À minha mãe, Conceição

A mulher e as lutas a ela associadas, estão cada vez mais na ordem do dia, porque há ainda demasiada injustiça e misoginia. Sabemos quais têm sido as suas lutas na procura constante de serem consideradas, escutadas e valorizadas, porque, ainda existem muitos a querer que o seu papel seja secundário, algo que os torna pequeninos e ridículos.

Celebrar o dia da mãe, é exaltar a força, a coragem, a determinação e a ousadia de tantas mulheres que abraçaram a aventura da maternidade. Mesmo receosas, avançaram firmes no seu propósito, tantas vezes sem o apoio de ninguém, contando apenas consigo mesmas. Ou porque engravidam e são abandonadas, ou até mesmo, porque perdem o pai do filho, e estão sozinhas com uma criança nos braços para criar, educar e amar. São mãe e pai ao mesmo tempo. Quantas conhecemos? Certamente muitas, e ainda bem, porque através destas mulheres, chega-nos o testemunho de uma força maior, própria da sua natureza, que merece compreensão, admiração e respeito de todos.

Festejar o dia da mãe, é fazer memória das mulheres que geraram, carregaram, alimentaram e embalaram os seus filhos para a vida. Que ousadia é esta de uma mulher ser mãe? Que amor é este que brota do seu coração em direcção a um filho que ainda está no seu ventre? Ainda não o viu, não lhe pegou nem beijou, mas há muito que o sente, acaricia e lhe conta histórias, enquanto sonha e tenta imaginar como será aquele ser que um dia trata à luz do dia. Será menino ou menina? Será fisicamente parecido com ela ou com o pai? Herdará a personalidade de quem? Vai sonhando e idealizando uma vida para aquele que gera.

As mães não criam os filhos para si, mas para o mundo, e, desde que eles nascem, tornam-se na sua principal prioridade, mesmo sabendo que não são mais seus. A posse que tinham sobre eles terminou no dia em que nasceram. A partir daí, cuidam, acarinham e educam para o mundo. Haverá maior doação?

Ser mãe é gerar, mas há tantas mães que não geraram, cuidando e devotando todo o seu amor à criança que está ao seu cuidado. Quantas mães que não geraram existem no mundo? E quantas mulheres que geraram não se tornaram mães?

As mulheres-mães têm a força e a tenacidade que todos admiramos e desejamos ter. Para uma mãe não há impossíveis, não existem portas seladas, caminhos sem saída, enfermidade sem cura, dor sem alívio, lágrimas que fiquem por enxugar, problemas sem solução.

Quando a mãe está por perto, qualquer dor se torna insignificante, todo problema passa a ser secundário, e na sua presença encontramos um colo que nos ampara e sustenta, e que nos trata das muitas feridas existenciais. Junto dela não existem medos porque confiamos que tudo pode, tudo sabe e tudo resolverá. A maior parte das vezes nem imaginamos como, mas, só nos damos conta de tal heroísmo quando começamos a ser mais crescidos, quando nos começamos a afastar dela a fim de seguirmos a nossa vida. E como fica o coração de uma mãe que vai vendo os filhos saírem porta fora, um a um, para começarem a sua vida de independência? Certamente dorido, como se estive a ser trespassado, mas fazem por não o demonstrar, pelo menos a nós. As mães sabiam que no dia em que nos deram à luz teve início o nosso processo de independência, sendo as próprias a auxiliar-nos nesse processo. Que paradoxo belo. Que amor tão grande.

Durante um bom par de anos, julgamos que elas não choram. Vemo-las mais abatidas, mas raramente a chorar, e não se trata de vergonha. Só querem permanecer o nosso pilar inabalável que nos enxuga as lágrimas, mesmo quando o seu coração sangra de angústia e dor. Todavia, choram e muito. Choram na sua solidão, numa viagem de carro a caminho de casa, depois de deixarem o filho no aeroporto, choram após uma chamada telefónica desligada, choram antes de adormecer, no silêncio do seu quarto, e no conforto da sua almofada. Elas choram e é isso que as torna admiravelmente fortes.

As mães são as heroínas de todos os tempos. Com elas aprendemos a darmo-nos sem medida, a permanecermos fortes ante as tempestades, e a sermos sensíveis perante a dor dos outros. Os seus olhos conseguem enxergar o que ainda ninguém viu, e a sua sensibilidade faz com que intuam as necessidades dos filhos, ainda antes deles as manifestarem.

A todas as mulheres que ousaram, ousam e ousarão ser mães, o meu afecto e gratidão.

Feliz dia da mãe, de forma muito especial, à mulher que me trouxe à vida.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia