Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O bispo do Algarve diz que houve três aspetos que “pesaram muito” na sua decisão de querer ser padre.

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D. Manuel Quintas explica que esses “elementos que estiveram sempre presentes no desenvolvimento vocacional” foram a oração, a devoção a Nossa Senhora e o testemunho dos missionários italianos nos seminários que frequentou.

“Uma vida orante dá-nos a medida certa para cada situação em relação a nós mesmos e em relação aos outros porque nos dá o olhar de Deus”, afirmou no passado dia 2 de junho, na edição deste mês dos “Encontros no Silêncio” que a comunidade algarvia das Carmelitas Descalças tem vindo a promover com diversos testemunhos vocacionais.

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No encontro que teve, uma vez mais lugar no Carmelo de Nossa Senhora Rainha do Mundo, no Patacão, com a participação de cerca de 30 jovens, o convidado deste mês daquela iniciativa disse também verificar que “o tempo de maior adesão e vitalidade vocacional foi também tempo de maior intensidade na devoção a Nossa Senhora”.

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O prelado lembrou ainda que o testemunho dos missionários que passavam por Portugal na ida ou no regresso de Moçambique era algo “cativante”, sobretudo pela “alegria” e “entusiasmo” de “pessoas livres”. “Aquela sensação de liberdade de vida, vivida com gosto, com sabor, com alegria, isso é que foi contagiante para mim no sentido de querer também ir para lá”, contou aos jovens que participaram no encontro vocacional.

D. Manuel Quintas acrescentou também que para além do testemunho dos missionários foi igualmente muito cativado pelo testemunho das irmãs missionárias quando esteve em Moçambique. “O bem que elas faziam do ponto de vista social e da saúde, de apoio às mães, às famílias, aos bebés, foi profundamente contagiante e creio que foi isso que me levou, regressando, a continuar”, afirmou, lembrando a missão que realizou naquele país entre 1971 e 1973 como “desafio vocacional” para provar a si mesmo que aquele seria o caminho certo.

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Não obstante serem estes os três “denominadores comuns” da sua caminhada vocacional, D. Manuel Quintas considera que o levou a querer ser padre foi uma cantilena que lhe ensinaram umas religiosas espanholas que conheceu quando em criança esteve internado no Hospital da Prelada, no Porto. “Penso que está aí a raiz. Eu não tenho outra explicação”, referiu, lembrando a lengalenga que repetia a afirmação de querer ser padre.

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No quarto ano letivo teve uma professora que foi a intermediária no pedido para entrar no seminário que se concretizou no final daquele ano. “Inicialmente tive muita dificuldade nos estudos por duas razões. A primeira é porque os que vinham do interior não tinham a preparação daqueles que viviam em vilas ou cidades. A outra dificuldade é porque os professores não eram portugueses, eram italianos”, contou, lembrando que “era irreverente e muito traquina”. “Quando se começou a concretizar a minha entrada no seminário, mudei. A partir daí nunca mais falhei à missa”, acrescentou, lembrando que só depois de entrar descobriu tratar-se de um seminário missionário de religiosos, o que inicialmente originou “alguma pena” sua e dos familiares “por não [vir a] ser padre diocesano” e “não poder ficar perto” da sua aldeia.

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O bispo do Algarve disse que na altura “não sabia o que era ser dehoniano” ou Sacerdote do Sagrado Coração de Jesus, um instituto que gradualmente foi “apreciando” e o “foi cativando também pela sua dimensão espiritual”.

Dos 15 aos 18 anos, confrontado com as desistências de muitos colegas, teve de fazer opções. D. Manuel Quintas explica que teve de “fazer grupo com aqueles que queriam continuar”. O bispo do Algarve testemunhou que depois do ano de noviciado, quando em 1969 foi para Lisboa, aquele período do pós-concílio e da pré-revolução do 25 de Abril foi outro momento de perseverança no caminho vocacional. “Foi muito complicado para aqueles que estavam a caminho do sacerdócio e da vida consagrada. Foi muito complicado permanecer firme nesta opção de querer ser padre”, lembrou, acrescentando ter sido aí que pediu para ir para Moçambique fazer uma experiência missionária. “Esta experiência para mim foi marcante no que diz respeito a uma opção definitiva por este chamamento”, recordou, realçando sobretudo o testemunho missionário que recebeu.

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“Eu estava convencido que se não fosse padre e tivesse seguido outra vida não era um drama para mim. Só que eu concluí que seguindo esta vida encontraria uma felicidade e uma alegria maior porque a doação é mais plena e, sobretudo, mais universal”, explicou, acrescentando que sem aquela experiência “se calhar não tinha conseguido” manter-se no caminho rumo ao sacerdócio.

No verão de 1974, D. Manuel Quintas fez ainda uma experiência de trabalho numa fábrica de celulose em França com alguns colegas. “Foi uma experiência muito gratificante, sobretudo pelo contacto com os emigrantes”, recorda.

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O bispo diocesano disse que como padre, depois de ordenado em 1977, o “mais marcante” que viveu foi os nove anos que passou em Coimbra no seminário com jovens dos 15 aos 18 anos. “Foram anos muito gratificantes e que me deixaram mesmo boas recordações”, contou, lembrando que depois esteve dois anos em Roma a estudar Teologia da Vida Religiosa com o objetivo de ser mestre de noviços, serviço que abraçou nos três anos seguintes em Aveiro. Depois desses três anos foi Superior Provincial durante seis anos. “Aí pude matar saudades das missões porque todos os anos fui passar um mês com os missionários portugueses que estavam em Madagáscar e Moçambique”, relatou.

Depois desses seis anos foi nomeado bispo auxiliar para o Algarve, mas lembra que “ninguém tem vocação para bispo porque ser bispo não é vocação, é um serviço”.