
Lembrando que “celebrar o Natal em tempo de Ano Missionário significa, antes do mais, acolher Deus feito Menino como missionário do Pai”, o bispo do Algarve pediu ontem aos cristãos algarvios que sejam “missionários de Cristo e missionários dos valores do Natal”.


“Há muitas situações humanas impermeáveis aos valores do Natal a precisar de missionários de Cristo e do evangelho que Ele nos deixou”, afirmou D. Manuel Quintas na missa da solenidade do Natal a que presidiu ao meio dia e um quarto na Sé de Faro, tendo iniciado aquela celebração com o desejo de que ela se abrisse ao mundo. “Queremos que todo o mundo caiba nesta catedral, para que todo o mundo se abra ao amor de Deus, manifestado em Cristo”, afirmou.
“Confrontamo-nos, infelizmente cada dia, com situações que contradizem o quanto celebramos em tempo de Natal”, lamentou o prelado, enumerando algumas dessas realidades. “Depois de uma intervenção do nosso Presidente da República todos falamos em um milhão e 800 mil portugueses que continuam a viver em pobreza”, começou por observar, lembrando que o número é avançado pelo INE. “Conhecendo estas lacunas, estamos empenhados em eliminá-las”, garantiu.

D. Manuel Quintas não quis, no entanto, deixar de lembrar o “lado positivo”, que disse não se poder “escamotear”, com “o quanto bem se semeia no mundo de hoje”, nas cidades, nas famílias e em “tantas instituições” com a “promoção de tantas campanhas”. “É bom realçar isso também”, considerou.

“Saíram notícias nestes dias também sobre o tráfico humano, trabalhadores espoliados dos seus direitos, aos quais são retirados os documentos para melhor poderem ser explorados, melhor, escravizados como mão-de-obra barata, vivendo em condições desumanas e degradantes a nível de higiene, da alimentação, da assistência médica. Questionamo-nos como isso pode acontecer”, lamentou o bispo diocesano, sem esquecer “o outro lado” de “gente que trata bem os trabalhadores”.

O bispo do Algarve manifestou-se também em relação aos “filhos gerados com a finalidade de os vender para adoção”. “Outra notícia destes dias que nos deixa perplexos”, prosseguiu, realçando os “muitos pais e muitas mães, verdadeiros heróis, que tudo fazem para manter os seus filhos vivos e para superar doenças, contrariedades, obstáculos e tantas situações”.

D. Manuel Quintas não esqueceu ainda a “violência doméstica com as suas consequências”, lamentando que não se consiga “erradicar estas situações”, bem como a “sinistralidade rodoviária” com um “número crescente de acidentes, feridos graves e mortos, inclusivamente agora no Natal”. “Como pôr fim a isto? Isto é uma contradição do Natal, todas estas situações”, evidenciou, fazendo também uma referência aos “sem-abrigo” nas cidades e ao “abandono de idosos nos hospitais, nas suas casas”, entre “muitas outras situações”.

“Deixo a mim próprio e a cada um de vós este desafio e este apelo em dia de Natal: aprendamos com Maria a edificar uma Igreja que seja uma casa para muitos e uma mãe e para todos, como nos diz o papa Francisco”, apelou o bispo do Algarve, que iniciou a eucaristia lembrando que “celebrar o nascimento de Jesus” é celebrar o “mistério da encarnação”. “Queremos louvar o Senhor pela sua presença no meio de nós, por ter querido assumir a nossa condição humana e, de maneira particular, por nos abrir à sua condição divina”, afirmou.

D. Manuel Quintas lembrou que “a encarnação surge, assim, como o culminar da procura que Deus faz do homem, procura que se consuma com o assumir em Cristo a própria condição humana”. “Todavia, a encarnação do Verbo não se limita a um movimento descendente de Deus para a humanidade. Porque tem origem num Deus que é Pai, torna-se extensivo e inclusivo de todos os seus filhos. Deus fez-se homem para que toda a humanidade participe na vida divina. Deus estabeleceu a sua morada entre nós para que aprendamos que Deus é a nossa morada”, sustentou, exortando os cristãos a serem “discípulos missionários”, sentindo-se “enviados tal como Jesus o foi do Pai”, sendo “missionários também a partir do Natal e dos valores que esta ação de Deus em favor da humanidade sugere”.


