Funeral_irma_maria_carmo_madre_fundadora_carmelo_algarve-25
Foto © Samuel Camacho

“A irmã Maria do Carmo foi verdadeiramente uma madre, não só no Carmelo mas também na nossa Igreja diocesana, condição que estou certo continuará agora a desempenhar no céu”. As palavras são do bispo do Algarve na missa exequial da irmã Maria do Carmo, a que presidiu na passada quinta-feira na capela do mosteiro de Nossa Senhora Rainha do Mundo, no Patacão, concelho de Faro.

A madre fundadora do Carmelo Descalço algarvio faleceu com 98 anos na passada terça-feira, dia que D. Manuel Quintas classificou como o do seu “nascimento para o céu”.

Funeral_irma_maria_carmo_madre_fundadora_carmelo_algarve-30
Foto © Samuel Camacho

“Damos graças a Deus pelo dom da sua vida longa, pelo dom da sua vida consagrada como carmelita, vivida no silêncio orante e fecundo do Carmelo, da qual toda a Igreja, e particularmente a nossa Igreja diocesana, beneficiou”, referiu o prelado, lembrando a “intenção sempre presente” na oração da religiosa falecida de rezar pelo bispo, sacerdotes, diáconos, seminaristas, consagrados e leigos.

“Agradecemos igualmente o seu testemunho de fidelidade a Cristo, vivência da sua consagração como carmelita descalça. Evocamos para ela a entrada no reino de todos os infindáveis bens, onde se encontra Aquele ao qual ela consagrou toda a sua vida”, acrescentou, desejando que o “testemunho da sua vida e do seu serviço à Igreja” e à diocese algarvia “obtenham do Senhor da messe o dom de novas vocações ao sacerdócio, à vida consagrada e à vida missionária”.

“Estou certo de que esta semente que a irmã Maria do Carmo foi, qual grão de trigo, há de frutificar no nosso coração. Sejamos para tal terra boa para que esta semente possa multiplicar-se como as sementes do evangelho. Esta decisão constitui, seguramente, a melhor memória da sua vida que podemos levar connosco e guardar para sempre”, acrescentou o bispo diocesano na eucaristia que contou com a concelebração do superior provincial dos Carmelitas Descalços, padre Pedro Ferreira, e de vários outros padres carmelitas e da Diocese do Algarve e de familiares da falecida.

Funeral_irma_maria_carmo_madre_fundadora_carmelo_algarve-32
Foto © Samuel Camacho

A irmã Maria do Carmo, como aconteceu com todas as religiosas falecidas daquela comunidade, ficou sepultada no cemitério do próprio mosteiro. Um dos gestos simbólicos da celebração ocorreu antes de ser fechada a urna, quando a irmã Lúcia Maria, atual madre superiora do Carmelo Descalço algarvio, colocou lá dentro as ossadas da irmã Maria de Jesus que ocupavam a mesma campa onde agora a irmã Maria do Carmo foi enterrada.

A comunidade algarvia das Carmelitas Descalças explica o gesto ao Folha do Domingo. “Ambas, a madre Maria do Carmo e a irmã Maria de Jesus (Mariana Inês de Jesus Mello Sampayo) – fundadora do primeiro Carmelo do Porto e quem doou aos padres carmelitas a quinta onde hoje está o nosso Centro de Espiritualidade no norte, em Avessadas, e o Santuário do Menino Jesus de Praga – tiveram na vida uma amizade espiritual muito bela e verdadeira, conhecida em toda a nossa ordem em Portugal. Para nós, foi uma prendinha de Deus e um sinal de bênção esta feliz coincidência de se unirem agora os seus restos mortais”, justifica a irmã Lúcia Maria.

Funeral_irma_maria_carmo_madre_fundadora_carmelo_algarve-35
Foto © Samuel Camacho

A religiosa testemunha ainda os derradeiros momentos da irmã Maria do Carmo. “O seu último pensamento – que repetiu muitas vezes, sempre que lhe pedíamos, quando o silêncio ia tomando conta dela – foi «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei!» e a sua última palavra foi «Obrigada!». É um belíssimo testemunho da sua vida, especialmente nestes últimos anos, em que vimos transformar-se aquela que foi uma grande carmelita, marcada por uma forte personalidade, na criança do Evangelho, querida por Jesus e totalmente abandonada nas mãos de Deus, sem nunca perder o seu bom humor!”, acrescenta.

A religiosa explica ainda a “mistura dos sentimentos próprios desta hora” que envolvem as carmelitas descalças. “As lágrimas da saudade caiem suaves pelos nossos rostos, os nossos corações cantam serenos hinos de louvor e ação de graças por tudo quanto a nossa querida Madre Fundadora foi, e é, para nós, para o Carmelo e para a Igreja! Tudo é simples e cheio de paz, mas muito solene; vivemos uma intensa atmosfera do Divino que trespassa a nossa carne e o nosso espírito!”, refere, acrescentando um pedido de orações pela irmã Maria do Carmo e pela comunidade carmelita algarvia.

A irmã Maria do Carmo de São João da Cruz foi a madre prioresa na fundação do Carmelo de Nossa Senhora Rainha do Mundo, a 13 de julho de 1976, que integrou mais oito irmãs carmelitas.

A religiosa, natural de Braga, foi madre superiora da comunidade algarvia das Carmelitas Descalças no convento de Nossa Senhora Rainha do Mundo durante mais de 30 anos.

com Samuel Camacho