"No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro e viu a pedra retirada do sepulcro."

A frase inicial do texto evangélico, retirado do Evangelho segundo S. João, que escutamos no domingo de Pascoa aponta-nos para uma reflexão sobre a forma como cada um de nós se relaciona com "a pedra retirada do sepulcro" e o consequente sepulcro vazio.

Existem duas formas de encararmos a pedra removida do sepulcro. Primeiro, podemos seguir o exemplo de Maria Madalena que com desesperança e ansiedade correu alarmada, olhando o sepulcro vazio como o lugar da fuga de Deus em relação ao Homem. Desta forma, a pedra removida e o sepulcro vazio são sinais de que Deus abandonou o Homem. Deixando-o, depois de o Homem ter crucificado o próprio Filho de Deus. Já não há mais nada que ligue o Homem e Deus. Havendo somente um túmulo vazio nessa relação. Este sentimento de falta de esperança, de ansiedade perante o vazio constante da nossa vida sem Deus, acontece-nos quando procuramos configurar Deus à nossa vida. Queremos que o Senhor nos dê as respostas que pensamos ser as ideais. Não vamos ao Seu encontro de coração livre e disponível para acolher os seus desígnios para nós, para a humanidade. Se Deus não está onde queremos que ele esteja, acontece o vazio, o desespero, e em vez de procurarmos, anunciamos que ele não está lá, foi levado, não existe, havendo somente um longo e desesperante vazio.

Por outro lado, podemos seguir a postura dos discípulos, que vão ao túmulo vazio de coração livre e disponível para procurar nele sinais da presença de Deus. São dois homens débeis e frágeis. Um deles, apesar de ser a referência do grupo, chegou, na sua debilidade e fragilidade, a negar que tivesse feito a experiência de Cristo Homem. Porém, porque consciente dessa sua debilidade, foi procurar, de coração sedento de ser preenchido, fazer a experiência de Cristo Ressuscitado. São os débeis, os fracos conscientes da sua fragilidade, que mais procuram e encontram sinais de Cristo Ressuscitado no vazio das suas vidas. O ver e acreditar do Discípulo amado e depois do próprio Pedro, é o ver e acreditar de alguém que procura encontrar no vazio sem esperança da sua vida e nos sinais da sua debilidade humana, a certeza da fé e da esperança vinda do alto. Sabe que Deus nunca foge, nunca é levado, mas pelo contrário é encontro que transforma e configura a nossa vida.

Fazer a experiência de Cristo Ressuscitado é saber que a fé não nos evita de cair, não nos retira a debilidade, mas ajudamos a levantar e a olhar para o alto. Liga-nos permanentemente Àquele que com a sua ressurreição, dá-nos a certeza da esperança que o encontro com o Amor de Deus é possível apesar das nossas debilidades, fragilidades e crises humanas. Os sinais da sua presença, da sua ressurreição estão aí. Saibamos abrir o nosso coração para que a presença de Deus faça-se notar no mundo através de nós! Feliz Pascoa! Que o encontro com Cristo Ressuscitado configure as nossas vidas!

Miguel Neto