Algumas dezenas de pessoas, maioritariamente ucranianas, assinalaram em Faro no último sábado um ano de guerra na Ucrânia, manifestando-se pela paz naquele país da Europa.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A iniciativa, promovida pela Associação de Ucranianos no Algarve (AUA), pelo Centro Educativo e Cultural Luso-Ucraniano ‘Escola Tarás Shevtchenko’ e pela Igreja Greco-Católica ucraniana, teve início de manhã com uma oração pela paz na ermida de Santo António do Alto presidida pelo padre Oleg Trushko, assistente da comunidade ucraniana no Algarve.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Após a celebração, seguiu-se uma marcha que desceu a avenida 5 de Outubro até ao jardim Manuel Bivar na baixa da capital algarvia. Pelo caminho, os participantes entoaram palavras de ordem como “Com o mundo unido, Putin será vencido”, “Com o mundo unido a Ucrânia não será vencida”, “Terror-Rússia deixa a Ucrânia em paz”, “Putin, tira as mãos da Ucrânia” ou “Obrigada, Portugal”. À passagem da marcha, muitos transeuntes batiam palmas ou gritavam “Glória à Ucrânia” e alguns automobilistas buzinavam em sinal de apoio.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Durante o trajeto, foram reproduzidos os sons das sirenes que se ouvem diariamente na Ucrânia. O presidente da AUA, que encabeçou a manifestação com a diretora da ‘Escola Tarás Shevtchenko’, recordou que o país desperta há um ano com aquele alerta de ataque aéreo. “Tocou 19.000 vezes este ano, o alarme que acorda os ucranianos à noite e de dia”, contabilizou Igor Korbelyak.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo
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Família de refugiados da guerra – Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

À chegada ao jardim Manuel Bivar, os participantes na marcha, que contou com alguns refugiados da invasão militar da Rússia, fizeram um minuto de silêncio em memória das vítimas na Ucrânia, aqueles que pereceram durante este ano e em “muitos anos de guerra da Ucrânia contra a Rússia”.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Seguiram-se intervenções e testemunhos de diversas personalidades. De entre elas, a de Igor Korbelyak para agradecer o apoio português no acolhimento “de braços abertos” de compatriotas seus que fugiram e na ajuda humanitária organizada e enviada para o seu país. “Muitas vezes disponibilizaram as próprias casas e dividiam com os refugiados comida e calor das famílias”, recordou, lembrando que o “contributo” e “enorme onda de solidariedade dos portugueses que organizaram os inúmeros pontos de recolha de ajuda nas próprias casas e lojas”.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Korbelyak lembrou ainda o apoio de vários municípios que “organizaram transporte e acolhimento de refugiados”. A AUA agradeceu concretamente à Câmara de Faro pelo “apoio constante e ajuda na resolução de problemas”, bem como às câmaras de Castro Marim e Tavira pelo transporte de ajudas até à Ucrânia. “Instituições tais como a Proteção Civil, os bombeiros, a polícia e outras permitiram-nos enviar mais de 100 toneladas de ajuda humanitária àqueles que sofreram e continuam a sofrer com os ataques constantes e bombardeamentos das tropas russas”, contabilizou, agradecendo ainda ao município do Barão pelo autocarro enviado para a Ucrânia em parceria com a sua associação.

“Infelizmente a guerra ainda não acabou”, lamentou, acrescentando que a “cada dia, na Ucrânia perdem-se as vidas de homens, mulheres e crianças”. “Centenas por dia ficam sem teto e sem condições de viver. Falta comida, medicamentos e outros bens essenciais”, relatou.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Korbelyak defendeu que os ucranianos não podem parar de lutar para tentar chegar a acordo com a Rússia. “Este ano mostrou-nos que nem os dirigentes da Rússia nem o povo russo quer viver em harmonia e paz com outros povos. As ambições deles de superioridade e de direito de domínio na Europa e no mundo vai ser uma ameaça constante”, justificou, considerando que este foi “um ano de resistência da Ucrânia, de luta pela liberdade e pelos valores democráticos, pela segurança na Europa e pela paz no mundo”. “Só a vitória da Ucrânia é capaz de destruir o império do mal e trazer a todos a tão desejada paz. Para este dia da vitória chegar mais rápido possível, todos temos de continuar a apoiar a Ucrânia. A ajuda de cada um de nós faz toda a diferença”, concluiu.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Em representação da Câmara de Faro, a vereadora Sophie Matias garantiu que a autarquia “continuará a estar solidária com a Ucrânia, a ajudar naquilo que puder todos os ucranianos e todos aqueles que quiserem e conseguirem chegar até Faro”. “Esperemos que isto acabe muito depressa para bem de todos: da Europa, de Portugal, da Ucrânia. Continuem a vossa luta que nós estaremos sempre do vosso lado”, assegurou naquela manifestação onde estiveram também presentes representantes do núcleo de Albufeira da Associação de Ucranianos de Portugal.

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Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

A iniciativa, participada por outros familiares de militares ucranianos falecidos, contou ainda, entre outras, com a intervenção da mãe do malogrado piloto da Força Aérea ucraniana, o major Stepan Tarabalka que deu origem ao fenómeno que ficou conhecido como o ‘Fantasma de Kiev’, o ás da aviação capaz de abater um número impressionante de caças inimigos, defendendo a pátria dos agressores.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas – 6,5 milhões de deslocados internos e mais de oito milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Neste momento, pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.

A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, há exatamente um ano, 8.006 civis mortos e 13.287 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.

com Lusa