Vem a propósito notar que as circunstâncias em que vivemos actualmente são muito semelhantes às que levaram à publicação do Manifesto ao serviço do “Personalismo”: é a questão económica à volta da qual gira o mundo neste tempo de «mundialização» sem dúvida, com uma dinâmica peculiar, mas que enraíza nos mesmos erros da sociedade e no desrespeito dos mesmos valores…
Hoje quem conquista ou pretende conquistar o mundo são empresas ou grupos de empresas sem rosto, sociedades anónimas multinacionais quase todas elas sediadas nos Estados Unidos da América.
O poder político encontra-se, hoje, incapaz de controlar a vida dos povos e de se opor a essas forças e deixa-se contaminar por elas.
A este propósito citemos Mounier: “o económico pode resolver-se separadamente do político e do espiritual aos quais está intrinsecamente subordinado, e no estado normal das coisas ele não é mais do que um conjunto de instrumentos ao seu serviço”.
Diz-se e é verdade que, hoje, tudo é comandado pelo lucro, o grande objectivo tornado divindade a que o Manifesto se refere neste termos: «A economia capitalista tende a organizar-se de um modo inteiramente independente da pessoa, para um fim quantitativo: o lucro».
E continua: “o lucro capitalista não se regula segundo a atribuição normal de acordo com o serviço prestado ou com o trabalho produzido: se assim fosse, seria um motor da economia”.
Mounier defende, pois, o princípio de uma economia ao serviço da pessoa e diz: “uma economia personalista regula o proveito de acordo com o serviço prestado na produção, a produção de acordo com o consumo, e o consumo de acordo com uma ética das necessidades humanas reposta na perspectiva total da pessoa”.
Mounier defende também o primado do trabalho sobre o capital, o primado da responsabilidade pessoal sobre a estrutura anónima, o primado do serviço social sobre o lucro.
Com certa veemência proclama que o trabalho é uma obrigação universal e que o direito ao trabalho é um direito inalienável da pessoa…
De facto, o Manifesto de Emmanuel Mounier é um manancial tão rico de matéria de natureza económica que sobre ele se deveriam debruçar sobretudo os nossos políticos e os nossos economistas.
Se fossem tidos em conta os princípios defendidos por Mounier, de certo as reformas no campo laboral e social teriam um rumo mais consentâneo com a justiça social…