”. 

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Aquele responsável explicou ainda que nenhum sacerdote pode celebrar um casamento numa paróquia “sem ser o pároco ou alguém autorizado por ele” e acrescentou que “o pároco não é obrigado a dar autorização e pode ter imensos motivos para o fazer”. 

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A segunda parte da formação foi realizada pelo diretor do Departamento da Pastoral Litúrgica da Diocese do Algarve. O cónego Carlos de Aquino começou por considerar que a constituição das paróquias é hoje “uma realidade dinâmica” que “lança imensos desafios”. “Embora percebamos que é muito importante as pessoas viverem a fé situadas, terem uma comunidade de referência, hoje percebemos que a paróquia é um conceito muito mais dinâmico. E, nesta questão de acolhimento aos casamentos que vêm de fora, também se colocam imensos desafios à Igreja”, sustentou, considerando que “as pessoas têm direito a celebrar a sua fé e a fazê-lo com dignidade, alegria e festa” e que a questão da celebração de casamentos estrangeiros deve ser organizada com uniformidade para evitar diferenças de procedimentos. 

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O liturgista defendeu que “a casa da Igreja não pode ser um espaço emprestado a quem vem de fora casar”. “Aquela casa tem de ser a casa da família e a família da casa tem de acolher”, explicou, considerando esta “uma questão frágil porque quando as pessoas não são daquela casa até podem não sentir aquele espaço como casa de família”, mas como “casa emprestada só porque é bela (ou por outros motivos) para celebrar um acontecimento mais especial”. 

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Por outro lado, o formador clarificou que o casamento, celebrado no contexto da “casa da Igreja”, “é um sacramento” e que “sacramento é um sinal eficaz que realiza aquilo que na verdade significa”. O cónego Carlos de Aquino frisou que os noivos é que são os ministros do sacramento e que “o padre está em nome da Igreja, confirma aquela união, mas não é ele o presidente”.

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Tendo detalhado o que prevê o ritual da celebração do Matrimónio, e num plano mais prático, explicou, por exemplo, que é indicado que “os cânticos a utilizar sejam adequados” ao rito do sacramento “e exprimam a fé da Igreja”, os chamados “cânticos litúrgicos”. “Mas o que é que é isso de litúrgico? Será um cântico litúrgico algo que não nos leva a participar, em que ficamos ausentes e não nos ajuda a contemplar o mistério?”, questionou, considerando “adequado” o cântico “que exprime e faz cantar a fé e participar a comunidade”.