Realizou-se na manhã de ontem, em Loulé, no Centro Paroquial, a Assembleia Diocesana do Renovamento Carismático Católico do Algarve.
A iniciativa, com cerca de 90 participantes dos núcleos algarvios daquele movimento, teve início com o momento de acolhimento e louvor, seguindo-se a oração da manhã e um tempo de ensinamento levado a cabo pelo assistente do Renovamento Carismático Católico no Algarve.
O padre Nelson Rodrigues deixou um apelo à fraternidade com base na recente encíclica do Papa Francisco, Fratelli Tutti. “Temos de ser o espelho do amor do Senhor. E porque a fraternidade é para todos e porque ser cristão é ser inteiramente humano, o que nos faz falta é sermos cristãos humanos. Porque podemos ser cristãos não humanos, tendo muito pouco de humanidade”, advertiu, explicando a importância de cada um deixar de ser um “cristão piedoso-beato” para passar a ser um “cristão humano, que não abdica do outro”.
Ao Folha do Domingo, o sacerdote referiu que o ensinamento ao estilo do Renovamento Carismático Católico visou ainda uma reflexão sobre questões como o “isolamento das realidades paroquiais, problemas internos entre membros do grupo e a necessidade de reconhecerem que é impossível viverem em Igreja, abdicando do irmão”.
No final da eucaristia, que se seguiu à adoração eucarística, o sacerdote afirmou que “o Renovamento Carismático Católico tem uma missão muito rica para a Igreja”. “Toda a Igreja é carismática só que ainda não se deu conta disso. Então é a nossa missão. E isso passa, não por palavras, mas pelo testemunho”, prosseguiu, apelando à inserção paroquial “sempre em comunhão” com os párocos. “O que os nossos párocos disserem relativamente a tudo aquilo que tem a ver com a pandemia, assumimos porque não queremos ser um empecilho, mas uma ajuda para que todos descubram Deus”, sustentou.
“Estejam muito atentos. Não nos basta apenas termos cristãos que meditem na palavra, que celebrem a liturgia, mas o amor tem de ser vivido. Vamos olhar concretamente para as situações de fragilidade que existem na nossa paróquia e oferecer-lhes um amor que é gratuito. Não o nosso, mas o de Deus que passa por nós que somos seu canal, seus instrumentos”, pediu, desafiando ao testemunho. “Estamos em tempos em que, mais do que nunca, precisamos de mensagens de esperança”, afirmou.
O bispo do Algarve, que presidiu à eucaristia, pediu aos participantes que, “abertos à ação do Espírito”, se deixem “renovar por ele”, fazendo “jus ao nome” do movimento. “O que significa converter-se, avivar em nós a vida, a ação, o amor, os gestos de Deus”, esclareceu D. Manuel Quintas.
O coordenador no Algarve do movimento, que conta com 15 núcleos (nas paróquias de Albufeira, Almancil, Faro (2), Ferragudo, Ferreiras, Lagos, Loulé, matriz de Portimão, Odiáxere, Pechão, Pedra Mourinha (Portimão), Quarteira (2) e Vila Real de Santo António) disse no final da celebração que aquele encontro foi uma “tentativa de recomeço de uma normalidade anormal”. António Aparício convidou os grupos que ainda não reabriram a que “reabram logo que puderem”. “Pelo menos fazendo aquilo que a maior parte dos grupos já está a fazer: reunir de 15 em 15 dias”, especificou.
“Precisamos de incentivar os nossos irmãos na oração e na oração comunitária porque é na comunidade que o Espírito Santo exerce a sua força. Não precisamos de ter medo porque se formos seguros connosco próprios, estamos a ser seguros com os nossos irmãos. E a segurança de cada um é tão-somente atender àquilo que nos é proposto pelas autoridades”, prosseguiu, aconselhando a que sejam “prudentes”.
Ao Folha do Domingo, aquele responsável explicou que a atividade presencial foi retomada “pelos grupos quase todos”, após um período que disse ter sido de “interiorização da oração”, mas também de “deserto de espiritualidade”. “Houve uma apatia espiritual porque a oração é ação e nós estávamos parados. Perdemos um bocado a necessidade de ação e estamos a ver isso na retoma a todos os níveis. As pessoas têm medo”, explicou, acrescentando que “curiosamente, algumas não têm medo de ir aos mercados, mas têm de ir ao grupo de oração e às Igrejas”.
António Aparício considera que “a dimensão orante individual, aparentemente, saiu reforçada, mas a comunitária perdeu força”. “Ao perder-se a força da dimensão comunitária está-se a perder a força da Igreja porque a Igreja é comunidade e nós não podemos deixar de ter isso presente”, testemunhou, destacando a importância da “militância cristã”.