Os novos altar e ambão da igreja matriz de São Clemente de Loulé são da autoria de Lígia Rodrigues e foram apresentados pela artista plástica no passado dia 10 de setembro.
Na apresentação, realizada no contexto da palestra do historiador Marco Sousa Santos sobre património e memória daquele templo, Lígia Rodrigues explicou que as peças esculpidas em moleanos, a pedra calcária da região de Leiria-Fátima, foram criadas com uma “linguagem aberta”.

A artista considerou que o altar foi dos “mais expressivos” que fez até hoje “e com maior liberdade”. “O altar quer expressar o corpo de Cristo que somos como Igreja. Mas é um corpo que, se existe no amor, faz com que a presença de Cristo esteja entre nós. Nesse acontecimento somos família, estamos à volta da mesa em que Jesus Eucaristia é a presença real. O altar quer ter esta força de existirmos como corpo, como comunidade, como família”, explicou.

A autora referiu-se à figuração humana da peça. “Somos nós hoje e são os que virão amanhã. São figuras abertas que deixam espaço a todos, como no mistério em que nunca está tudo dito”, explicou, referindo-se ainda às “vibrações laterais” da peça que comparou às ondas produzidas quando se atira uma pedra à água e se propagam “até ao infinito”.
Referindo-se ao ambão, que destacou como a “mesa da Palavra”, estabeleceu a sua relação com a comunidade. “Imaginemos o Evangelho – a Palavra que, em nós, se faz vida – que se abre e do qual saímos homens novos. É como se o livro se escancarasse, como se pudéssemos ser esta expressão viva do Evangelho nos sítios onde vivemos”, disse.
A artista plástica, natural do Porto, mas radicada no Algarve desde 1999, explicou ao Folha do Domingo que o altar levou cerca de seis meses a ser executado e o ambão cinco. “O pedido do altar foi-me feito ainda antes de a igreja começar em obras”, contou, acrescentando que as peças estavam concluídas há três anos.
Lígia Rodrigues destacou ainda a importância da iluminação para a leitura da peça, considerando que “a escultura é a modelação da luz” e não da matéria. “É a matéria que tem de obedecer àquilo que a luz quer dizer. A escultura sem luz não vive”, rematou.
Licenciada em Belas Artes pela Faculdade da Universidade de Lisboa, a artista é autora, entre outros trabalhos, da peça oferecida pelo Santuário de Fátima ao Papa Francisco na sua peregrinação por ocasião do centenário das aparições, da obra da ermida de Nossa Senhora da Encarnação, no Carvoeiro, e do altar e do ambão da igreja matriz de Lagoa.