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© Samuel Mendonça

A partir do gesto de Jesus de lavar os pés aos discípulos, que esta noite repetiu, o bispo do Algarve evidenciou que o “despir o manto” é o sinal que deve levar cristãos a «despirem-se» de tudo aquilo que os impede de servir os outros.

“Naturalmente que não é o «manto» exterior, mas o interior. São as nossas atitudes mesquinhas, egoístas, o individualismo, a competição em que tantas vezes os outros deixam de ser irmãos e passam a ser alguém com os quais temos de competir”, concretizou D. Manuel Quintas na Missa da Ceia do Senhor em que a Igreja celebra simultaneamente a instituição do sacerdócio e da eucaristia.

O prelado, que presidiu à celebração na Sé de Faro, pediu aos presentes que procurem “não esquecer esta lição de amor e de serviço que Jesus perpetua no tempo”, atualizada no gesto do lava-pés. “Devemos seguir Cristo também nestes gestos de doação e de entrega aos outros. E o serviço exprime-se de tantas maneiras”, afirmou, apontando alguns exemplos. “Também o silêncio é serviço quando é presença junto de alguém que não pode falar. O serviço exprime-se também no perdão, na paciência de uns com os outros, na capacidade de acolhimento daqueles com os quais temos mais dificuldade em nos relacionarmos. Tanta maneira e tanta forma de «lavarmos os pés» uns aos outros”, referiu, destacando a importância da dimensão da caridade para o cristão. “Sem a caridade, que dá autenticidade à própria eucaristia, corremos o risco de a própria eucaristia em que participamos ser apenas algo exterior para cumprir preceito que não muda a nossa vida e não nos transforma”, advertiu.

Referindo-se também à eucaristia, outra das três realidades explicitadas no gesto do lava-pés, o bispo diocesano lembrou que o sacramento “não é apenas memorial da Páscoa de Cristo”. “[A eucaristia] atualiza hoje aquilo que Cristo celebrou na Última Ceia e depois consumou no alto da cruz, mas é também realidade que nos projeta já na vida eterna. Por isso, esta noite celebramos o coração daquilo que somos como discípulos de Jesus e membros da Igreja, celebramos o nosso próprio coração”, frisou, lembrando uma expressão do Concílio Vaticano II. “Foi do lado aberto, ou seja, do coração de Cristo na cruz que nasceu a Igreja, a eucaristia, os sacramentos, o batismo”, afirmou, lembrando que “o próprio Espírito [Santo] está presente nesse sangue e nessa água que brotam do lado aberto de Cristo na cruz”.

“Nós nascemos verdadeiramente, não apenas na Última Ceia, mas também nessa «ceia pascal» na cruz em que Cristo se nos dá todo, não apenas nesse momento mas em cada eucaristia. Esta é a noite em que louvamos o Senhor pelo dom dos dons. Esta noite Ele dá-se a si mesmo. Quis ficar para sempre connosco na eucaristia”, complementou, evidenciando que “a eucaristia, o sacerdócio e a Igreja nasceram no cenáculo, na Última Ceia” e que “não se compreende o sacerdócio sem a referência à eucaristia”.

Neste sentido citou São João Paulo II, recordando que “só uma Igreja apaixonada pela eucaristia é geradora de vocações”. “Toda a espécie de serviços e ministérios na Igreja brota da eucaristia e tudo na eucaristia encontra a sua fonte e a sua força. A eucaristia é escola permanente de doação e serviço aos outros na própria comunidade cristã”, sustentou, acrescentando sem sacerdotes não há eucaristia. “É evidente que não há possibilidade de Jesus continuar presente no meio de nós na eucaristia sem sacerdotes, sem o dom daqueles que fazem com que Cristo continue vivo e presente no meio de nós através da celebração da eucaristia”, frisou.

A Missa Vespertina da Ceia do Senhor introduz na celebração do Tríduo Pascal, considerado o coração do ano litúrgico, o tempo particularmente significativo para toda a Igreja e para cada cristão pela celebração dos mistérios fundamentais da sua fé: a instituição da eucaristia e do sacerdócio, a paixão, morte e ressurreição de Jesus.

Como é hábito, no final da celebração o Santíssimo Sacramento foi levado em procissão e colocado em lugar de destaque no interior da catedral para veneração e adoração dos fiéis por só se voltar a celebrar a eucaristia na Vigília Pascal de Sábado Santo.

No dia de hoje, Sexta-feira Santa, aliturgico por ser o único do ano em que a Igreja não celebra a Eucaristia mas a paixão e morte de Jesus Cristo, imperam o silêncio, o jejum e a oração.

A celebração da tarde, centrada na adoração da cruz, nas igrejas com os altares desnudados desde a noite de ontem, é uma espécie de drama em três atos: proclamação da Palavra de Deus, apresentação e adoração da cruz, comunhão eucarística.

À noite será realizada a Procissão do Enterro do Senhor. Em Faro, a mais significativa do Algarve, decorrerá pelas 21h, presidida pelo bispo do Algarve, a partir da igreja da Misericórdia, percorrendo as principais ruas da baixa da capital algarvia.

Homilia de D. Manuel Quintas: