O bispo do Algarve pediu ontem, na Missa da solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, no santuário da «Mãe Soberana», em Loulé, que todos se empenhem na construção de “um novo horizonte de amor e de paz, de fraternidade e solidariedade, de apoio mútuo e acolhimento recíproco”.

“Empenhemo-nos todos de modo a avançar para um novo horizonte de amor e de paz, de fraternidade e solidariedade, de apoio mútuo e acolhimento recíproco que possa chegar a todos os lugares e a todos os povos, particularmente aqueles que são neste momento violentamente atacados por estas guerras que dizimam tudo e todos e fazem a morte de tantos inocentes”, apelou D. Manuel Quintas na Eucaristia a que presidiu, como é habitual no primeiro dia de cada novo ano, no principal santuário mariano do Algarve.

O bispo diocesano evocou a “paz tão necessária, sempre e particularmente neste tempo” atual. “A guerra significa sempre algo que nos envergonha, como diz tantas vezes o Papa, como seres humanos que somos. E, sobretudo, quando nos consideramos já a progredir muito, vemos que temos ainda muito que crescer, sobretudo em fraternidade humana a todos os níveis, para que não aconteçam as atrocidades que nos entram todos os dias em imagens na nossa casa”, afirmou, acrescentando que sem o “dom da paz” “não há progresso humano”, nem “harmonia interior e exterior”. “Não é possível progredir em ambiente de guerra. Uma guerra significa sempre retrocesso, um retrocesso civilizacional”, sustentou.

Na Eucaristia, em que se assinalou também o 57.º Dia Mundial da Paz, o responsável católico lembrou ser “sempre oportuno rezar” por aquele dom. “É sempre oportuno considerarmo-nos construtores, artífices da paz, começando no nosso coração e à nossa volta e, depois, dentro daquilo que nos for possível, ir alargando sempre mais o pedido e a construção deste dom”, referiu.

Referindo-se concretamente ao tema da mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz, “Inteligência Artificial e Paz”, D. Manuel Quintas admitiu que a nova era de desenvolvimento tecnológico possa ajudar. “Quando se pretendem estabelecer acordos de cessar-fogo e acabar mesmo com a guerra, chega a uma situação em que a inteligência humana não dá para mais. Pode ser que estas máquinas vão um bocadinho mais à frente com os dados que têm e ajudem a abrir caminhos de encontro”, afirmou, acrescentando: “o que desejamos é que o desenvolvimento de formas de inteligência artificial não aumente as desigualdades e injustiças no mundo, mas contribua para pôr fim às guerras e conflitos e para aliviar muitas formas de sofrimento que afligem a família humana”.
O bispo do Algarve destacou a inteligência artificial como “instrumento” que pode contribuir para o progresso. “Uma máquina não tem sentimentos, não é humana, não está aberta à dimensão da sensibilidade, do amor, daquilo que nos carateriza e define como pessoas, mas pode trazer grandes benefícios. E é, sobretudo, a partir desses benefícios que queremos acolher estas interrogações e este progresso que pode contribuir para construir a paz”, afirmou no santuário de Nossa Senhora da Piedade.

D. Manuel Quintas considerou “sugestivo” o tema escolhido pelo Papa para a sua mensagem deste ano que aconselhou a ler. “É oportuna porque nos ajuda a estar atentos a este tema com tudo aquilo que ele tem de bom no que diz respeito a novas conquistas nos campos da ciência, particularmente, da investigação que é feita para encontrar cura para tantas doenças para as quais não se consegue. É possível que este apoio possa ajudar a chegar mais longe e assim contribuir para o bem da humanidade, para o bem comum”, destacou, alertando ser possível que “esta mesma inteligência reverta em prejuízo da própria humanidade”. “É sempre assim. Aquilo que serve para fazer o bem também pode servir para fazer o mal desde que não seja utilizado sob critérios de verdade, de autenticidade, de humanidade”, advertiu.
A esse propósito contou que, levado por este tema, usou uma aplicação de inteligência artificial para lhe pedir que elaborasse uma homilia para aquele dia. “Fez num estantinho. No primeiro minuto já tinha quase uma página escrita. Claro que não me revi naquilo. Mas é interessante como podemos obter ajudas desde que haja critérios de verdade e de autenticidade, de certificação daquelas afirmações que são feitas”, testemunhou.

O bispo do Algarve referiu-se ainda ao sentido da bênção materna e paterna anual que procura quem ocorre àquele santuário no primeiro dia de cada ano. “É tão bom iniciar o novo ano abertos ao amor com que Deus nos ama, o que significa abertos também ao seu perdão, à sua bondade, à sua misericórdia. Sentimo-nos muito mais amparados, aconchegados, sob esta bênção paterna. Que caminhemos em cada dia deste novo ano sentindo-nos abençoados, amparados por Deus”, afirmou.
D. Manuel Quintas acrescentou que a bênção de Deus cria sempre um duplo dinamismo: por um lado “acolher esta bênção como dom, mas também partilhá-la com os outros”. “Não devemos sentir-nos apenas abençoados por Deus, mas também com predisposição de sermos uma bênção para os outros. Ter gestos que significam essa presença amorosa de Deus na nossa vida não são outra coisa senão partilharmos com os outros esta bênção que Deus nos concede neste primeiro dia e ao longo de todos os dias do ano”, explicou, referindo-se a “gestos solidários e fraternos”.

“Para que esta bênção de Deus se enraíze verdadeiramente na nossa vida temos de acolher a pessoa de Jesus, temos de crescer na identificação com ela, temos de nos fortalecer nela”, alertou, evocando ainda a proteção de Nossa Senhora da Piedade para este novo ano. “A Virgem Maria é sempre modelo de todo o crente que acolhe a bênção de Deus e colabora com Ele na realização deste projeto de salvação de Deus para toda a humanidade”, afirmou, pedindo aos algarvios que ao longo deste ano mantenham o “olhar fixo na Virgem Maria”. “Deixemo-nos conduzir, ao longo de todo este novo ano, particularmente pela Senhora da Piedade e nossa «Mãe Soberana»”, afirmou.
O bispo do Algarve regozijou-se ainda com a concelebração de D. António Carrilho, natural de Loulé, lembrando que o bispo emérito do Funchal celebrará este ano as suas bodas de prata episcopais. “Esperamos que o possa fazer entre nós para nos unirmos a ele no louvor a Deus por este dom que lhe concedeu e que ele pôs ao serviço da Igreja, particularmente da Igreja do Funchal”, afirmou D. Manuel Quintas na Missa concelebrada ainda pelo pároco de Loulé, cónego Carlos de Aquino, pelo reitor daquele santuário mariano, padre Carlos de Matos, e pelo antigo pároco daquelas paróquias, padre Henrique Varela, e servida pelo diácono Albino Martins.