A atividade regional de comemoração do Dia de São Paulo, patrono de Caminheiros e Companheiros, (escuteiros dos 18 aos 22 anos, respetivamente dos ramos terrestre e marítimo, pertencentes à IVª secção) dos agrupamentos algarvios do Corpo Nacional de Escutas (CNE), ficou marcada no passado fim de semana pela proposta a conhecer melhor a história e a tradição laboral do Algarve.



Nesse sentido, os escuteiros foram convidados em Olhão a mergulhar no modo de vida tradicional dos algarvios e a perceber qual o caminho que percorreram até chegarem à era atual tão marcada pela revolução tecnológica. À reportagem do Folha do Domingo, a responsável da atividade, pertencente ao Departamento Regional da IVª Secção da Junta Regional do Algarve do CNE que promoveu a iniciativa em colaboração com o Agrupamento 554 de Olhão, explicou que a mesma decorreu na sequência do Encontro Regional de Caminheiros e Companheiros de novembro passado que procurou iniciar a valorização da componente humanitária e de surgimento de um “homem novo” e da consequente “marca que pretende deixar neste mundo”.



Vanda Brazona referiu que a atividade, inspirada nas três principais viagens de São Paulo, procurou contribuir para uma “transformação” interior dos próprios participantes. “Queremos criar com isto uma juventude nova, pessoas novas, com um grande coração, que estejam sempre dispostos a ajudar os outros”, concretizou aquela dirigente na ação de sensibilização que fez parte do programa da atividade e que consistiu na entrega de cabazes de alimentos a famílias necessitadas que teve lugar no armazém Gil Eanes.



A entrega dos alimentos foi feita ao fim da manhã de sábado pela Junta de Freguesia de Olhão, parceira da Câmara Municipal para a área social e que serve de intermediária na ajuda direta a cerca de 30 famílias. “Eles sabem que a vida nem sempre corre como gostaríamos e não sabem o dia de amanhã. Um dia podem ser eles a precisar e a faixa etária deles dedica-se mesmo ao serviço ao próximo e à compreensão de todos os problemas que possam existir na vida”, acrescentou a chefe escutista.




Vanda Brazona explicou naquele momento que a atividade regional comemorativa do Dia de São Paulo procurou levar os participantes a “fazer parte da vida das pessoas” daquela terra para “perceberem como vivem”, a conhecerem “o maior número de artes e ofícios”, de forma a que esse conhecimento possa vir a enriquecer o seu futuro.




O presidente da Junta de Freguesia de Olhão exortou mesmo os escuteiros a lembrarem-se futuramente da lição aprendida naquela ocasião. “Se um dia a vida vos encaminhar para alguma posição em que possam ajudar os outros, ajudem, sejam vocês próprios porque as pessoas querem que sejamos aquilo que somos. Se tentarmos ser outra pessoa, as pessoas notam”, advertiu Rui Gabriel, alertando os escuteiros que qualquer um pode ficar um dia na situação de precisar de ajuda.





A atividade regional de comemoração do Dia de São Paulo que contou com 80 participantes, dos quais 61 Caminheiros e Companheiros e 19 dirigentes (incluindo sete pertencentes à equipa da organização), teve início na sexta-feira, 02 de fevereiro, no polidesportivo de Quelfes.




Após o check in e a divisão por sete grupos (clãs), os escuteiros iniciaram a “primeira viagem de São Paulo”, um raide noturno de cerca de quatro quilómetros com dois percursos diferentes. Dois clãs dirigiram-se para a zona do Brejo e os restantes para a cidade de Olhão, tendo chegado aos respetivos locais de pernoita por volta das 01h30 de sábado.



A caminhada com três dinâmicas, todas ligadas ao conhecimento da história de cada um, incluiu um objeto pedido a cada participante e ligado à sua história. Esses objetos foram trocados durante o raide numa dinâmica que levou à descoberta dos seus proprietários na última parte do raide.
No sábado de manhã, os escuteiros foram então levados na “segunda viagem de São Paulo” para conhecerem as artes e os ofícios mais enraizados na subsistência e na tradição dos algarvios. A apanha do atum e as artes de pesca, a empreita, a padaria e a pastelaria foram as escolhidas.




Os clãs madrugaram para visitar a Tunipex, empresa de pesca de tunídeos onde puderam aprender a elaborar artes de pesca; duas padeiras particulares, onde aprenderam a amassar e cozer pão; a Kubidoce, para aprenderem o fabrico de doçaria tradicional; e dois artesãos locais, um ligado à construção de murejonas, armadilha de pesca para a captura de polvo, mucharras, safios, choupas, sarguete, entre outras espécies, e outra à produção de empreita, a arte de entrançar de tiras ripadas de folha da palmeira-anã que permite a elaboração de diversos objetos para o acondicionamento e transporte de bens, trabalhos do campo, artes da pesca ou arrumos e asseio da casa.




Ao início da tarde de sábado decorreu a abertura oficial da atividade no largo do município com a presença das autoridades locais e de seguida viagem até à ilha da Culatra para a montagem de campo. Ali realizaram o tradicional fogo de conselho e foram introduzidos na “terceira viagem de São Paulo” que no dia seguinte que lhes permitiu interagirem com os habitantes da ilha. Essa dinâmica, em que tiveram de descobrir a peça de um puzzle, levo-os a visitar sete casas e a ouvir as histórias dos seus moradores.




No domingo participaram ainda na celebração da Eucaristia, presidida pelo assistente regional, o padre Rui Fernandes, e foram desafiados à “quarta viagem com São Paulo” que os desafiou à “transformação” pessoal no regresso a Olhão.




O CNE, fundado em 1932 no Algarve pelo cónego José Augusto Vieira Falé, conta atualmente com 34 agrupamentos num total de mais 2.000 elementos.



