
O bispo do Algarve deu hoje “graças a Deus pelo dom” da vida, incluindo a vida consagrada, da irmã Miriam Clara de Jesus, carmelita descalça de 87 anos, falecida anteontem.

“Agradecemos, de modo particular, os anos passados na nossa Igreja diocesana, dos quais tanto beneficiámos, pelo seu testemunho de fidelidade e de doação a Cristo e à Igreja”, afirmou D. Manuel Quintas que presidiu à Missa exequial que teve lugar durante a manhã na capela do Mosteiro de Nossa Senhora Rainha do Mundo do Carmelo do Patacão, no concelho de Faro.

“Ao sufragarmos a alma desta nossa irmã, também sairmos daqui mais firmes na nossa fé em Cristo Ressuscitado, garantia da nossa ressurreição. E também mais decididos a viver de acordo com a luz que brota da vida e da ressurreição de Jesus”, referiu o bispo diocesano, que destacou o seu “testemunho de vida consagrada”.
D. Manuel Quintas lembrou que a vida de consagração da falecida “teve um percurso singular”. “Certamente nos fala e nos ajuda a sabermos descortinar, como ela, aqueles que são os caminhos de Deus, aquela que é a vontade de Deus na nossa vida, aqueles que são os sonhos de Deus para nós e que nunca devemos deixar de escutar, de perscrutar, de entender e de seguir”, sustentou.
O bispo do Algarve lembrou que a irmã Miriam “professou no instituto das Escravas do Sagrado Coração de Jesus”. “Perscrutando a vontade de Deus deixou esse instituto religioso, mas não deixou a vida consagrada. Entrou numa abadia cisterciense, no sul de França”, prosseguiu, referindo-se ao seu ingresso na Ordem Cisterciense da Estrita Obediência para “uma vida de maior entrega, de silêncio, contemplação e maior entrega a Deus”.
D. Manuel Quintas lembrou que a irmã Miriam foi então “desafiada, por uma antiga abadessa, a iniciar um projeto de refundação cisterciense em Portugal”, uma vez que “desde a expulsão das Ordens Religiosas, em 1834, nunca mais tinha havido em Portugal qualquer comunidade cisterciense”. “Ela assumiu esse desafio e foi essa a decisão que a trouxe ao Algarve, apoiada por D. Manuel Madureira, em 1994, disponibilizando-lhe então, o nosso bispo D. Manuel, a casa paroquial de Santa Catarina da Fonte do Bispo. Com a aprovação, dos padres que estavam nessa paróquia, também da própria comunidade, disponibilizou-lhe esta casa paroquial, que ela adaptou a uma abadia cisterciense, um pequeno mosteiro a que até deu o nome de Santa Maria de Marana-tha. Foi aí que a conheci e que a encontrei quando, no ano 2000, vim para o Algarve”, contou.

D. Manuel Quintas lembrou as “diversas vicissitudes” que esse projeto sofreu e que, particularmente, a falta de vocações a foi “conduzindo a descortinar, a descobrir sempre mais, a vontade de Deus” também para ele, decidindo em 2008 interrompê-lo. “Por aí não passava a vontade de Deus porque não surgiam vocações dispostas e disponíveis a unirem-se a ela para levar para a frente esse projeto”, afirmou, lembrando que a religiosa decidiu em 2008 regressar à abadia de onde tinha vindo.
“Os caminhos e os sonhos de Deus são diferentes dos nossos. O mais importante é saber descobri-los e transformá-los em nossos sonhos também”, realçou o bispo do Algarve, lembrando que o projeto da refundação cisterciense “está agora a concretizar-se de outro modo e noutro lugar”. D. Manuel Quintas referia-se à comunidade trapista de Santa Maria Mãe da Igreja, em Palaçoulo, Miranda do Douro, na Diocese de Bragança-Miranda, cuja fundação explicou.
Lembrando que a consagrada quando deixou o Algarve “manifestou a disponibilidade para voltar”, o bispo diocesano justificou o seu regresso e o ingresso nas Carmelitas Descalças com o “apreço” que a irmã Miriam nutria pelas irmãs do Carmelo e por aquela comunidade carmelita “que frequentava e onde muitas vezes, particularmente nos anos em que estava sozinha, também vinha retemperar as forças” e, sobretudo, “saborear aquele espaço de contemplação, de oração e de silêncio”.

Por fim, o bispo do Algarve recordou que “celebrar as exéquias significa fazer memória da Páscoa de Cristo”. “A fé na ressurreição é a garantia da esperança que não engana”, realçou, acrescentando: “ao celebrarmos hoje a sua Páscoa, invocamos para ela a entrada no Reino de todos os bens, onde se encontra Aquele ao qual ela consagrou toda a sua vida. Estamos certos de que continuará, também agora no céu, a ter presente a nossa Igreja diocesana e cada um dos seus membros, particularmente esta sua comunidade do Carmelo. Que o testemunho da sua vida nos obtenha do Senhor da messe o dom de novas vocações ao sacerdócio, à vida consagrada, particularmente à vida contemplativa e à vida monástica”, concluiu.

A celebração contou com a presença de algumas das alunas da irmã Miriam, no tempo em foi professora, e uma delas leu um testemunho no final da Missa. A Eucaristia foi ainda concelebrada pelos padres Armindo Vaz e André de Santa Maria, da Ordem dos Carmelitas Descalços. Também pelos cónegos Carlos de Aquino e Rui Barros Guerreiro e pelos padres António Moitinho, capelão daquele Carmelo, Luís Gonzaga, Samuel Camacho e Vasco Figueirinha. A Missa contou ainda com o serviço do diácono Luís Galante. Presentes estiveram ainda muitas religiosas das várias congregações e institutos presentes no Algarve.
Como acontece com todas as carmelitas descalças, a irmã Miriam Clara de Jesus ficou sepultada no cemitério do próprio mosteiro carmelita.









