Os Institutos Missionários Ad Gentes (IMAG), os seus animadores (ANIMAG) e os diretores diocesanos das Obras Missionárias Pontifícias (OMP) reuniram-se a semana passada no Algarve, de 16 a 19 de novembro, em assembleia nacional que teve lugar no Centro Pastoral e Social da diocese algarvia em Ferragudo.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O encontro com cerca de 60 participantes, sob o tema “Igreja em saída para as periferias: caminhar juntos”, ficou marcado pela reflexão de D. Rui Valério, da Comissão Missão e Nova Evangelização da Conferência Episcopal Portuguesa, ao advertir que “sem ida às periferias não há sinodalidade, assim como sem sinodalidade não há ida às periferias”.

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Aquele responsável católico acrescentou que “é tão correto dizer que desafio à sinodalidade é ir às periferias, como dizer que ir às periferias é um desafio para a sinodalidade”. “Este desafio à sinodalidade, que é a ida às periferias, refere-se a qualquer coisa que contribui para a realização de uma identidade ou de um projeto. A relação entre sinodalidade e o ir às periferias surge como recíproca. Integram-se mutuamente, fazem parte um do outro”, completou na alocução, subordinada ao tema “Um desafio à sinodalidade – ir às periferias”, que realizou na tarde do segundo dia do encontro.

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“Quando falamos de sinodalidade estamos a referir-nos algo que é essencial à própria Igreja. Falamos de comunhão, de dimensão comunitária, de envio, falamos de missão. É como se comunhão (ou comunidade) e missão fossem os dois pulmões da Igreja”, disse ainda.

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D. Rui Valério começou a sua intervenção por lembrar a história do palhaço de Kierkegaard, recuperada pelo Papa Bento XVI, quando ainda era o professor Joseph Ratzinger. A narrativa refere um circo que pegara fogo, tendo o comediante sido o escolhido para ir pedir ajuda e avisar a aldeia vizinha, sem que ninguém o tenha levado a sério. “Pensei nesta história para falar de sinodalidade e de ida às periferias. Tenho para mim que ali o problema foi de sinodalidade. Simplesmente, o palhaço apareceu sozinho e não teve a força. Força, desde logo, para superar o preconceito a propósito da sua personagem”, referiu.

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“Por vezes, é necessário ir para além do que se tem concebido para compreender e aceitar o outro, mas esse lanço da superação do próprio papel é dado por uma comunidade”, acrescentou, considerando que o palhaço, “porque surgiu sozinho, não teve força para incentivar a mensagem que levava” e que era “muito autêntica”.

O representante da Comissão Missão e Nova Evangelização defendeu ainda que “a sinodalidade é uma chance para a Igreja e uma chance para o mundo”. “Uma chance para a Igreja porque urge ir mais além, mas em comunidade”, prosseguiu, acrescentando que a história do palhaço apela a uma “renovação”.

Citando o padre Marko Rupnik, jesuíta, lamentou que “os europeus, hoje, estão dispostos a serem tudo menos cristãos”. “Diz ele que no consciente do europeu, o Cristianismo está associado ao moralismo e ao dogmatismo. Mesmo quando a Igreja e nós falamos de valores, o mundo não nos entende”, reconheceu.

D. Rui Valério elegeu ainda três figuras “onde se verifica a ligação à aliança entre sinodalidade e ida às periferias” e fez acompanhar cada uma dessas figuras por um símbolo concreto. “O Espírito Santo é o protagonista da missão da Igreja. É ele quem guia os evangelizadores, mostrando-lhes a vereda a seguir. Nossa Senhora é ícone da Igreja sinodal. Desde logo desafia a Igreja a sair de si mesma, a deixar de ser autorreferencial e ensimesmada para se centrar em Jesus e no anúncio do seu amor, em ser sinal de esperança, ser capaz de escutar e de ir ao encontro das pessoas afastadas e de acolher sem discriminar”, explicou, apontando, por último, o Papa Francisco. “Não foi o sentido da sinodalidade que levou Francisco à periferia, mas foi a atenção do sentido das periferias que o conduziu à sinodalidade. Agora no centro estão as franjas, as margens. A partir daí provêm todos os desafios. Também a e para a sinodalidade”, sustentou, constatando que agora se verifica “a prevalência da periferia como critério de ação”.

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Aquela assembleia teve início no dia 16, após as apresentações, com a Eucaristia presidida pelo bispo do Algarve, que participou em todo o encontro, e com um momento de convívio na primeira noite. O segundo dia contou ainda com dois workshops. O primeiro foi orientado pela irmã Arminda Faustino, a trabalhar na Diocese do Algarve. A religiosa das Missionárias Reparadoras do Sagrado Coração de Jesus referiu-se ao seu trabalho na área da formação da evangelização e da catequese, sobretudo na formação de catequistas. “A nossa ação apostólica deve realizar-se na Igreja local, em comunhão com o bispo e os seus colaboradores e integrar-se no plano apostólico da diocese”, explicou.

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A consagrada referiu-se ainda à colaboração no Departamento da Catequese do Secretariado Nacional da Educação Cristã, do qual é coordenadora. “Vamos trabalhando e procurando fazer esta comunhão, este caminho, também com as dioceses, nomeadamente, através dos Secretariados. Queremos que os catequistas e os agentes da pastoral se sintam em caminho, se sintam discípulos e sintam que essa experiência que fizeram com o Senhor não a podem conter só para si, mas é para partilhar com todos”, afirmou.

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O segundo workshop ficou a cargo do coordenador do núcleo algarvio da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE). Paulo Lopes lembrou que a associação foi criada em 1952 com a missão de “inspirar empresários e gestores a viver o Evangelho como critério de gestão” e “aprender a gerir uma empresa de acordo com o critério do amor e da verdade” e conta atualmente em Portugal com 1100 associados nas 13 dioceses em que se encontra presente. “Quando uma pessoa entra na ACEGE, das primeiras propostas que recebe é integrar um grupo ‘Cristo na Empresa’, um grupo de pessoas que procuram fazer um caminho de aprofundamento da fé em conjunto, de forma a conseguirem na sua vida reconhecer a presença de Cristo dentro da empresa e imitar Jesus, ou seja, gerir segundo critérios que não sejam apenas de eficiência, de eficácia ou de maximização do lucro, mas segundo critérios que sejam evangélicos”, contou.

Aquele responsável apresentou ainda o projeto ‘Semáforo’.

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Na tarde do segundo dia, houve ainda reuniões por zonas e das coordenações para apresentação de propostas e sugestões e no terceiro dia foi feita uma visita a Sagres, nomeadamente ao novo Centro Expositivo da fortaleza, inaugurado este mês.