O bispo do Algarve deu hoje “graças a Deus pelo dom” da vida, incluindo a vida consagrada, da irmã Miriam Clara de Jesus, carmelita descalça de 87 anos, falecida anteontem.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

“Agradecemos, de modo particular, os anos passados na nossa Igreja diocesana, dos quais tanto beneficiámos, pelo seu testemunho de fidelidade e de doação a Cristo e à Igreja”, afirmou D. Manuel Quintas que presidiu à Missa exequial que teve lugar durante a manhã na capela do Mosteiro de Nossa Senhora Rainha do Mundo do Carmelo do Patacão, no concelho de Faro.

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“Ao sufragarmos a alma desta nossa irmã, também sairmos daqui mais firmes na nossa fé em Cristo Ressuscitado, garantia da nossa ressurreição. E também mais decididos a viver de acordo com a luz que brota da vida e da ressurreição de Jesus”, referiu o bispo diocesano, que destacou o seu “testemunho de vida consagrada”.

D. Manuel Quintas lembrou que a vida de consagração da falecida “teve um percurso singular”. “Certamente nos fala e nos ajuda a sabermos descortinar, como ela, aqueles que são os caminhos de Deus, aquela que é a vontade de Deus na nossa vida, aqueles que são os sonhos de Deus para nós e que nunca devemos deixar de escutar, de perscrutar, de entender e de seguir”, sustentou.

O bispo do Algarve lembrou que a irmã Miriam “professou no instituto das Escravas do Sagrado Coração de Jesus”. “Perscrutando a vontade de Deus deixou esse instituto religioso, mas não deixou a vida consagrada. Entrou numa abadia cisterciense, no sul de França”, prosseguiu, referindo-se ao seu ingresso na Ordem Cisterciense da Estrita Obediência para “uma vida de maior entrega, de silêncio, contemplação e maior entrega a Deus”.

D. Manuel Quintas lembrou que a irmã Miriam foi então “desafiada, por uma antiga abadessa, a iniciar um projeto de refundação cisterciense em Portugal”, uma vez que “desde a expulsão das Ordens Religiosas, em 1834, nunca mais tinha havido em Portugal qualquer comunidade cisterciense”. “Ela assumiu esse desafio e foi essa a decisão que a trouxe ao Algarve, apoiada por D. Manuel Madureira, em 1994, disponibilizando-lhe então, o nosso bispo D. Manuel, a casa paroquial de Santa Catarina da Fonte do Bispo. Com a aprovação, dos padres que estavam nessa paróquia, também da própria comunidade, disponibilizou-lhe esta casa paroquial, que ela adaptou a uma abadia cisterciense, um pequeno mosteiro a que até deu o nome de Santa Maria de Marana-tha. Foi aí que a conheci e que a encontrei quando, no ano 2000, vim para o Algarve”, contou.

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D. Manuel Quintas lembrou as “diversas vicissitudes” que esse projeto sofreu e que, particularmente, a falta de vocações a foi “conduzindo a descortinar, a descobrir sempre mais, a vontade de Deus” também para ele, decidindo em 2008 interrompê-lo. “Por aí não passava a vontade de Deus porque não surgiam vocações dispostas e disponíveis a unirem-se a ela para levar para a frente esse projeto”, afirmou, lembrando que a religiosa decidiu em 2008 regressar à abadia de onde tinha vindo.

“Os caminhos e os sonhos de Deus são diferentes dos nossos. O mais importante é saber descobri-los e transformá-los em nossos sonhos também”, realçou o bispo do Algarve, lembrando que o projeto da refundação cisterciense “está agora a concretizar-se de outro modo e noutro lugar”. D. Manuel Quintas referia-se à comunidade trapista de Santa Maria Mãe da Igreja, em Palaçoulo, Miranda do Douro, na Diocese de Bragança-Miranda, cuja fundação explicou.

Lembrando que a consagrada quando deixou o Algarve “manifestou a disponibilidade para voltar”, o bispo diocesano justificou o seu regresso e o ingresso nas Carmelitas Descalças com o “apreço” que a irmã Miriam nutria pelas irmãs do Carmelo e por aquela comunidade carmelita “que frequentava e onde muitas vezes, particularmente nos anos em que estava sozinha, também vinha retemperar as forças” e, sobretudo, “saborear aquele espaço de contemplação, de oração e de silêncio”.

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Por fim, o bispo do Algarve recordou que “celebrar as exéquias significa fazer memória da Páscoa de Cristo”. “A fé na ressurreição é a garantia da esperança que não engana”, realçou, acrescentando: “ao celebrarmos hoje a sua Páscoa, invocamos para ela a entrada no Reino de todos os bens, onde se encontra Aquele ao qual ela consagrou toda a sua vida. Estamos certos de que continuará, também agora no céu, a ter presente a nossa Igreja diocesana e cada um dos seus membros, particularmente esta sua comunidade do Carmelo. Que o testemunho da sua vida nos obtenha do Senhor da messe o dom de novas vocações ao sacerdócio, à vida consagrada, particularmente à vida contemplativa e à vida monástica”, concluiu.

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A celebração contou com a presença de algumas das alunas da irmã Miriam, no tempo em foi professora, e uma delas leu um testemunho no final da Missa. A Eucaristia foi ainda concelebrada pelos padres Armindo Vaz e André de Santa Maria, da Ordem dos Carmelitas Descalços. Também pelos cónegos Carlos de Aquino e Rui Barros Guerreiro e pelos padres António Moitinho, capelão daquele Carmelo, Luís Gonzaga, Samuel Camacho e Vasco Figueirinha. A Missa contou ainda com o serviço do diácono Luís Galante. Presentes estiveram ainda muitas religiosas das várias congregações e institutos presentes no Algarve.

Como acontece com todas as carmelitas descalças, a irmã Miriam Clara de Jesus ficou sepultada no cemitério do próprio mosteiro carmelita.