
A atualização do clero das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal terminou na última quinta-feira com um painel sobre “Experiências positivas de diálogo e evangelização, numa sociedade multicultural, multirreligiosa e secularizada” que contou com participantes oriundos de cada uma das igrejas diocesanas.
Na formação que reuniu bispos, padres e diáconos daquelas dioceses sulinas, Isabel Rodrigues, médica na Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais e Pediátricos do Hospital de Faro, lembrou que o papa Francisco “incentiva uma Igreja em saída para as periferias”, considerando que a unidade hospitalar “é grande periferia”. “Nós não precisamos de ir com a mochila às costas, a periferia está connosco”, afirmou, considerando que esta realidade “obriga o profissional [de saúde católico] a fazer uma dupla reflexão: a aprofundar a sua humanidade e a elevá-la a esse mais a que o cristão é chamado”.
A pediatra destacou que a “riqueza humana e espiritual do ato clínico” passa por “cultivar um estado de disponibilidade no atendimento do outro” que “salva duas vezes”, “restituindo a saúde física e espiritual” quer ao doente, quer ao tratador que vai “aperfeiçoando a relação com o outro segundo o que Jesus ensinou”. “No mundo secularizado, a relação terapêutica não pode reduzir-se apenas a prestações técnicas”, advertiu, acrescentando que “o profissional de saúde é confrontado a dar testemunho de acompanhar o irmão sofredor”. “O crente deverá ter presente que cuidar do outro é como cuidar de Deus”, sustentou, exortando à “força dos pequenos gestos”.
Isabel Rodrigues desafiou a Igreja, também nesta área, a “confiar mais nos leigos e a dar-lhes formação”.

O padre José Maria Coelho, investigador da Diocese de Beja, testemunhou aos cerca de cem participantes como o diálogo da Igreja com a sociedade se pode estabelecer também a partir da cultura e da divulgação histórica. O sacerdote, que investigou sobre a vila de Almodôvar e a sua história, explicou a motivação daquele trabalho. “Quis mostrar aos meus conterrâneos que tínhamos uma história longa e rica que é necessário aprofundar e dar a conhecer”, afirmou, contando que a publicação do foral da vila, em 1985, “abriu caminho a que começassem a realizar-se semanas culturais, jornadas sobre escritores e eclesiásticos, contactos com historiadores e arqueólogos”.
O padre Taras Goyvanyuk, assistente espiritual das comunidades greco-católicas ucranianas em Samora Correia, da Arquidiocese de Évora, agradeceu aos bispos das quatro dioceses a “forma fraterna com que receberam os católicos de rito bizantino e, sobretudo, a unidade na diversidade”. O sacerdote ucraniano explicou que “o fenómeno da assimilação da comunidade ucraniana em Portugal desenvolve-se principalmente a dois níveis: cultural e religioso”. “Muitos dos imigrantes orientais católicos, ao chegar a Portugal, não encontraram assistência religiosa no seu rito e na sua língua e, para não «morrerem da fome» de Deus, integraram-se nas comunidades locais”, testemunhou, lembrando que um dos desafios da Igreja ucraniana de rito bizantino “é a falta de capelães missionários”.
O padre José João Lobato, vigário geral da Diocese de Setúbal, abordou as relações com a política, concretamente com executivos autárquicos de esquerda. “É uma relação de respeito, mas também de grande cooperação”, contou, explicando haver contactos que criam “laços” e esbatem “algumas barreiras”. “Esta boa relação com o poder político estende-se a organizações como as sociedades recreativas”, acrescentou, ao abordar também o relacionamento com as instâncias da cultura.