Quando nos preparamos para receber o Santo Padre em Portugal neste mês de Maio, eis que ocorre o quinto aniversário da sua eleição para sucessor de Pedro, em 19 de Abril e do início solene do seu pontificado, em 24 de Abril, efemérides precedidas pelo seu octogésimo terceiro aniversário natalício, em 16 de Abril. Para quem pudesse pensar que os seus oitenta e três anos o levariam a ficar no recato da sua casa, o Papa resolveu realizar no fim de semana que se situa entre o seu aniversário natalício e o aniversário da sua eleição uma visita apostólica à ilha de Malta, para celebrar com os malteses os mil novecentos e cinquenta anos da chegada de S. Paulo a Malta, na sequência do famoso naufrágio narrado no capítulo 27 dos Actos dos Apóstolos.

Nestes conturbados tempos de crise social, económica e financeira, em Portugal, na Europa e no mundo e de inegável crise eclesial, em que, na expressão do Próprio Papa, "o corpo da Igreja está "ferido" pelos "pecados" dos seus membros", temos como que a impressão de que podemos estar diante de um grande naufrágio: um naufrágio social, mercê da escalada do desemprego, da pobreza e da exclusão dos mais débeis, mas também de um naufrágio eclesial, pois a barca da Igreja tem navegado nestes últimos tempos em águas muito alteradas e turbulentas. Até a própria natureza parece querer enviar-nos sinais de que algo vai mal na nossa vida, com os terramotos no Haiti, no Chile e na China, as cheias e as enxurradas na Madeira e noutras paragens e como se não bastasse, um "nuvem escura" cobre por estes dias grande parte da Europa, em resultado das cinzas espalhadas pela erupção de um vulcão na Islândia, impossibilitando as viagens aéreas e deixando em terra muitos milhares de pessoas, numa sensação de impotência, desconforto e desorientação.

Neste ambiente social e eclesial, torna-se cada vez mais claro, que é uma verdadeira graça de Deus, a presença do Papa Bento XVI à frente da Igreja neste exacto momento da história, desde logo pelo exemplo do seu estilo de vida frugal e simples. Ele pertence à última geração dos padres do II Concílio do Vaticano, onde a sua sabedoria de grande teólogo, fez dele um dos "peritos" de referência que assessoraram os Bispos. Eleito Arcebispo de Munique por Paulo VI, pouco tempo pôde estar à frente daquela Arquidiocese da Baviera, pois João Paulo II chamou-o a Roma para presidir à Congregação da Doutrina da Fé. Como Professor de Teologia, Arcebispo de Munique e Cardeal em Roma, sempre evidenciou uma elevada craveira intelectual, uma enorme coerência, uma grande sabedoria pastoral e segurança teológica, qualidades tão necessárias a quem tem de conduzir a Igreja no contexto difícil em que nos encontramos. Mesmo em relação à questão dos abusos sexuais por parte de membros do clero, sabemos agora, que foi ele quem teve a lucidez e a iniciativa de tomar medidas para combater tal praga, mal iniciou as suas funções de Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, logo por volta de 1981/82, a ponto de se poder dizer que na Cúria Romana ele "foi o homem que mais lutou para sanar o escândalo", como ainda há poucos dias recordava D. Carlos Azevedo.

A lucidez, a sabedoria e a coerência intelectual de Bento XVI inspira-nos total confiança e dá-nos a segurança doutrinária de um "condutor esclarecido", ao ponto de termos vontade de lhe dizer como os apóstolos e os discípulos disseram a Pedro junto ao mar de Tiberíades quando ele disse que ia entrar na barca para pescar: "Nós também vamos contigo". Sim! Papa Bento XVI, nós também queremos ir contigo! Queremos ir pelos caminhos que tu nos apontas, não temos medo de ir contigo na barca da Igreja, mesmo se tivermos que atravessar mares alterados, e enfrentar ventos e tempestades, pois sabemos que não nos abandonarás nas enseadas perigosas e traiçoeiras. Contigo ao leme, sabemos que a barca de Cristo não irá naufragar, pois tu a levas "por caminhos de doutrina seguros e verdadeiros". Por isso, como discípulos humildes mas confiantes, não hesitamos em voltar a dizer ao Pedro dos nossos dias: "Nós também vamos contigo", Papa Bento XVI!