Festa_grande_mae_soberana_2017 (85)
Foto © Samuel Mendonça

 

O bispo da Diocese de Bragança-Miranda, que este ano foi o pregador do tríduo e da Festa Grande de Nossa Senhora da Piedade, popularmente evocada como Mãe Soberana, lembrou no domingo que “a soberania pertence a Cristo”.

Considerando que, com Maria, o “caminho para Jesus Cristo” se torna “mais fácil”, D. José Cordeiro – que presidiu à eucaristia concelebrada pelo bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, e pelos párocos de Loulé, padres Carlos de Aquino e Nelson Rodrigues, entre muitos outros sacerdotes do Algarve –, lembrou aos milhares de pessoas presentes em Loulé que “se Ela é Mãe Soberana, então o seu Filho é mais soberano ainda porque é da sua soberania, da alegria da Páscoa da ressurreição”, que vivem e se alimentam os cristãos.

“Subimos, para que do alto do monte a Senhora da Piedade, a Mãe Soberana, continue a ser essa «estrela» que «ilumina» sobre a cidade; continue a ter a soberania que nos encaminha para o Soberano que está no seu regaço”, afirmou o prelado, considerando que a própria simbologia do andor evidencia a primazia de Cristo. “Nossa Senhora está revestida de um manto azul – quer dizer que está revestida do «céu», da Páscoa da Ressurreição – e as amendoeiras em flor que encimam o seu andor apontam-nos para o oitavo dia, essa «estrela» que brilha lá do alto que é Jesus Cristo ressuscitado e vivo entre nós”, sustentou.

Neste sentido, considerou ser o encontro com Jesus Cristo que está presente na festa de Nossa Senhora da Piedade. “É esta alegria do encontro que se manifesta, de um modo especial na dança, na música, na beleza dos gestos, da cor, dos nossos cantos, da nossa profunda veneração e devoção a Nossa Senhora”, considerou já na pregação, após a chegada ao santuário.

Por outro lado, o bispo de Bragança-Miranda advertiu que “não há ressurreição sem cruz”, nem “vida plena sem cruz”. “Quem quer excluir a cruz da sua vida, autoexclui-se da ressurreição”, alertou, lamentando “haver muitas pessoas que querem a felicidade sem passar pela cruz”.

D. José Cordeiro considerou, contudo, que “a cruz, por si mesma, não salva”. “A cruz, por si mesma, pode até esmagar, matar, mas o amor com que levamos a nossa cruz, e com que podemos ajudar a levar a cruz dos outros, salva”, esclareceu. Lembrando que “só o amor salva, só o amor dá vida”, pediu aos cristãos que se ajudem “uns aos outros a levar a cruz, não para o Calvário, mas para a ressurreição, para vida em plenitude”. “Sozinhos não somos capazes. Por isso é que temos de nos unir e organizar”, exortou, desafiando-os a passar “de uma atitude de demissão para uma atitude de missão evangelizadora”. “Este continua a ser, para todos e cada um de nós, o grande desafio”, considerou, advertindo: “ensinar o evangelho significa apresentar sinais e chaves capazes de interpretar o nosso viver de todos os dias, mas ninguém o pode fazer se primeiro não o viver”.

Neste sentido, o prelado afirmou que “aos pés do Crucificado, Maria aparece como a discípula perfeita e modelo de todo o discípulo” e lembrou que “a fé madura é aquela que sabe ver o esplendor de Deus no rosto do Crucificado, seja no rosto dos mais idosos, dos doentes, dos mais pobres, das crianças maltratadas, das pessoas violentadas, dos refugiados, dos imigrantes” e de todos aqueles que precisam de ajuda. “Cada um de nós é chamado a servir na caridade”, acrescentou.

Na chegada ao santuário, D. José Cordeiro pediu aos presentes que não se deixem “conformar com as realidades deste mundo” e da cultura dominante, nem com a Igreja que já constituem, mas que se deixem “sempre surpreender por Deus” e que cada um, no seu quotidiano, “possa ser protagonista da fé, da esperança e do amor que se traduzem na solidariedade, na fraternidade, no amor aos outros, na tolerância, na paciência, na alegria”.

O bispo de Bragança-Miranda lembrou ainda o poeta louletano António Aleixo que considerou ser “toda a alma do povo” que vai no andor da Mãe Soberana. “É isso que experimenta quem, como eu pela primeira vez, participa nestas festas e faz o mesmo caminho que vós fizestes. O que está aqui é, efetivamente, a alma do povo de Loulé, do povo do Algarve, do povo de Portugal, do povo católico que se revê em Maria como sua Mãe”, considerou D. José Cordeiro, pedindo aos louletanos que continuem com aquela “devoção à Senhora e, sobretudo, ao Senhor da qual ela é a mãe e seguidora: Jesus Cristo”.

No final da eucaristia, o bispo do Algarve, que confiou à bênção e proteção de Nossa Senhora as famílias, crianças, jovens, idosos e doentes, governantes, trabalhadores, os que buscam emprego, imigrantes e refugiados, serras e casas, escolas, creches e infantários, indústrias e comércio, os grupos desportivos e culturais, bombeiros e centros de saúde, centros da terceira idade, misericórdias, confrarias e irmandades, consagrou a diocese algarvia à Mãe Soberana.

D. Manuel Quintas manifestou também no início da celebração a intenção da oração a Maria pelas dioceses do Algarve e de Bragança-Miranda, extremas do território português. “Estamos certos de que ela vai abraçar todo o Portugal”, afirmou.

Após a eucaristia, junto ao monumento a Duarte Pacheco, o bispo de Bragança-Miranda presidiu à procissão.

Impondo-se como a maior manifestação de fé a sul de Fátima, que é simultaneamente a mais significativa expressão de devoção mariana algarvia, a Festa Grande a Nossa Senhora da Piedade voltou a atrair a Loulé uma multidão que congestionou por completo a circulação na cidade, oriundas não só de todos os pontos do Algarve, como também de diversas regiões do país e até emigrantes.

Ao esforço dos homens oito homens, vestidos de calças e opas brancas, que transportam a imagem de Virgem Maria com Jesus nos braços, aliou-se a força espiritual dos muitos milhares de fiéis que, em vivas inflamadas a Nossa Senhora da Piedade, acenando lenços ou em passo vivo e na cadência musicada dos homens da Banda Filarmónica Artistas de Minerva, «empurraram», calçada acima no calor da fé, o pesado andor da padroeira.

Depois da pregação e de a imagem ser levada de volta para a igreja nova do santuário, seguiu-se o regresso, em marcha, de todos com a banda até ao centro da cidade.

As festividades de Nossa Senhora da Piedade, que constituem uma tradição com provável origem em 1553, data oficial da edificação da capela que lhe é dedicada, terminaram à noite com um espetáculo de fogo-de-artifício.